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Matérias / História

Lady Jane Grey: A tragédia da rainha de 9 dias da Inglaterra

Durante menos de 10 dias, a jovem Lady Jane Grey, de apenas 16 anos, foi nomeada rainha inglesa — a primeira mulher no trono — e decapitada

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 07/07/2024, às 11h00

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Antigo retrato representando Lady Jane Grey - Domínio Público via Wikimedia Commons
Antigo retrato representando Lady Jane Grey - Domínio Público via Wikimedia Commons

Mesmo que o atual rei britânico seja Charles III, é inegável que uma figura que marcou muito mais a monarquia seja sua mãe, Elizabeth II, que foi rainha durante 70 anos. Ela, entretanto, não é a única mulher que se destacou como monarca.

Embora não seja considerada a primeira rainha legítima do Reino Unido pela História, uma jovem de apenas 16 anos foi protagonista de uma enorme tragédia há meio século, que começou com sua seleção para suceder o trono, e se tornar, assim, a primeira mulher como rainha legítima do reino: Lady Jane Grey.

Não listada entre os monarcas oficiais ingleses, ela teve sua história quase que despercebida na longa e complexa trama da dinastia Tudor. Afinal, não é à toa que Grey seja chamada de "rainha dos nove dias". Entenda sua história!

Lady Jane Grey / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Separação da igreja

Antes de compreender a história de Jane Grey, é preciso voltar um pouco mais no tempo, até um dos reis mais controversos e conhecidos da Inglaterra, o segundo monarca da dinastia Tudor, Henrique VIII, que governou entre 1509 e 1547.

Recém-coroado, Henrique VIII casou-se com a espanhola Catarina de Aragão. Porém, tentando gerar um herdeiro, ela sofreu de um aborto espontâneo, e depois até conseguiu gerar um bebê, que morreu pouco após o nascimento. Por fim, ela deu à luz a uma menina, que seria chamada de Maria.

Porém, Henrique VIII queria um filho menino para que pudesse sucedê-lo como monarca. Visto que Catarina já não poderia mais ter filhos, o rei decidiu se divorciar, repercute a BBC.

Henrique VIII / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Acontece que foi a partir dessa ideia que Henrique VIII se envolveu em uma série de desentendimentos com a Igreja Católica, que acarretou eventual separação das relações da coroa britânica com o papa, em 1553. Assim, iniciou-se a revolução religiosa que abriu portas para o evangelismo protestante surgir por ali.

Após isso, vale mencionar que Henrique VIII ainda teve um breve casamento com Ana Bolena, com quem teve outra filha, Elizabeth. Ainda se casou com Joana Seymour, com quem teve um filho homem: Eduardo.

Eduardo VI

Após a morte de Henrique VIII, em 1547, Eduardo recebeu o título de Eduardo VI, tornando-se assim o rei da Inglaterra. Porém, ele tinha apenas nove anos. Assim, não podia exercer o poder sozinho.

Por essa razão, foi formado um conselho de regência, para auxiliar no governo, formado por 16 membros e liderados pelo Lorde Protetor Eduardo Seymour, duque de Somerset.

Eduardo VI / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Sob a regência de Seymour, a Inglaterra passou por uma série de reformas, sendo, com certeza, a mais importante a da igreja. Com o decorrer dos anos, Eduardo VI tornou-se aquele que seria considerado o primeiro governante inglês de religião protestante.

Porém, algum tempo depois, Seymour foi substituído no cargo por John Dudley, conde de Warwick, que iniciou uma perseguição ao catolicismo na Inglaterra, prendendo e até mesmo queimando na fogueira seus seguidores. Aqui, o cenário da Inglaterra já era extremamente caótico.

Acontece que, mesmo que tenha esperado para que pudesse se tornar rei, Eduardo VI tinha uma saúde bastante frágil. Em 1553, quando começou a sofrer do que é descrito como um forte resfriado — que muitos acreditam ter sido, na verdade, tuberculose —, ele começou a planejar quem o sucederia, depois que falecesse; o que aconteceu naquele mesmo ano.

Nova esperança

Foi assim que Eduardo VI, que tinha apenas 16 anos e nenhum herdeiro ou irmão do sexo masculino, decidiu por eleger uma mulher como herdeira do trono: a jovem Lady Jane Grey. Ela era sua prima de segundo grau — sua avó era irmã de Henrique VIII — e era casada com Guilford Dudley, filho de John Dudley. O mais importante: era uma protestante fervorosa.

No caso, como havia se aberto uma brecha para que mulheres governassem, muitos alegavam que a coroa deveria ser redirecionada à primeira filha de Henrique VIII, Maria Tudor. Porém, ela foi considerada uma filha ilegítima do rei, assim como Elizabeth, e também era extremamente católica, enquanto Eduardo queria assegurar o legado protestante.

Após a morte de Eduardo, em julho de 1553, Jane Grey começou a ser preparada para subir ao trono. Filha de Henrique Grey, duque de Suffolk, ela nasceu no outono de 1537, mesmo ano que Eduardo VI, e tinha cerca de dez anos quando ingressou na casa de Catarina Parr, a última esposa de Henrique VIII, onde foi exposta ao ambiente acadêmico e fortemente protestante.

'Lady Jane Grey', de Andries Scheerboom / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

No decorrer dos anos, Jane Grey se mostrou cada vez mais uma mulher inteligente e piedosa, além de contar com grande aceitação nas esferas de poder. Por isso, apenas quatro dias após a morte do rei, ela foi proclamada rainha.

Com isso, ela se mostrou uma figura bastante transformadora para a coroa inglesa, sendo a primeira mulher a recebê-la diretamente em toda a história. No entanto, ainda havia quem não aprovasse sua ascensão: Maria Tudor, a primeira filha de Henrique VIII.

Maria Tudor

Quando Maria soube que seu meio-irmão, o rei, estava prestes a morrer, ela reuniu-se com partidários que, da mesma forma que ela, queriam restaurar o catolicismo no Reino Unido.

Ela, de fato, conseguiu o que queria: a coroa que considerava sua por direito, e entrou definitivamente para a História como a primeira monarca de direito do sexo feminino na Inglaterra: Maria I — historicamente, Jane não possui esse reconhecimento.

Maria Tudor (rainha Maria I) / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Em julho de 1553, Maria encarcerou Jane Grey na Torre de Londres, acusando-a de traição e de tentar usurpar o trono. Embora hoje entenda-se que ela era inocente, a verdade é que a possibilidade de ela liderar uma revolta protestante já era um "perigo inaceitável" para Maria I.

Não bastasse isso, Maria anunciou que se casaria com o então príncipe Felipe da Espanha (que se tornaria Felipe II), planejando aproximar ainda mais a Inglaterra da extremamente católica Espanha.

Isso, por si só, desencadeou uma grande revolta, que convenceu a rainha de que Jane era um risco ao seu reinado; assim, ela determinou que a jovem deveria ser executada.

Em 12 de fevereiro de 1554, Jane Grey e seu marido foram decapitados. O seu pai teve o mesmo destino em seguida. Ela tinha apenas 16 anos, e foi responsável por um dos reinados mais breves da história.

Quadro 'Execução de Lady Jane Grey', de Paul Delaroche / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Consequências finais

Embora o catolicismo tenha se restabelecido no trono inglês, Maria Inão conseguiu impedir uma forte onda de reforma religiosa em seu reinado. Assim, depois de sua morte, em 1558, sua outra meia-irmã, Elizabeth — a segunda filha de Henrique VIII — assumiu o trono, ocupando-o por 44 anos, entre 1558 e 1603.

Nomeada como Elizabeth I, ela teve como principal objetivo de reinado a pacificação do país. Para tanto, eliminou, novamente, o catolicismo do topo da monarquia, mas sem necessariamente alinhar a coroa ao movimento protestante europeu. 

Elizabeth I, a Rainha Virgem / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Foi assim que ela então criou uma nova linha religiosa, específica para os ingleses, fundando em 1559 a Igreja da Inglaterra, comandada até hoje pelo ocupante do trono. Elizabeth I faleceu em 1603, e com ela a dinastia Tudor encontrou seu fim.