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Notícias / Arqueologia

Cerâmica revela as complexidades de cultura da Idade do Bronze

Pesquisa mapeia fronteiras econômicas e políticas, desvendando como El Argar dominava comunidades vizinhas há 4.000 anos

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/03/2025, às 20h30

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Cálice de cerâmica e cerâmica das comunidades periféricas, ambos de El Argar - Reprodução/Universitat Autònoma de Barcelona
Cálice de cerâmica e cerâmica das comunidades periféricas, ambos de El Argar - Reprodução/Universitat Autònoma de Barcelona

Um estudo inovador, realizado por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e do Instituto Max Planck de Antropologia Social, lançou luz sobre as intrincadas fronteiras econômicas e políticas do território de El Argar, um sítio da Idade do Bronze que abrigou a primeira sociedade estatal da Península Ibérica.

A pesquisa, publicada no Journal of Archaeological Method and Theory, oferece uma visão sem precedentes de como El Argar exercia sua influência sobre comunidades vizinhas, menos centralizadas, há cerca de 4.000 anos.

O estudo se concentrou na análise da produção e circulação de cerâmica na fronteira entre as atuais Múrcia, La Mancha e Valência, permitindo aos pesquisadores reconstruir a dinâmica de interação entre esses grupos no período de 2200 a 1550 a.C. Até então, o conceito de fronteiras havia recebido pouca atenção nos estudos arqueológicos, apesar de seu papel crucial na formação dos primeiros estados.

"Qualquer esforço para entender a consolidação dos primeiros estados na pré-história recente deve levar em conta como as fronteiras políticas foram criadas e mantidas", afirmou Roberto Risch, professor do Departamento de Pré-história da UAB, no estudo.

Ao analisar a produção e distribuição de cerâmica, os pesquisadores identificaram fronteiras econômicas e políticas claras que separavam El Argar de suas sociedades vizinhas. As descobertas sugerem que El Argar regulava a distribuição de cerâmica de forma a fortalecer seu domínio sobre as comunidades menos centralizadas.

"Conseguimos observar zonas ativas de troca e negociação, nas quais relações de poder e diferenças sociais podiam ser rastreadas por meio da circulação de vasos de cerâmica", explicou Adrià Moreno Gil, pesquisador do Instituto Max Planck de Antropologia Social, durante o estudo.

Foto
Área central de El Argar (roxo) e área de expansão máxima ca. 1750 a.C. (vermelho), vale médio e alto de Segura e principais assentamentos argáricos - Universitat Autònoma de Barcelona

Diferenças

A pesquisa revelou uma diferença fundamental nas características da produção de cerâmica entre El Argar e as regiões vizinhas. As cerâmicas argáricas, feitas de argila extraída das montanhas costeiras de Múrcia e Almería, eram mais comuns em locais ao sul da área de estudo, indicando uma rede de distribuição em larga escala, provavelmente controlada por assentamentos centrais de El Argar.

Na parte norte da área de pesquisa, oficinas de cerâmica de pequena escala, usando argila de origem local, eram mais comuns. Isso indica uma divisão fundamental na organização econômica: El Argar operava um sistema centralizado de produção e comércio, enquanto os outros assentamentos tendiam a sustentar economias mais localizadas e em escala doméstica.

Segundo o 'Archaeology News', para chegar a esses resultados, a equipe combinou pesquisas de campo extensivas, análise petrográfica dos materiais cerâmicos e modelagem espacial usando sistemas de informação geográfica (GIS), mapeando áreas de produção e circulação com detalhes sem precedentes.

"Nosso estudo demonstra que a análise da cerâmica é uma ferramenta essencial para entender as trocas econômicas, as relações sociais e a configuração dos espaços de fronteira entre entidades políticas e econômicas", afirmou Carla Garrido García, pesquisadora de doutorado na UAB, no estudo.