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Matérias / Eleições

Cacareco: O que aconteceu com o rinoceronte que recebeu 100 mil votos em SP?

Cansados dos políticos da época, paulistanos decidiram votar em rinoceronte como protesto; animal recebeu mais votos do que os outros 450 candidatos

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 06/10/2024, às 08h00

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Cacareco, o vereador animal - Divulgação/ALESP
Cacareco, o vereador animal - Divulgação/ALESP

Neste domingo, 6, acontecem as eleições para escolher prefeitos e vereadores nas cidades brasileiras. Estima-se que mais de 155 milhões de brasileiros irão às urnas em todo o país. A votação começa às 8 horas da manhã, seguindo o horário de Brasília. 

Em São Paulo, a disputa pela prefeitura está intensa, mas há pouco mais de 60 anos, um candidato era unanime entre grande parte dos paulistanos. Tudo bem que ele 'concorreu' a outro cargo, mesmo assim, foi um feito enorme para um… rinoceronte. Conheça a história de Cacareco! 

+ Lula x Collor: Relembre o histórico debate nas eleições de 1989

A trajetória de Cacareco

Embora tenha sido eleito em São Paulo, o rinoceronte Cacareco — ou melhor, a rinoceronte, já que Cacareco era fêmea — nasceu em cativeiro no Rio de Janeiro, em 1954. No entanto, ela foi emprestada para a inauguração do Zoológico de São Paulo, que abriu suas portas quatro anos depois. 

No dia da inauguração do Zoo, Cacareco foi a grande atração e destaque do evento; sendo o animal mais procurado pelas cerca de 200 pessoas que estiveram na cerimônia de abertura. 

Segundo relembra o g1, a popularidade de Cacareco era tamanha que o então governador Jânio Quadros, que mais tarde se tornaria presidente do Brasil, reconheceu que, "com o cartaz que está, Cacareco seria um forte candidato aos Campos Elíseos" — fazendo uma referência a região onde fica sede do governo do estado. 

Vote em Cacareco

A saga de Cacareco na política começou por conta do jornalista Itaboraí Martins, que trabalhava no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1959, ele promoveu a candidatura da rinoceronte a vereador como uma forma de protesto da população — insatisfeita com os políticos da época. 

Conforme informações da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a campanha eleitoral de Cacareco era simples: sua candidatura divulgada em pichações em muros e em programas de debates da televisão. 

A população 'abraçou' Cacareco de tal maneira que até mesmo alguns santinhos com o nome do animal foram impressos. Cacareco ganhou até mesmo um jingle político

Cansados de tanto sofrer, 
E de levar peteleco,
Vamos agora responder,
Votando no Cacareco".

A campanha foi tão eficiente que Cacareco acabou sendo 'eleita', pelo menos em tese. Naquela época, o Tribunal Regional Eleitoral não divulgou o número oficial de votos recebidos pela rinoceronte, mas estima-se que tenha sido cerca de 100 mil. 

Cédulas com votos para Cacareco - Arquivo público

Para se ter uma ideia, 1.120.000 eleitores estavam aptos a votar na capital — o que representaria pouco menos de 10% dos votos. No entanto, naquelas eleições, 934.794 pessoas compareceram às urnas (o que aumentaria muito essa porcentagem). 

O número de votos recebidos por Cacareco foi maior do que dos outros 450 candidatos às 45 cadeiras da câmara dos vereadores. A rinoceronte era tão popular que até mesmo em outras cidades do interior, como em Marília, mais de 440 quilômetros da capital, ela recebeu votos. 

O destino de Cacareco

Obviamente Cacareco não ocupou um das vagas para ser vereador de São Paulo. Naquela época, aponta o g1, o secretário da agricultura do governo do estado, José Bonifácio Coutinho Nogueira, tentou comprar o animal para o Zoo de SP, mas Cacareco acabou voltando para o rio em 1º de outubro — curiosamente dias antes das eleições. 

Por lá, ficou até o fim de sua vida. Ela faleceu aos oito anos, em dezembro de 1962. Posteriormente, seu esqueleto foi enviado ao Museu de Anatomia da USP, em São Paulo.