Pinturas do local apresentam figuras mitológicas como Eros, Hermes e Medusa
A antiga cidade episcopal romana de Blaundos foi fundada na Ásia Menor depois que Alexandre, o Grande conquistou a costa do Egeu por volta de 334 a.C.
Situada entre vales e cânions, foi fundada por um comandante de mesmo nome que serviu o ex-rei da Macedônia. Governada por romanos e bizantinos, a região floresceu durante anos.
Por lá, há mais de 150 anos, arqueólogos descobriram uma necrópole construída dentro de rochas do local. Considera-se que a cidade possui um dos maiores cemitérios desse tipo no mundo.
Porém, pesquisas mais detalhadas só passaram a serem feitas mais recentemente, a partir de 2018. E, como se pode imaginar, as descobertas são fantásticas e prometem remodelar a maneira como a cidade se comporta.
Quem visita os desfiladeiros de Usak, cidade que fica no oeste da Turquia, pode até deixar passar a paisagem rochosa irregular e acinzentada. Mas seu exterior esconde um mundo interior repleto de cores e desenhos rebuscados que servem como decoração para o local de descanso de centenas de pessoas.
Por lá, 400 tumbas talhadas foram descobertas onde ficava a antiga cidade de Blaundos. Alguns espaços são quartos particulares, outros abrigam várias câmaras, e diversas delas exibem ilustrações romanas coloridas que foram feitas nas paredes.
Apesar do tempo — e de outros fatores que serão explicados mais abaixo — ter danificado algumas delas, ainda é possível distinguir representações de videiras, animais e figuras mitológicas como Eros, Hermes e Medusa.
Apesar das escavações serem consideradas “às vezes perigosas”, conforme define o arqueólogo Birol Can, da Universidade de Usak, que liderou as buscas no local, o resultado foi um tanto quanto revelador.
Descobriu-se que as sepulturas familiares foram “intensamente usadas” após o segundo século. Até então, o local havia sido projetado como quartos individuais, mas os espaços foram expandidos ao longo dos anos para acomodar mais sepulturas.
Essas salas não foram criadas de uma só vez. A partir dos vestígios nas paredes, percebe-se que essas tumbas foram originalmente projetadas como uma única sala”, explica em entrevista ao Live Science.
“No entanto, com o tempo, quando não havia lugar para sepultamento neste quarto único, o quarto foi expandido para dentro e o segundo, o terceiro e o quarto foram adicionados”, completa.
Além disso, percebeu-se que a maioria das tumbas tinham características semelhantes. “Há sarcófagos em arco esculpidos na rocha na frente das paredes de cada quarto”, revelou ao Daily Sabah.
“Além desses, lugares que se acredita serem usados para cerimônias fúnebres também foram encontrados dentro dos túmulos de pedra. A porta principal dos túmulos foi fechada com uma porta de mármore e reaberta durante os tempos de sepultamento ou cerimônia no passado”, explica o arqueólogo.
Fora os afrescos e os túmulos, os pesquisadores também encontraram diversos objetos nas áreas de sepultamento, como espelhos, diademas, anéis, pulseiras, grampos de cabelo, instrumentos médicos, cintos, copos e lamparinas.
Porém, conforme explica o All That's Interesting, as tumbas não estavam totalmente intactas e tampouco os objetos estavam perfeitamente preservados. Isso porque, ao longo dos anos, o local foi danificado não só por ladrões de túmulos, que quebraram as sepulturas e roubaram itens, como também por pastores que usavam o local como abrigo, muitas vezes causando um incêndio nocivo para as paredes dos túmulos.
Os afrescos estavam cobertos por uma camada densa e negra de fuligem devido aos incêndios que ocorriam naquela época [pelos pastores]”, relatou Can.
Porém, um serviço de restauração trouxe muitos afrescos à vida novamente, revelando vinhas verdes onduladas, flores douradas, cachos de uvas e símbolos romanos clássicos. “Além desses, figuras mitológicas — como Hermes, Eros e Medusa — e animais como pássaros e cães estão incluídos nos amplos painéis”, diz o arqueólogo.
Can diz que ainda existem centenas de tumbas para serem exploradas e que possui a esperança de que sua equipe conseguirá restaurar o brilho interior de cada uma delas. O pesquisador espera que o processo possa oferecer às pessoas uma visão íntima de como os antigos romanos viveram — e morreram.
Relacionando o tema, você poderá conhecer a história de Alexandre, o Grande, no podcast 'Desventuras na História'.
Com narração de Vítor Soares, professor de História, o episódio relembra fatos e curiosidades sobre a vida pública e íntima do líder militar da antiguidade.
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