Reconstrução facial de Jan Žižka - Divulgação/Cicero Moraes
Arqueologia

Brasileiro rebate críticas à reconstrução facial de herói nacional tcheco

Arqueólogos da República Tcheca teceram críticas à precisão científica utilizada pelo designer Cicero Moraes na reconstrução do rosto de Jan Žižka

Luiza Lopes Publicado em 16/10/2024, às 18h00

Em uma matéria publicada pelo portal INFO.CZ assinada por Marek Kerles, os arqueólogos Dr. David Novák e Dr. Jaromír Beneš forneceram duras críticas ao trabalho do brasileiro Cicero Moraes, especialista em reconstruções faciais 3D.

Eles questionam a precisão científica da técnica utilizada na reconstrução do rosto de Jan Žižka, um dos mais importantes comandantes militares da história europeia, sugerindo que a metodologia carece de credibilidade e rigidez científica.

Como explica o estudo, o rosto foi elaborado por meio da reconstrução facial forense (RFF), também conhecida como aproximação facial forense (AFF), que possibilita reconstituir a aparência de uma figura histórica a partir de seu crânio. O processo inicial consistiu na projeção das linhas essenciais do crânio. Em seguida, utilizando a caixa craniana de um doador, a imagem foi transformada em um modelo tridimensional.

Por meio da técnica de deformação anatômica, a estrutura craniana foi ajustada para refletir as características do guerreiro. A face básica, então, passou por um processo de escultura digital, durante o qual foram adicionadas marcas de expressão compatíveis com a idade de Žižka, além da cicatriz do ferimento no olho esquerdo, cabelo, sobrancelhas, bigode e barba.

Para exibição em museus, a face e os olhos receberam pigmentação baseada na média facial de homens adultos tchecos, obtida por meio de composições de imagem em plataformas de busca. Por fim, o vestuário foi modelado de acordo com a iconografia atribuída ao personagem histórico, informou o estudo. 

Etapas iniciais da aproximação facial / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes
Etapas finais da aproximação facial / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes

Críticas

Segundo Novák, a equipe de Moraes não teria apresentado dados suficientes para validar a reconstrução, afirmando que o método não suportaria uma oposição científica séria. O arqueólogo também criticou o fato de o crânio de Žižka não estar inteiro, o que, em sua visão, comprometeria a precisão da modelagem facial.

Além disso, Beneš acusa o trabalho de Moraes de ser "populista", sugerindo que o timing das publicações — próximo de aniversários ou datas históricas — seria uma forma de atrair a atenção do público em detrimento da precisão científica. 

Beneš também alegou que as reconstruções baseadas em crânios incompletos poderiam resultar em milhares de variantes possíveis, e que apresentar uma delas como a "real" seria enganoso e prejudicial para a ciência.

Reconstrução facial de Jan Žižka / Crédito: Divulgação/Cicero Moraes

 

Defesa

Em resposta publicada no site ReseachGate e enviada ao site Aventuras na História, Moraes rebateu as críticas de ambos os arqueólogos, defendendo a metodologia utilizada e a legitimidade científica de seu trabalho.

Ele lembra que a técnica foi publicada em uma revista científica revisada por pares, o que, segundo ele, já atesta a seriedade da pesquisa. Moraes também critica o que ele considera uma falta de leitura atenta por parte de Novák, afirmando que o passo a passo da reconstrução, incluindo recursos como videoaulas, foi devidamente documentado e disponibilizado.

Em relação ao crânio fragmentado de Žižka, o designer afirma que a técnica de aproximação facial permite ajustar qualquer desalinhamento e que o material disponível possibilita uma reconstrução precisa da estrutura do rosto.

Ele também refuta a acusação de 'populismo' feita por Beneš, argumentando que outras reconstruções faciais, como as de Dante Alighieri, também foram publicadas em datas simbólicas, o que não desqualifica o valor científico do trabalho.

Além disso, Moraes cita casos em que suas técnicas foram usadas com sucesso em investigações policiais e publicadas em periódicos científicos internacionais, evidenciando a aplicabilidade e credibilidade de suas reconstruções faciais. Ele ainda critica o uso de exemplos distorcidos, como a menção ao arqueólogo egípcio Zahi Hawass, cujas críticas também foram refutadas publicamente.

“A falta de conhecimento dos doutores em relação às metodologias utilizadas é evidente, incluindo o desconhecimento das publicações revisadas por pares e, além disso, um uso vexatório de exemplos que apenas reforçam a coerência desta refutação pública”, diz no texto.

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