O "menino de ouro" foi mumificado há 2.300 anos no Egito, junto de 49 amuletos de proteção para guiá-lo na jornada da vida após a morte; confira!
Publicado em 28/11/2024, às 19h00
Em 1916, arqueólogos encontraram um antigo cemitério egípcio chamado Nag el-Hassay, no sul do atual Egito, onde descobriram milhares de corpos surpreendentemente bem preservados, muitos ainda dentro de seus caixões originais. Usado principalmente entre 332 a.C. e 30 a.C., o local foi escavado nos anos que se seguiram, e as várias descobertas ali feitas foram encaminhadas ao Museu Egípcio, no Cairo.
Durante muito tempo, as múmias ali encontradas permaneceram sem exames aprofundados, e ficaram armazenadas no porão do museu. Afinal, mesmo que os pesquisadores quisessem analisar os achados para entender mais sobre a saúde humana da época, além dos rituais de morte dos antigos egípcios, era muito fácil que eles fossem danificados no processo de desembrulhar os restos mortais.
Mas graças a tecnologias mais recentes, foi possível que os pesquisadores utilizassem tomografias computadorizadas para entender o que havia por debaixo dos envoltórios, mesmo sem os remover, preservando assim as múmias. E foi nesse contexto que, em 2023, descobriram uma em específico que ficou conhecida como "menino de ouro". Relembre a pesquisa!
Conforme repercute a CNN, o "menino de ouro" foi um adolescente egípcio que morreu com entre 14 e 15 anos, e foi enterrado há 2.300 anos no antigo cemitério. Seus restos mortais foram armazenados dentro de dois caixões aninhados: o externo era mais simples, e tinha inscrições com letras gregas, enquanto o interno era de madeira e tinha padrões e um rosto dourado.
Porém, o que rendeu o apelido de "menino de ouro" foi que, na tomografia computadorizada, os pesquisadores encontraram 49 amuletos junto dos restos mortais, com 21 designs diferentes. Entre eles, destacavam-se uma língua dourada, depositada na boca do jovem, e um escaravelho dourado em forma de coração em seu peito.
Isso sem mencionar que também usava uma máscara de cabeça dourada incrustada com pedras, e uma cobertura protetora chamada cartonnage em seu rosto. Seus órgãos também foram todos removidos no processo de mumificação, exceto pelo seu coração; e seu cérebro, segundo estudo publicado na Frontiers in Medicine, foi substituído por resina.
As crenças dos antigos egípcios diziam que, após a morte, outra vida os aguardava; porém, para chegar lá, eles precisariam enfrentar uma difícil jornada pelo submundo. Por isso, o embalsamamento dos cadáveres era feito, para que o corpo se preservasse para a nova vida, e os sepultamentos eram cheios de rituais e amuletos que auxiliariam na jornada.
E o "menino de ouro" em questão estava bem preparado para a viagem. "Aqui mostramos que o corpo desta múmia foi extensivamente decorado com 49 amuletos, lindamente estilizados em um arranjo único de três colunas entre as dobras dos envoltórios e dentro da cavidade corporal da múmia", descreve o autor do estudo, Dr. Sahar Saleem, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Cairo, em declaração.
"Estes incluem o Olho de Hórus, o escaravelho, o amuleto akhet do horizonte, a placenta, o Nó de Ísis e outros. Muitos eram feitos de ouro, enquanto alguns eram feitos de pedras semipreciosas, argila cozida ou faiança. Seu propósito era proteger o corpo e dar-lhe vitalidade na vida após a morte", complementa o professor.
Vale mencionar também que ele foi sepultado com sandálias brancas, e tinha seu corpo coberto por samambaias:
"As sandálias provavelmente eram para permitir que o menino saísse do caixão. De acordo com o ritual do Livro dos Mortos dos antigos egípcios, o falecido tinha que usar sandálias brancas para ser piedoso e limpo antes de recitar seus versos", explica Saleem. "Os antigos egípcios eram fascinados por plantas e flores e acreditavam que elas possuíam efeitos sagrados e simbólicos. Buquês de plantas e flores eram colocados ao lado do falecido na hora do enterro".
Os exames realizados na múmia não puderam concluir qual a causa da morte do "menino de ouro", mas apontaram que ele era um jovem com 1,28 metro de altura, um rosto oval, nariz pequeno e queixo estreito.
Até hoje, sua identidade é desconhecida, mas o fato de apresentar boa higiene dental, além da alta qualidade de sua mumificação e dos amuletos encontrados, sugerem que ele era alguma figura de alto status econômico.
Segundo a CNN, o amuleto de língua dourada encontrado em sua boca servia, com base nas tradições egípcias, para ajudá-lo a se comunicar na vida após a morte; o nó de Ísis simbolizava que a deusa, uma das principais divindades egípcias, protegeria seu corpo; outros amuletos de falcões e plumas de avestruz, por sua vez, eram representações de aspectos espirituais e materiais da vida.
Outro amuleto curioso, com o formato de dois dedos, o indicador e o médio da mão direita, estava posicionado em seu rosto inferior, para proteger a incisão de seu embalsamamento. E provavelmente aquele com significado mais profundo, para ajudá-lo no submundo, era o escaravelho dourado:
"O escaravelho-coração é mencionado no capítulo 30 do Livro dos Mortos: era importante na vida após a morte durante o julgamento do falecido e a pesagem do coração contra a pena da deusa Maat", pontua Saleem. "O escaravelho-coração silenciava o coração no Dia do Julgamento, para não dar testemunho contra o falecido. Ele era colocado dentro da cavidade do tronco durante a mumificação para substituir o coração se o corpo fosse privado deste órgão".
Agora, o "menino de ouro" pode ser visto por aqueles que visitarem o Museu Egípcio no Cairo, cercado por imagens das tomografias computadorizadas que revelam o conteúdo dentro do sarcófago, além de uma cópia em 3D do escaravelho.