Durante a década de 1970, o Brasil passou por uma grave epidemia de meningite que deixou milhares de mortos
Redação Publicado em 19/01/2021, às 15h51
Na década de 1970, uma grave epidemia de meningite ocorreu no Brasil. Era época da ditadura e os militares se prontificaram a ocultar dados e perseguir a quem tentava alertar a população acerca da doença.
Assim como o presente momento, no qual o país vive uma pandemia de covid-19, houve na época uma superlotação dos hospitais, além de que inúmeras pessoas perderam a vida.
Pensando nisso, separamos algumas curiosidades sobre o episódio que marcou a história do país.
1. Gravidade
De acordo com o UOL, em matéria de 2020, um documento de 1974 encontrado no Arquivo Nacional revela que o governo tinha total conhecimento de que havia uma epidemia de meningite no Brasil.
Nele, o SNI (Serviço Nacional de Informações), dirigindo-se ao general Ernesto Geisel, presidente do país à época, comunica que um surto de meningite teria ocorrido em Osasco e, posteriormente, atingido outras regiões.
"Sabe-se de sobejo que o alastramento do mal encontra campo propício nos aglomerados populacionais, nos ambientes de pouca higiene e na estação invernal. Nessas condições a cidade de São Paulo é um meio ambiente ideal, sabendo-se que a cidade não é servida de esgotos em dois terços de sua área e 50% da população não é servida por rede de água," diz o texto.
"Acresce dizer que o clima de São Paulo, frio e úmido, no inverno, concorre, juntamente com e enorme população, de forma decisiva para o desenvolvimento epidêmico", continua.
2. Campanha eleitoral
O mesmo informe afirma que sem as devidas medidas preventivas em São Paulo, "pode-se prever que anualmente a cidade será atormentada pela incidência dessa doença".
Contudo, havia algo que preocupava ainda mais os militares: o impacto da epidemia nas eleições. Assim, como o próprio autor do documento diz, caso a população tivesse acesso à informação, haveria "reflexos negativos no curso da campanha eleitoral".
Por fim, o texto afirma que o momento político do país, que passava pelo chamado "milagre econômico" poderia ser desestabilizado pela oposição, o que causaria problemas.
3. Censura
A ditadura censurou veículos de comunicação, impedindo que dados fossem divulgados, e perseguiu até mesmo aqueles que tentassem alertar a população. Um documento que confirma a existência de censura na época é um radiograma do dia 30 de julho 1974.
Foi neste episódio que Moacyr Coelho, que na época atuava como diretor da Polícia Federal, tomou uma decisão quanto a divulgação de dados sobre o episódio. Para ele, tudo deveria ser proibido.
Em outro episódio, ocorrido no mesmo ano, Coelho passa a permitir a divulgação de notícias sobre a doença, mas chama atenção para "dados e notícias tendenciosas que alarmem a população".
4. O período
O UOL também entrevistou a médica, professora e pesquisadora aposentada Lia Giraldo da Silva Augusto. Segundo ela, a epidemia se mostrava grave desde 1971 e teve seu pico em 1974.
Na época, ela havia acabado de se formar na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, e em 1974 concluiu o curso atuando no Hospital Emílio Ribas. Ela afirma que em setembro daquele ano, 1.200 pessoas foram internadas, sendo que a capacidade máxima era de 300.
5. Dados incertos
Não se sabe ao certo quantas pessoas tiveram contato com a doença, nem quantas vidas foram perdidas. Conforme informou a BBC Brasil, o estudo "A Doença Meningocócica em São Paulo no Século XX: Características Epidemiológicas", de José Cássio de Moraes e Rita Barradas Barata, divulgou que, entre os anos de 1971 e 1976, foram registrados 19,9 mil casos de meningite e 1.600 óbitos pela doença.
Já o jornal O Globo informou em sua edição do dia 30 de dezembro de 1974 que, somente naquele ano, 111 pessoas haviam morrido no Rio Grande do Sul, 304 no Rio de Janeiro e 2.500 mil em São Paulo. Certamente, o número real seria muito maior devido à censura e subnotificação dos casos.
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