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Notícias / Arqueologia

Mandíbula misteriosa revela presença de Denisovanos em Taiwan

Análise de proteínas de ponta identifica fóssil de hominídeo extinto, expandindo o conhecimento sobre a dispersão dos denisovanos

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 10/04/2025, às 16h40

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Uma fotografia do lado direito do maxilar inferior do Penghu 1 - Divulgação/Science/Yousuke Kaifu
Uma fotografia do lado direito do maxilar inferior do Penghu 1 - Divulgação/Science/Yousuke Kaifu

Uma mandíbula humana fossilizada, descoberta na costa de Taiwan no início dos anos 2000, finalmente teve sua identidade revelada por uma nova pesquisa.

Utilizando uma técnica inovadora de análise de proteínas antigas (paleoproteômica), cientistas determinaram que o espécime não pertence nem ao Homo sapiens nem aos neandertais, mas sim aos denisovanos, um grupo de hominídeos extintos que coexistiu com nossos ancestrais e os neandertais na Ásia durante o Pleistoceno.

A mandíbula, conhecida como Penghu 1, foi encontrada por um pescador no fundo do Canal de Penghu, a cerca de 25 quilômetros da costa oeste de Taiwan. Desde sua descoberta, paleoantropólogos debatiam se o robusto maxilar com dentes grandes seria de um Homo erectus, um Homo sapiens arcaico ou um denisovano.

Os denisovanos são um "primo" extinto dos neandertais e dos humanos modernos, dos quais se tem principalmente informações genéticas, já que poucos fósseis foram encontrados, a maioria deles na Caverna Denisova, na Sibéria.

Essa escassez de evidências físicas dificulta a identificação de novos esqueletos denisovanos e a compreensão de sua distribuição geográfica e relação com outras espécies humanas.

Análise

O novo estudo, publicado na revista Science, empregou a paleoproteômica para analisar as proteínas preservadas na mandíbula de Penghu 1. A equipe internacional de pesquisadores, liderada por Frido Welker, antropólogo molecular da Universidade de Copenhague, conseguiu demonstrar que o indivíduo era do sexo masculino e que seu perfil de aminoácidos e proteínas era significativamente mais semelhante ao dos denisovanos do que a outras espécies de hominídeos.

A mesma técnica pode e está sendo usada para estudar outros fósseis de hominídeos para determinar se eles também são denisovanos, neandertais ou outras populações de hominídeos", explicou Welker à Live Science.

Sheela Athreya, antropóloga biológica da Universidade Texas A&M, que não participou do estudo, comentou à Live Science que "este estudo confirma o que sempre inferimos — que houve presença de hominídeos na maior parte da Eurásia oriental ao longo do Pleistoceno".

Segundo o 'Live Science', uma limitação da pesquisa é a impossibilidade de datar precisamente a mandíbula de Penghu 1 por métodos tradicionais, como a datação por carbono-14 ou urânio, devido ao longo período em que o espécime ficou submerso. Tentativas de extrair DNA também falharam.

Ossos de animais encontrados junto à mandíbula sugerem uma possível janela de tempo entre 10.000 e 190.000 anos atrás. Se a datação mais recente estiver correta, Penghu 1 poderia ser o fóssil denisovano mais jovem já encontrado, superando o espécime de 40.000 anos achado no Planalto Tibetano.

Apesar da incerteza na datação exata, a identificação de Penghu 1 como denisovano revela que esse grupo estava amplamente distribuído pela Ásia, desde as frias estepes siberianas até as regiões quentes e úmidas como Taiwan.

Os pesquisadores destacam que essa descoberta indica a coexistência de dois grupos distintos de hominídeos na Eurásia durante o final do Pleistoceno Médio e início do Pleistoceno Superior: os neandertais, com dentes pequenos e mandíbulas altas e graciosas, e os denisovanos, com dentes grandes e mandíbulas baixas e robustas.

Futuro

Essa nova compreensão da diversidade e evolução do gênero Homo abre caminho para futuras pesquisas. Os cientistas planejam utilizar a paleoproteômica para identificar outros fósseis de hominídeos arcaicos encontrados na Ásia, o que pode trazer ainda mais luz sobre a história da nossa linhagem.

"O resultado significativo deste trabalho é que podemos fazer muito mais com fósseis até então sem comprovação encontrados em canais e leitos de rios na Ásia", celebrou Athreya.