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Colunas / Segunda Guerra Mundial

Antigas rotas da Pérsia: Entenda a importância do Irã na Segunda Guerra Mundial

Uma das incursões mais importantes para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra foi a invasão ao Irã, crucial para as tropas; entenda!

Ricardo Lobato Publicado em 07/07/2024, às 12h00 - Atualizado em 09/07/2024, às 17h01

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Tropas indianas invadindo o Irã em 1941 - Domínio Público via Wikimedia Commons
Tropas indianas invadindo o Irã em 1941 - Domínio Público via Wikimedia Commons

Em um dos momentos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial, o Dia D — o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, na França —, os Aliados tomaram a decisão de abrir uma segunda frente de combate na Conferência de Teerãn (de 28 de novembro a 1º de dezembro de 1943). Mas afinal, por que Teerã, capital do Irã?

Bem, se a posição do país — bem no centro do Oriente Médio, com acesso ao Mar Cáspio (ao Norte), ao Golfo Pérsico e ao Mar Arábico (ao Sul) — é estratégica hoje em dia, imagine na Segunda Guerra Mundial, onde praticamente todo o globo se encontrava em beligerância.

No entanto, esta história começa duas décadas antes do maior conflito já visto pela humanidade. Para entender como os Aliados foram parar em Teerã, no Irã, precisamos voltar a 1925, quando, depois de uma guerra civil, Reza Khan chegou ao poder se coroando Reza Shah — “shah” (xá, em português) é o título monárquico da Pérsia e do Afeganistão equivalente ao de imperador nas monarquias ocidentais.

Reza Shah / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Tesouro iraniano

Reza Shah era um revolucionário, no sentido de que tinha projetos ambiciosos para seu país. Embora não tenha sido nobre de nascimento, sua família (resguardadas as devidas proporções) era o que chamaríamos de classe média, permitindo que tivesse acesso a uma boa educação. Na juventude, seguiu os passos de seu pai na carreira militar, o que o levaria a, anos depois, liderar seus pares na guerra contra a Dinastia Qajar, que dominava a Pérsia desde o século 18. Uma vez no poder, seu grande objetivo era modernizar seu país – tanto que, em 1935, pediu que dignitários estrangeiros passassem a chamar o antigo Reino da Pérsia de Irã.

Quando a guerra estourou na Europa, em 1939, uma prioridade para os Aliados era garantir o principal insumo em qualquer conflito, ainda mais importante que armas e munição: combustível. Afinal, nada funciona sem ele. Naquele ano, tal como é hoje, o Irã já era um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com muitas empresas estrangeiras no país, principalmente a Companhia de Petróleo Anglo-Iraniana (AIOC, na sigla em inglês) que, como o próprio nome indica, pertencia à Inglaterra.

Ainda no século 19, o Irã (ainda Pérsia), situado em região bastante conturbada do mundo, em meio ao jogo das grandes potências de então — fronteira com a Índia Britânica e o Império Russo, sem citar os otomanos —, havia procurado na Alemanha Imperial (a mesma de Bismarck) um aliado. Além das incontáveis missões científicas e econômicas que o Império Alemão enviou à Pérsia, havia também “assessores militares” — que estavam no país durante a Primeira Guerra e formaram gerações de militares iranianos, como o próprio Reza Shah.

Ainda que ele não fosse um “germanófilo”, nunca escondeu a simpatia que nutria por Berlim. Já com os nazistas no poder, em 1936, ninguém menos que “a mente por trás da reconstrução da Alemanha”, Hjalmar Schacht, o presidente do Reichsbank (o Banco Central da Alemanha nazi), visitou Teerã para garantir a assinatura de vários importantes acordos econômicos. No mesmo ano, o Irã foi declarado um país “ariano” e “racialmente puro” pelo próprio Hitler. Ou seja, à parte todo o jogo colonial do mundo de então, do ponto de vista britânico, era “justificada a preocupação com os rumos que o Irã tomaria no conflito”, como dizia um telegrama do Ministério de Assuntos Exteriores inglês.

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Alianças e planos

Quando os alemães invadiram a União Soviética, em 22 de junho de 1941, na famosa Operação Barbarossa, Churchill imediatamente se aliou a Stalin. Questionado pela razão dessa aliança com os soviéticos — uma vez que sempre fora um ferrenho anticomunista —, o líder britânico respondeu: “Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”. Na cabeça de Churchill, o nazifascismo era uma ameaça maior. Assim sendo, a aliança com a União Soviética começou a tomar forma.

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O mais interessante é que Churchill e Stalin, dois geopolíticos, repetiram aquilo que seus antecessores haviam feito no século 19. Novamente, as grandes potências começavam a redesenhar e dividir o mundo, tendo como um de seus principais alvos, e não por coincidência, justamente o Irã.

Josef Stalin, Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Nesta altura da guerra, os alemães faziam avanços progressivos em todas as frentes de combate. Até o Natal de 1941, chegariam às portas de Moscou (sendo depois repelidos); enquanto na África, o Afrikakorps do Marechal Rommel avançava, empurrando os ingleses por todo o deserto até quase o Cairo.

Apesar de ser mantido em segredo em Berlim, os estrategistas Aliados sempre desconfiaram de que um dos grandes objetivos do Eixo fosse a tomada dos vastos campos de petróleo do Oriente Médio. O plano que os alemães mantinham a sete chaves era que o Grupo de Exército Sul na Campanha da Rússia chegasse pelo Cáucaso, para tomar os campos de petróleo do Azerbaijão, e depois avançasse para o Irã. Enquanto isso, Rommel e seus homens avançariam pelo Egito, atravessariam o Canal de Suez e tomariam Iraque e Irã, garantindo, assim, que o Eixo tivesse combustível suficiente para levar adiante sua guerra de dominação mundial.

Conflito

Imediatamente, Londres e Moscou concordaram que o Irã deveria ser prioridade de uma ação conjunta. E assim foi. Sem sucesso na “pressão diplomática” contra o Shah — que desejava manter sua posição de neutralidade —, e vendo o crescimento de manifestações anti-britânicas e antissoviéticas, além da recusa iraniana em expulsar os cidadãos alemães que viviam no país, em 25 de agosto de 1941 começou a invasão.

Do lado britânico, com as tropas no Raj (Índia, Paquistão e demais países do subcontinente indiano) de prontidão e fazendo incursões na fronteira, os ingleses atacaram pelo Iraque, que haviam ocupado meses antes. A Marinha da Austrália cercou o Golfo Pérsico, cortando o acesso do país asiático ao mar. Enquanto isso, do lado soviético, as tropas avançaram pelo Cáucaso e a Frota do Mar Cáspio garantiu que os iranianos não pudessem receber eventuais reforços por ali.

Por volta de 31 de agosto, vendo a total supremacia dos Aliados em terra, ar e mar, Shah deu ordens para que seus militares (que ele havia gastado “enormes quantias para equipar”), agora humilhados e exaustos, se rendessem. Negociações com as autoridades britânicas e soviéticas começaram e a dominação foi completa, com Reza Shah abdicando e sendo exilado.

Além da garantia de que o petróleo do país não caísse nas mãos do Eixo, a invasão serviu para levar ajuda aliada a todos os fronts — meses depois, os EUA e o Japão entrariam na guerra, mergulhando a Ásia no conflito. Quando os líderes Aliados precisaram se encontrar, no fim de 1943, para decidir os rumos da Segunda Guerra, Teerã, portanto, era a opção mais lógica: era o centro seguro do mundo Aliado de então. Foi bem como disse Churchill antes da invasão: "Nossos caminhos passam pelas antigas rotas da Pérsia".