Arquitetura barroca era deixada incompleta para pagar menos à coroa Portuguesa
Rodrigo Gallo Publicado em 27/06/2019, às 07h00
O famoso jeitinho brasileiro já era usado para resolver questões financeiras no século 18. Durante o apogeu do movimento barroco, diversas igrejas foram construídas Brasil afora com apenas uma torre – em vez das duas previstas pelas medidas estéticas barrocas e legislação da época.
Uma das explicações é que o governo português considerava os templos com duas torres concluídos – e cobrava altos impostos dos capelães. Assim, com apenas uma torre, eles alegavam que a igreja estava em fase de construção.
Embora essa seja a versão mais aceita, alguns historiadores apontam outras duas razões. Uma delas é que templos maiores, com duas torres, custavam muito caro para os padrões das cidades. Outra é estética. "Boa parte delas foi construída já no início do movimento rococó, que tem características mais simples", afirma a diretora de patrimônio histórico de Diamantina, Verônica Motta.
A torre da igreja Nossa Senhora do Carmo, em Diamantina, também é envolta em polêmica. O campanário do sino foi construído na parte da frente do templo, em meados do século 18, a pedido do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Após uma reforma, porém, foi levado para os fundos da igreja.
Os historiadores apontam duas versões para explicar o fato. Uma delas, é que a antiga torre foi derrubada e outra colocada na parte de trás porque o barulho do sino atrapalhava Chica da Silva, filha de uma escrava com um branco que se casou com o contratador.
A outra explicação dá conta de que a torre teria sido deslocada para os fundos da igreja para que Chica da Silva pudesse frequentar as missas. Na época, a lei não permitia que os negros "fossem além das torres" dentro das igrejas. Com a estrutura reconstruída nos fundos do templo, ela poderia até se sentar nos primeiros bancos e ficar em frente ao padre, que mesmo assim não estaria infringindo a legislação.
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