Centro a ser inaugurado na Escócia será um ambiente supervisionado onde dependentes químicos poderão injetar drogas adquiridas em outros locais
O Reino Unido se prepara para inaugurar seu primeiro centro oficial de consumo de drogas na cidade de Glasgow, na Escócia, onde as substâncias continuam sendo ilegais. A abertura do centro, inicialmente prevista para o início do ano, foi adiada devido a reformas no prédio, mas agora está programada para ocorrer dentro de um mês, conforme informações do jornal The Guardian.
A proposta do centro foi apresentada pela primeira vez em 2016, após um surto de HIV na cidade, mas enfrentou anos de impasses políticos entre o governo escocês e o Reino Unido. Sob a liderança do Partido Conservador, o Ministério do Interior britânico bloqueou repetidamente a iniciativa, alegando que violaria a Lei de Uso Indevido de Drogas de 1971.
No entanto, o projeto ganhou viabilidade após o advogado-geral da Escócia emitir uma declaração oficial afirmando que não seria de interesse público processar os usuários do local por posse de drogas.
O atual governo britânico, liderado pelo Partido Trabalhista, declarou ao Guardian que, embora não tenha planos de alterar as leis sobre drogas no Reino Unido, está comprometido com medidas preventivas de saúde pública para abordar questões como o uso indevido de substâncias e ajudar as pessoas a viverem vidas mais saudáveis.
De acordo com o portal de notícias O Globo, o centro será um ambiente supervisionado onde pessoas dependentes poderão injetar drogas adquiridas em outros lugares, sob a supervisão de profissionais de saúde e assistência social treinados. Segundo a autoridade de saúde e assistência social de Glasgow, o objetivo é minimizar os impactos negativos do consumo ao ar livre, reduzir os danos aos indivíduos e facilitar o acesso a tratamentos e suporte para melhora de suas vidas.
Funcionando todos os dias do ano, das 9h às 21h, o centro estará próximo de áreas conhecidas pelo consumo de drogas na cidade. Além de diminuir riscos como infecções, overdose e contaminação por doenças, o espaço oferecerá encaminhamento para outros serviços de saúde.
"A lógica é bem simples, injetar drogas em locais públicos é perigoso porque é extremamente anti-higiênico e pode levar a infecções, ferimentos e, em alguns casos, à morte. Há também o risco ambiental do lixo relacionado a drogas, como agulhas e seringas, em locais onde as pessoas vivem e trabalham. Ter uma sala move esses riscos das ruas para um ambiente controlado, limpo e seguro para todos", explicou Andrew McAuley, professor de Saúde Pública da Universidade Caledonian de Glasgow e consultor do NHS, ao Guardian.
A iniciativa surge em meio a preocupações crescentes com as altas taxas de mortalidade por drogas na Escócia. Em 2023, o país registrou 1.172 mortes por overdose, uma taxa de 277 óbitos por milhão de pessoas entre 15 e 64 anos, a mais alta da Europa, segundo dados da Agência de Drogas da União Europeia. Quase um quarto das mortes ocorreu em Glasgow.