A cangaceira foi a primeira mulher a integrar o grupo e abriu espaço para que outras fizessem o mesmo
Redação Publicado em 28/09/2020, às 16h00 - Atualizado em 31/01/2023, às 12h48
1. Pioneira das mulheres no cangaço
Maria Bonita, como foi apelidada pela imprensa após seu falecimento, foi a primeira cangaceira — o que deu abertura para outros grupos de cangaço recrutarem mulheres em suas jornadas. Rompendo com tradições regionais, essas moças largavam suas residências e tinham a oportunidade de se desligar de alguns hábitos impostos ao gênero feminino naquela época
No entanto, apesar da abertura feita por ela em sua iniciativa a tornar-se parte do bando, nem todas iam para o cangaço por opção; muitas, após serem raptadas e estupradas, eram forçadas a acompanhar as jornadas das quadrilhas.
"Não havia ali o que nós hoje chamamos de sororidade, as mulheres não se apoiavam. No cangaço, havia um código de conduta que era extremamente machista. As mulheres não podiam trair seus companheiros, mesmo que eles não tivessem sido escolhidos por elas, porque algumas eram raptadas. A Lídia, mulher do cangaceiro Zé Baiano, morreu apedrejada porque foi flagrada cometendo adultério. Não há nenhum registro de que as mulheres intervieram em favor dela. Claro que a gente tem que compreender que a situação não era fácil. Cobrar uma postura feminista delas naquele ambiente me parece que é exigir demais", explicou ao O Globo Adriana Negreiros, autora do livro Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço.
Maria se adaptou ao código de conduta machista do cangaço. Embora tenha impedido Lampião de matar muitas pessoas, ela chegou a ajudar a torturar algumas das vítimas de seu companheiro — por vezes, ela arrancava os brincos das mulheres até rasgar seus lóbulos — ela apoiava fortemente o assassinato mulheres adúlteras.
Lampião e Maria Bonita tiveram uma filha em 1932, de nome Expedita. Como de costume no cangaço, foi necessário decidir o destino da criança.
Como não queriam que a menina crescesse na bandidagem, ela foi entregue a um aliado do Rei do Cangaço para que ela tivesse como tutor o tio João Ferreira. Isso tudo ocorreu no maior sigilo e o caso foi tratado como uma espécie de Segredo de Estado.
Maria de Déa andava pelo sertão com as mais diversas joias, que, na época, eram as mais caras de toda a região. Essa riqueza devia-se aos roubos feitos por Lampião em muitas residências, as quais saqueava frequentemente.
Em uma mão, a cangaceira carregava anéis em todos os dedos; na outra, empunhava um revólver Colt calibre 38, conforme repercutido pelo UOL em 2018. Seu punhal de estimação tinha 32 cm e era feito de prata, marfim e ônix, demonstrando o poder que exercia no Nordeste junto com seu parceiro Lampião.
Dadá foi heroína, guerreira, e única mulher a portar um fuzil no bando de Lampião — que chegou a liderar. E, com Corisco, seu parceiro, resistiu por mais dois anos até o brutal fim da gangue, nas mãos da polícia. Um ícone da rebeldia do cangaço.
Ela dizia que Maria Bonita era “abusada, ranzinza, orgulhosa, metida a besta, barulhenta e arrumadinha feito uma boneca”.
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