Salvador Allende, ex-presidente chileno - Getty Images
Chile

Ex-CIA revela como agência contribuiu para golpe contra Allende

O presidente chileno Salvador Allende caiu após golpe militar em 1973, que perpetuou o sanguinário Augusto Pinochet por quase duas décadas no poder

Fabio Previdelli Publicado em 06/08/2024, às 10h20

Em 11 de setembro de 1973, um golpe de Estado derrubou Salvador Allende, presidente chileno eleito democraticamente no país. Durante 19 anos, o general Augusto Pinochet impôs uma ditadura sangrenta no Chile

Na madrugada daquele dia, aliás, dois agentes da CIA fizeram plantão na capital do país, nos escritórios da agência, esperando os desdobramentos do golpe. Apesar do que se dizia na época, porém, os Estados Unidos não orquestraram diretamente a queda de Allende — apesar de terem criado todas as condições para que isso acontecesse. 

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Quem conta essa história é o ex-agente da CIA, Jack Devine, um dos que estiveram de plantão naquele dia. Bastidores do golpe de Estado contra Allende foram contados pelo próprio Devine na última edição da revista americana de política internacional Foreign Affairs.

Segundo o ex-agente, conforme repercutido pela Folha, a CIA já havia fracassado em impedir que Allende tomasse posse em 1970. Na época, a ação teria sido um pedido direto do então presidente Richard Nixon. Sendo assim, três anos depois, a agência recuou para evitar um novo revés. 

Aquela altura, conforme relatado por Devine, a CIA já sabia que os militares mais velhos estavam armando uma conspiração para supostamente impedirem o avanço do comunismo no país. 

Mortes e patrocínio 

Embora as revelações não sejam tão inéditas assim, visto que documentos da época já tiveram seu sigilo quebrado e o próprio ex-agente já havia escrito um artigo sobre o tema para a mesma revista em 2014, Devine relatou que nas quatro primeiras semanas, a ditadura de Pinochet matou mais de 1.600 pessoas

Ele ainda explicou que a CIA esteve por trás de muitas iniciativas para desestabilizar o governo de Allende, como a histórica greve dos caminhoneiros em outubro de 1972, que deixou o país todo sem combustível. O movimento, inclusive, foi o estopim para diversas outras paralisações. 

Os norte-americanos também teriam dado, num período de dois anos, cerca de dois milhões de dólares ao jornal El Mercurio, o mais tradicional do país e ferrenho opositor de Allende. O ex-agente, porém, aponta que a CIA não palpitava sobre a linha editorial do veículo — e nem precisava, visto que El Mercurio defendia os interesses do mercado e estava alinhado com as visões dos EUA. 

Outra iniciativa apoiada pela agência, essa contada com certo orgulho por Jack Devine no artigo, foi o incentivo da classe média chilena contra Allende. Certa vez, o ex-agente relata ter sido procurado por uma dona de casa, de certa idade, pedindo apoio para orquestrar um protesto contra o encarecimento do custo de vida e a falta de alimentos básico em supermercados. 

Devine conta que ofereceu "algumas centenas de dólares" para a mulher comprar panelas, que foram distribuídas para outras donas de casa que saíram às ruas promovendo o popular panelaço. 

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