Novo estudo aponta que planeta gigante foi sugado após anos de órbita decrescente; evento pode antecipar o futuro do Sistema Solar
Pela primeira vez, astrônomos observaram diretamente uma estrela engolindo um planeta. A cena, registrada em 2020 com o auxílio do Telescópio Espacial James Webb, foi analisada em profundidade em um novo estudo publicado na última quinta-feira, 10, na revista The Astrophysical Journal. Os dados revelam detalhes surpreendentes sobre um fenômeno cósmico raro, ocorrido a cerca de 12 mil anos-luz da Terra, dentro da Via Láctea.
O evento, batizado de ZTF SLRN-2020, foi inicialmente detectado por um clarão de luz visível captado pelo Zwicky Transient Facility, no Observatório Palomar (EUA). Na época, os cientistas levantaram a hipótese de que o brilho intenso teria sido causado por uma estrela semelhante ao Sol engolindo um planeta do tamanho de Júpiter.
No entanto, a nova análise, conduzida por pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL), indica uma dinâmica diferente. Utilizando os instrumentos MIRI e NIRSpec do telescópio James Webb, a equipe descobriu que a estrela envolvida era menos brilhante do que o Sol, o que enfraquece a tese de uma expansão repentina como causa da destruição do planeta.
"O que vemos agora é a trajetória de um planeta que já orbitava muito próximo da estrela, e cuja órbita foi decaindo gradualmente ao longo de milhões de anos", explicou Morgan MacLeod, astrofísico do Centro Harvard-Smithsonian. "Quando o planeta começou a tocar a atmosfera da estrela, o processo se tornou irreversível".
À medida que mergulhava no astro, o planeta começou a se fragmentar, espalhando-se em torno da estrela em forma de gás e poeira. Parte desse material formou um disco circunstelar quente, observado nas novas medições feitas pelo James Webb, mais próximo da estrela do que os modelos anteriores previam. Essa estrutura gaseosa é uma das marcas que confirmam o evento de "engolimento planetário".
Segundo a 'Revista Galileu', essa foi a primeira vez que cientistas conseguiram observar todas as fases do fenômeno — do brilho inicial ao comportamento da estrela após o impacto. Para Ryan Lau, autor principal do novo artigo e pesquisador do NSF NOIRLab, este é apenas o começo de uma nova etapa nas pesquisas sobre o ciclo de vida planetário.
Estamos no limiar de um novo campo de estudo. Este é o único evento desse tipo que conseguimos registrar em tempo real, e é a detecção mais clara das consequências do engolimento de um planeta", afirmou no artigo.
Os pesquisadores agora trabalham para identificar fenômenos semelhantes em outras regiões da galáxia. A expectativa é que, com o avanço de projetos como o Observatório Vera C. Rubin e o Telescópio Nancy Grace Roman, mais casos como o ZTF SLRN-2020 venham à tona, ampliando a compreensão sobre o destino final de sistemas planetários, inclusive o nosso.
"Em cerca de 5 bilhões de anos, o Sol também iniciará um processo de transição semelhante. Observar o que acontece com outras estrelas pode nos oferecer um vislumbre do futuro da Terra", destacou o comunicado da NASA.