Análise genética revoluciona a compreensão sobre a vida e a morte na antiga cidade romana atingida pela erupção do Vesúvio
Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 07/11/2024, às 18h05 - Atualizado às 18h13
A erupção do Vesúvio, em 79 d.C., soterrou a próspera cidade de Pompeia, preservando para a posteridade o cenário vida romana. Por séculos, os arqueólogos vêm desvendando os mistérios dessa tragédia, reconstruindo as últimas horas de seus habitantes com base nas posições dos corpos e nos objetos encontrados.
No entanto, um novo estudo, publicado na revista Current Biology, revela que muitas das histórias já contadas sobre as vítimas de Pompeia seriam equivocadas.
Graças a avanços nas técnicas de extração e análise de DNA, pesquisadores conseguiram sequenciar o genoma de alguns indivíduos preservados nas cinzas vulcânicas.
"É a primeira vez que é possível extrair material genético de moldes de gesso", disse David Caramelli, antropólogo da Universidade de Florença, no estudo.
A descoberta inovadora permitiu aos cientistas traçar um perfil genético mais preciso das vítimas, revelando informações sobre seu sexo, ascendência e parentesco, com resultados surpreendentes.
Várias das interpretações anteriores, baseadas em suposições sobre papéis de gênero e relações familiares, mostraram-se imprecisas. Corpos que eram considerados de mães abraçando seus filhos, por exemplo, revelaram-se homens sem qualquer parentesco.
Da mesma forma, grupos que se acreditava serem famílias eram, na verdade, indivíduos que se encontraram por acaso no momento da erupção.
"Um adulto usando uma pulseira de ouro e segurando uma criança, que se acreditava serem mãe e filho, na verdade eram dois indivíduos do sexo masculino não aparentados. Outra dupla, que se pensava ser de duas irmãs, ou mãe e filha, é formada por dois homens sem vínculos familiares", explicou David no estudo.
Essa reescrita da história de Pompeia destaca a importância de combinar as evidências arqueológicas com os dados genéticos. "As hipóteses formuladas anteriormente não eram confiáveis porque refletiam uma visão de mundo e uma cultura completamente diferentes daquelas da época da erupção", explica o antropólogo.
Além de redefinir as relações familiares, a análise genética também revelou a diversidade genética dos habitantes de Pompeia. Os indivíduos estudados descendiam principalmente de imigrantes recentes do Mediterrâneo Oriental, evidenciando a natureza cosmopolita do Império Romano.
"Esse estudo sublinha a importância da integração dos dados genéticos com a informação arqueológica para evitar interpretações incorretas. Caso contrário, as narrativas correm o risco de refletir a visão do mundo dos pesquisadores, e não a realidade", finaliza Caramelli.