Tomografias cerebrais de ouvintes modernos sugerem que os barulhos dos instrumentos soam como gritos humanos, o que pode intensificar o medo
De acordo com um novo estudo publicado na revista Communications Psychology, os apitos ritualísticos astecas produziam sons capazes de "embaralhar o cérebro", provocando uma resposta emocional intensa.
Como repercutido pelo Live Science, esses apitos, usados durante sacrifícios humanos, eram provavelmente usados no preparo das vítimas para sua jornada até Mictlan, o submundo asteca.
Os apitos, feitos de argila e com formatos de caveira, mediam entre 3 e 5 centímetros e possivelmente representavam Mictlantecuhtli, o senhor do submundo. O som gerado pelos apitos era descrito como um "grito", causando uma resposta de urgência em quem o ouvia, conforme explicou à Live Science Sascha Frühholz, neurocientista da Universidade de Zurique e autor principal do estudo.
Os arqueólogos descobriram esses apitos em túmulos de indivíduos que se acreditava terem sido sacrificados. "A construção dos apitos é única, e não conhecemos instrumentos semelhantes em outras culturas pré-colombianas", afirmou Frühholz.
O estudo envolveu 70 participantes que ouviram mais de 2.500 amostras sonoras produzidas por apitos. Três deles, utilizados na pesquisa, eram reproduções modernas, enquanto dois outros foram encontrados em Tlatelolco, um sítio asteca próximo à antiga capital Tenochtitlán, no atual México.
Quando utilizados com pressão de ar intensa, todos os apitos geraram sons estridentes e penetrantes, semelhantes a gritos. Durante o experimento, os pesquisadores também registraram a atividade cerebral dos ouvintes para entender quais áreas do cérebro eram ativadas por esses sons.
Os resultados mostraram que o apito estimulava regiões cerebrais associadas a respostas emocionais e ao reconhecimento de significados simbólicos. Isso sugere que os astecas poderiam ter usado os apitos para intensificar o medo durante cerimônias relacionadas à morte.
Os pesquisadores sugerem que os apitos em questão podem ter sido usados para assustar tanto as vítimas de sacrifício quanto o público presente nas cerimônias. No entanto, o estudo aponta que há limitações nas pesquisas, já que os experimentos não puderam ser realizados com indivíduos da cultura asteca original.
Apesar disso, Frühholz observa que a resposta emocional a sons assustadores é um fenômeno comum entre os seres humanos, independentemente do contexto histórico.