'Procurados - EUA: O.J. Simpson', que estreia nesta quarta, 29, na Netflix, reexamina aquele que ficou conhecido como 'O Julgamento do Século'
Um duplo assassinato. O Ford Bronco branco. As luvas ensanguentadas. Discussões raciais. Um ex-astro da NFL. Não por acaso, quando O.J. Simpson esteve no banco dos réus, seu caso ficou conhecido como 'julgamento do século'.
Em 1995, O.J. foi julgado pelo assassinato de sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e de seu amigo, Ronald Goldman. Ao todo, o processo de tribunal demorou oito meses, como todos os procedimentos acompanhados por câmeras de televisão. O resultado chocou a todos.
Agora, três décadas depois, o diretor Floyd Russ reexamina o caso em 'Procurados - EUA: O.J. Simpson', nova minissérie documental da Netflix, dividida em quatro episódios, que estreia nesta quarta-feira, 29, no catálogo da plataforma de streaming.
Esta é uma história que tem tantos rostos e tantos elementos que, quando você a contextualiza historicamente, ela assume uma nova forma a cada poucos anos", diz Russ ao Tudum, da Netflix.
Confirma abaixo 5 fatos sobre o caso O.J. Simpson que você precisa saber antes de assistir a nova produção da Netflix!
Na noite de 12 de junho de 1994, Nicole Brown Simpson e Ron Goldman foram encontrados brutalmente assassinados, do lado de fora da casa onde a ex-esposa de O.J. vivia, em Los Angeles.
Quando a polícia foi em busca de Simpson, nas primeiras horas do dia seguinte, devido ao seu histórico contra sua antiga companheira, eles foram surpreendidos ao encontrarem sangue no Ford Bronco branco de O.J. e uma luva ensanguentada em seu jardim — que combinava com outra que havia sido encontrada no local do crime.
Enquanto isso, porém, o ex-atleta já havia deixado a cidade em uma viagem de última hora. Mas quando foi informado das mortes, O.J. teve que retornara à Los Angeles para passar por horas de interrogação.
Após receberem um mandado de busca na casa de Simpson, os agentes identificaram mais vestígios de sangue. O ex-jogador da NFL foi prontamente identificado como principal suspeito pelos crimes.
O.J. e Nicole se casaram em fevereiro de 1985 e juntos tiveram dois filhos: Sydney e Justin. O casal, porém, se divorciou em 1993, meses antes do duplo homicídio.
Na série da Netflix, o policial aposentado Ron Shipp recorda que quando Simpson foi detido, os agentes pediram para ele ser submetido ao detector de mentiras; algo que não agrava muito o ex-atleta.
Ele me disse que não queria aceitar. E eu perguntei: 'Por quê?'. E ele disse que era porque ele tinha sonhos de matá-la", recorda.
O caso logo ganhou uma enorme repercussão da mídia, principalmente pelos acontecimentos do dia 17 de janeiro de 1994, recorda o The Independent. Naquela data, 95 milhões de americanos assistiram pela televisão O.J sentado no banco de trás de seu Ford Bronco enquanto se iniciava uma perseguição policial por Los Angeles.
O veículo era conduzido pelo amigo de Simpson, Al Cowlings, enquanto o ex-atleta mantinha uma arma apontada para sua têmpora — ameaçando acabar com sua própria vida.
Eu tive uma ótima vida, ótimos amigos", escreveu O.J. em uma carta, que muitos acreditavam ser uma nota de suicídio, pouco antes dele partir no Bronco. "Por favor, pense no verdadeiro O.J. e não nessa pessoa perdida".
Uma hora depois, porém, a perseguição terminou com Simpson se entregando às autoridades.
Quando o julgamento de O.J começou, em novembro de 1994, os Estados Unidos ainda enfrentava a reverberação de um caso extremamente midiático: o primeiro julgamento de Erik e Lyle Menendez, acusados pelo assassinato de seus pais, que terminou sem um veredicto.
O caso de O.J., porém, foi o primeiro a ser exibido na televisão, trazendo muitos mais debates à tona: fama e riqueza; violência doméstica; racismo estrutural… A América consumia cada vez mais o episódio, com a televisão sendo enxurrada pelo assunto.
De um lado, os promotores apontavam Simpson como um ex-marido ciumento e um assassino a sangue-frio, tentando derrubar seu carisma como ator e seu status de estrela do futebol americano.
Além disso, eles também tinha evidências que pareciam fatais contra O.J.: como pegadas ensanguentadas na cena do crime que condiziam com o tamanho de seu pé; as gotas de sangue que combinavam com seu DNA; as já citadas luvas — que desempenharam um papel importante no caso.
Porém, naquela época, a ciência da análise forense ainda engatinhava e muitos erros foram cometidos pelos polícias durante as investigações iniciais e o manuseio de evidências. Além disso, as supostas luvas de O.J. também não serviram em suas mãos quando foi pedido que o ex-jogador as colocassem.
"E a luva não serve, vocês devem absolver!", declarou um dos advogados de O.J., Johnnie L. Cochran Jr., aos jurados.
Por outro lado, a defesa de Simpson dizia que ele fora incriminado pelos polícias racistas de Los Angeles. O ex-detetive da polícia, Mark Fuhrman, aliás, foi acusado de ter proferido insultos raciais contra negros e de ter plantado provas contra O.J.. A defesa até chegou a mostrar gravações com provas contra Mark, que se declarou culpado pelo crime de perjúrio.
A derrocada de Fuhrman foi essencial para o caso, visto que foi o então detetive que havia encontrado a luva ensanguentada na casa de Simpson — ou a plantou, como alguns alegaram. Mark se tornou uma figura pouco confiável, cujo passado pesava muito contra sua figura. Os jurados compraram essa ideia.
Assim, em 3 de outubro de 1995, após apenas quatro horas de deliberação, Simpson foi absolvido das acusações de assassinato. A decisão dividiu a opinião pública, com muitos questionando a imparcialidade do julgamento e o papel da discussão racial no resultado.
Passado o julgamento, O.J. Simpson tentou levar uma vida normal, mas a família de Ron Goldman ainda ansiava por Justiça. Acreditando que o ex-atleta era culpado, eles entraram com uma ação por homicídio culposo contra ele.
O The Independent recorda que, durante um julgamento civil, um júri considerou o ex-atleta como responsável pelos crimes e ordenou que ele pagasse US$ 33,5 milhões em danos aos Goldmans e à família de Nicole Brown Simpson. A quantia, porém, gerou um enorme imbróglio judicial.
Em 2007, O.J. foi preso em Las Vegas depois dele e outros homens terem invadido um quarto de hotel e levados itens de memorabília. Na ocasião, Simpson alegou que os itens haviam sido roubados dele após seu julgamento.
Mas ele acabou sendo preso por assalto à mão armada e outros crimes, sendo enviado a uma prisão de Nevada, onde ficou detido por nove anos. O.J. foi solto em liberdade condicional em outubro de 2017.
Lutando contra um câncer de próstata metastático, O.J. Simpson morreu em 10 de abril de 2024, aos 76 anos. Dois meses depois, o FBI divulgou 475 páginas de documentos focados principalmente na investigação dos assassinatos de 1994.
Os documentos incluíam detalhes sobre sangue encontrado na cena do crime, amostras de fibras, amostras de cabelo de ambas as vítimas e outras evidências forenses.
'Procurados - EUA: O.J. Simpson' apresenta novas entrevistas com os principais envolvidos e testemunhas da época dos assassinatos. O diretor Floyd Russ (que também dirigiu 'Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston' e 'Untold: Briga na NBA') aponta que busca levar a história de Simpson para uma nova geração, oferecendo uma nova perspectiva sobre o julgamento histórico.
Entre os entrevistados estão o já citado Mark Fuhrman e também Kato Kaelin, que foi a "última pessoa a ver O.J. antes dos assassinatos", conforme ele mesmo se define à produção.
O minidocumentário também contará com depoimentos da irmã de Ron Goldman, Kim Goldman, que compartilha a dor de perder um parente tão próximo. Ela ainda relembra a noite em que Ron foi morto, além das consequências dos assassinatos.
Meu irmão estava devolvendo os óculos de Nicole", ela diz no documentário, chorando antes de continuar, "e foi massacrado até a morte".
Os advogados de defesa e acusação, Carl Douglas e Christopher Darden, também são entrevistados. "As emoções deles evoluíram, e a maneira como eles conseguem falar sobre isso é diferente de tudo o que já fizeram antes", encerra Russ.