Uma das mais belas pinturas de Vincent van Gogh, 'Lírios' é lembrada por muitos por suas flores azuis brilhantes — mas originalmente elas não eram assim
Éric Moreira Publicado em 27/11/2024, às 12h03 - Atualizado às 14h20
Um dos artistas mais famosos de todos os tempos — mesmo que só tenha ficado conhecido depois de sua morte —, o holandês Vincent van Gogh é responsável por obras como 'A Noite Estrelada', 'Amendoeira em Flor', 'Os Girassóis' e 'Lírios'. Esta última, ele criou depois que foi internado em um hospital psiquiátrico na França, em maio de 1889, pintando algumas flores que observava no jardim.
Essa obra em questão sempre foi bastante famosa, com o emblemático estilo artístico de van Gogh representando belas flores azuis brilhante; porém, mais de 100 anos depois da morte do artista, foi descoberto que originalmente as flores eram, na verdade, roxas.
Em comunicado, o diretor do Museu Getty, Timothy Potts, comentou: "Durante anos, quisemos realizar uma pesquisa sobre nossa 'Lírios' de van Gogh, uma pintura que está sempre em exibição no Getty. O fechamento do museu durante a pandemia de Covid proporcionou uma oportunidade de trazer a pintura para o estúdio para uma extensa pesquisa e análise".
E foi assim que os pesquisadores descobriram que, originalmente, os famosos lírios de van Gogh eram roxos. Para a tonalidade, o pintor misturou dois pigmentos, um azul e um vermelho bastante popular no fim do século 19, conhecido como lago de gerânio. Porém, esse pigmento era bastante sensível à luz, por isso desbotou rapidamente com o tempo, tornando a tonalidade das flores exclusivamente azul.
Além dessa revelação "invisível", os pesquisadores também encontraram, durante as análises, uma pequena área danificada da pintura em uma das flores que, após removerem uma camada superior de tinta azul, revelou a tinta roxa preservada por baixo. "Pudemos ver o roxo original de van Gogh pela primeira vez em 130 anos", afirma a química Catherine Patterson em comunicado.
Por fim, vale mencionar ainda que os pesquisadores do museu Getty visitaram o hospital em que van Gogh estava internado quando criou 'Lírios', e encontraram, nos jardins, arbustos floridos com belos lírios violetas, bastante semelhantes aos da pintura — e que, inclusive, tinha amostras de pólen nas fibras da pintura, sugerindo que ela foi pintada ao ar livre.
A visita me fez parar e pensar em van Gogh como um cientista, como um observador, como alguém que faz parte de um ecossistema, colocando na tela o que ele estava vendo e experimentando", comenta Patterson.
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Conforme repercute a Super Interessante, a suspeita sobre a possível cor roxa das flores surgiu a partir dos próprios escritos de van Gogh. Na época em que entrou no hospital, em 1889, após uma fase bastante conturbada em sua saúde mental que o levou até mesmo a arrancar sua orelha esquerda, ele escreveu uma carta a seu irmão, Theo, que trabalhava em duas obras — uma das quais seria 'Lírios'.
Na carta, o pintor mostrou-se otimista quanto a decisão de se internar, pontuando que "pouco a pouco posso considerar a loucura como uma doença como qualquer outra". Em seguida, ele comentou sobre as pinturas em que trabalhava, que retratava "lírios violeta e um arbusto lilás [...]. Dois temas tirados do jardim".
Quando viu a obra pela primeira vez, Theo, que era um negociante de arte — e basicamente o maior apoio de van Gogh — disse que ficou impressionado com a criação do irmão. "Ela impressiona os olhos de longe. É um belo estudo cheio de ar e vida", escreveu em carta.
Foi Theo, inclusive, quem apresentou a pintura ao Salon des Indépendants, em Paris, no fim daquele ano; e ela chamou atenção especialmente do crítico de arte francês Octave Mirbeau, um dos primeiros apoiadores de van Gogh, que escreveu que o pintor neozelandês "entendeu bem a natureza requintada das flores".
Eventualmente, van Gogh deixou o hospital psiquiátrico, em maio de 1890, e mudou-se para o vilarejo de Auvers-sur-Oise, no norte da França. Porém, não demorou para que sua saúde declinasse mais uma vez e, em 29 de julho de 1890, o pintor se matou com um tiro no peito, segundo as teorias mais aceitas.
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