Confira na íntegra a reprodução do capítulo extraído da obra Medicina Macabra, do autor Thomas Morris
Ao longo dos séculos, a medicina sofreu diversas transformações e evoluções, que nem sempre utilizaram métodos convencionais. Alguns dos casos mais bizarros da História são apresentados na obra Medicina Macabra, de Thomas Morris.
Lançada pela Editora DarkSide, esta obra memorável retrata superstições e tradições que influenciaram na construção da medicina. Por meio de uma pesquisa minuciosa, o autor resgata curiosas histórias que, para ele, não poderiam ser esquecidas da Literatura Médica.
“Morris oferece uma visão amplamente generosa das falibilidades do corpo e da psique, e as tentativas criativas e heróicas dos médicos de remediar as situações à medida que a ciência médica se desenvolvia”, disse Dawn Raffel, autor de The Strange Case of Dr. Couney.
Da Holanda do século 17 à Rússia imperial, passando pelos bairros rurais do Canadá até o Pacífico, Morris reconstitui a trajetória completa da evolução da profissão médica. Dentre os relatos, o escritor apresenta, ainda, a intrigante história de um homem que o seu prepúcio — pele que cobre a glande do pênis — inchou e foi tomado por uma série de ulcerações.
Com autorização da Editora Darkside, a Aventuras na História reproduziu, na íntegra, o Capítulo 1: Vergonha alheia. Confira:
Infibulação, s.f. O ato de infibular; oclusão dos órgãos sexuais por um broche ou fecho.
Essa não é uma palavra do dia a dia, por isso tive de procurar no dicionário. Ao que parece, a primeira vez que o termo apareceu foi na obra de John Bulwer, Antropometamorphosis (Transformação da humanidade), um tratado sobre tatuagens, piercings, e outras formas de modificação corporal, publicado em 1650. Bulwer revela que, na Grécia Antiga, a infibulação era usada para manter os jovens atores castos:
“Entre os Antigos, para prevenir os jovens e efeminados innamoratos, em especial os comediantes, de se envolverem em indulgências sexuais prematuras, e com isso alterarem o tom de suas vozes, eles eram obrigados a prender um anel ou uma fivela no prepúcio de suas vergas.”
Eu provavelmente ficaria na minha abençoada ignorância sobre essa prática se não fosse por este divertido artigo, publicado pela London Medical and Physical Journal (Revista Médica e Nacional de Londres) em 1827.
Caso de infibulação, seguido por uma assombrosa infecção de prepúcio
Alguns anos atrás, monsieur Dupuytren se consultou com o doutor. Petroz acerca do caso do seu paciente M, responsável por uma das mais ilustres manufaturas da França.
Esse é o equivalente do século XIX a um C E O da Airbus ou da Ford dar entrada num hospital com um problema vergonhoso. E o “problema” em questão de fato: carregava bastante constrangimentos.
“Ele tinha cerca de cinquenta anos, uma boa e saudável compleição. Há tempos, vinha expelindo um material fétido pelo pênis, sentia dificuldade para urinar. O prepúcio estava bastante inchado endurecido e tomado por uma série de ulcerações.”
O prepúcio é a pele que cobre a glande do pênis. É de imaginar que o exemplar citado neste relato já tivesse passado por dias melhores.
“Até então, o caso não apresentava nada de extraordinário. O que estimulou uma análise mais aprofundada por parte dos médicos foi a observação de que o prepúcio havia sido perfurado em diversos lugares, bem como que aberturas e bordas desses pequenos orifícios, os quais atravessavam o órgão, estavam completamente cobertas por um tecido cutâneo perfeitamente organizado.”
“Perfeitamente organizado” significa que uma nova camada de pele havia se formado ao redor das feridas, da mesma forma que um furo na orelha cicatriza em poucas semanas, a menos que se mantenha um brinco ou um rebite atravessando o buraco, para que este não se feche. Essa observação se tornou importante para o caso.
“Monsieur Dupuytren sentiu a necessidade, antes mesmo de iniciar qualquer tratamento, de confirmar a maneira como as perfurações no prepúcio teriam ocorrido. O paciente declarou que, durante sua juventude, visitava Portugal, onde permanecera por uma série de anos. Lá, formara um laço de afeição com uma jovem de vividas paixões e dona de um ciúme igualmente inflamado. Sua profunda devoção a ela fez com que a jovem em questão adquirisse uma absoluta influência sobre ele.”
Um relação carinhosa entre um bem-sucedido homem de negócios francês e sua ardente amante portuguesa. Mas que história adorável?
“Certo dia, transportado pelo exercício de sua paixões mútuas, ele sentiu uma sutil pontada em seu prepúcio. Entretanto, transportado pelas carícias de sua amada até um estado próximo ao da abstração, não investigou a causa da sensação adversa que lhe trespassara. Ao se afastar dos braços de sua dama, todavia, descobrira dourado, cuja chave ficara sob os cuidados da amante.”
Calma! Mudei de ideia sobre ser uma história adorável. Talvez até seja romântico, mas não é o tipo de prova de amor que se popularizaria, espero.
“É de se concluir que a dama em questão era uma mulher deveras eloquente, pois manteve seu amante de bom humor por meio de sua retórica, a qual fora aplicada em conjunção com carícias ocasionais, terminando por convencê-lo não só a permitir que o cadeado ficasse onde ela o havia colocado, mas também a apreciá-lo como um rebuscado adereço. Ela chegou a conquistar o direito de recolocá-lo toda vez que a região perfurada da pele se tornava fraca demais para sustentar o peso do cadeado. Por incrível que possa parecer, com o tempo, a fim de ‘ter o dobro de segurança’, ela passou a empregar dois cadeados.”
Um segundo cadeado já parece exagero! É surpreendente que seu amante tenha aceitado a situação até ali. Por outro lado, não seria de admirar que “M” tenha achado que essa brincadeira mais prazerosa do que viria a admitir para os médicos.
“M permaneceu em tal estado por quatro ou cinco anos, trajando prepúcio um ou dois cadeados, cujas chaves permaneciam caprichosamente em posse de sua amante. Por fim, a consequência de tal hábito foi o adoecimento de seu prepúcio, o qual foi tomado por uma condição cancerosa, que levou M a se consultar com monsieur Dupuytren”.
O termo “Canceroso (a)” era usado para descrever ulcerações que não cicatrizam, e não tecidos com crescimento de tumores cancerígenos. Podia ser, portanto, apenas um caso de infecção crônica numa região para lá de delicada.
“Decidiu-se, então, adotar o procedimento mais seguro e efetivo. O prepúcio foi removido numa cirurgia bastante similar ao procedimento de circuncisão. Sob os cuidados de monsieur Sanson, o paciente se curou totalmente em menos de três semanas. Desde então, ele permanece em perfeita saúde.”
Vamos torcer para que esse figurão industrial da França tenha conseguido esconder esse episódio dos ouvidos de seus funcionários. Imagina se uma anedota dessas se espalha pelo escritório e depois vira assunto durante a festa de fim de ano da firma...
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