Em 15 de novembro de 1889, há 135 anos, a Monarquia foi derrubada por um golpe militar, dando origem à República do Brasil
Em 15 de novembro de 1889, há 135 anos, a monarquia foi derrubada por um golpe militar, dando origem à República do Brasil.
Segundo a historiadora Emília Viotti da Costa em “Monarquia à República: Momentos Decisivos”, o movimento foi impulsionado pela convergência de três forças: uma parte do Exército, fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes médias urbanas, que, para alcançar seus objetivos, se beneficiaram indiretamente do desprestígio da Monarquia e do enfraquecimento das oligarquias tradicionais.
A ideia de uma “proclamação” pacífica e inevitável da República ainda é alvo de debates entre historiadores. O cientista social Celso Castro defende no livro “A Proclamação da República” que, apesar de não ter havido grande resistência no dia do golpe, ocorreram revoltas em várias partes do Brasil nos dias seguintes, protagonizadas por soldados e militares de baixa patente, que foram reprimidas e censuradas.
Para Castro, esses episódios mostram que não havia consenso nacional sobre a mudança e que a República não tinha apoio majoritário, nem entre a população, nem entre os militares.
Embora o Partido Republicano tivesse algum crescimento, especialmente no Rio Grande do Sul e São Paulo, sua força eleitoral era limitada e o partido estava dividido, com disputas internas sobre a conveniência de se aliar aos militares para um golpe, explicou o cientista social.
A escolha do dia 15 de novembro de 1889 para a Proclamação da República não foi uma decisão estratégica ou planejada com antecedência. Inicialmente, o golpe estava programado para o dia 20 de novembro, mas uma série de acontecimentos precipitaram o ocorrido.
Na noite de 14 de novembro, começou a circular no Rio de Janeiro a falsa notícia de que Deodoro da Fonseca, um dos principais líderes militares do movimento, havia sido preso. Isto gerou pânico entre os republicanos, que temiam uma reação do governo, e acelerou a decisão de agir. Como resultado, o movimento golpista foi adiantado para o dia 15 de novembro, segundo Costa.
Além disso, a organização do golpe também foi improvisada. O planejamento militar não contou com as figuras centrais como Deodoro e Benjamin Constant de forma coordenada.
Deodoro estava seriamente doente e não era a primeira escolha para liderar o movimento. Assim, segundo Castro, a falta de uma liderança clara e uma estratégia definida foi um dos fatores que caracterizou o golpe como uma ação desorganizada e sem um consenso entre os conspiradores.
De acordo com a historiadora Mary Del Priore, a família imperial brasileira recebeu a notícia na madrugada de 16 de novembro, e não ofereceu resistência. Na ocasião, estavam reunidos D. Pedro II e sua esposa Teresa Cristina, além da princesa Isabel, Conde d'Eu e os filhos D. Pedro de Alcântara, D. Luís e D. Antônio Gastão. Também estava presente Pedro Augusto, filho mais velho da falecida Leopoldina.
Eles foram surpreendidos. Os soldados começaram a bater à porta, às duas horas da manhã, enquanto todos estavam vestidos de camisolas, dormindo, completamente despreparados. Então, realmente, deve ter sido dramático", conta Priore ao Aventuras na História.
Ela também explica que o imperador, D. Pedro II, "não quis fazer absolutamente nada, a não ser designar um ministro odiado, o Deodoro da Fonseca", sugerindo que a falta de ação do monarca foi decisiva para o desfecho da noite.
Naquele mesmo dia, a família imperial foi informada de que deveria deixar o país. Eles tiveram apenas algumas horas para se preparar. Sob uma chuva intensa, a família seguiu para França e Império Austro-Húngaro, embarcando a bordo do navio “Sergipe”.
A escritora também relembra que, na época, grandes golpes republicanos estavam ocorrendo por toda a Europa. "Em 1917, nós vamos ver um pouco adiante a família do czar da Rússia completamente dizimada. Havia muito terrorismo anarquista. Então, óbvio que tudo isso pairava como um fantasma", afirma.
Em 1890, o governo republicano sancionou a Lei do Banimento, que proibiu formalmente a presença dos membros no país. O decreto exilou a família de D. Pedro II e determinou a perda de seus direitos políticos, consolidando a nova ordem republicana.