Ao custo de 220 milhões de dólares a unidade, o americano é o caça mais caro - e moderno - já construído. E o único capaz de bater o russo Sukhoi Su-27 Flanker
Carlos Emilio Di Santis Junior Publicado em 01/11/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36
No mundo da aviação de combate algumas aeronaves acabam se tornando verdadeiras lendas, como aconteceu com o clássico caça Boeing F-15 Eagle. O F-15, desenvolvido com base nas experiências adquiridas durante a Guerra do Vietnã, substituiu o F-4 Phanton II nas missões de defesa aérea e o General Dynamics F-111 Aardvark, em missões de interdição. O F-15 foi detentor de recordes de desempenho como velocidade de subida e altitude por muitos anos, graças a sua aerodinâmica e à potência dos motores Pratt & Whitney F-100. Sua superioridade em relação às aeronaves da então União Soviética era tão grande que obrigou o Departamento de Defesa russo a pedir um estudo de desenvolvimento de caças que superassem o F-15 americano. O resultado foi a entrada em serviço do que se pode chamar de anti-Eagle. O supercaça Sukhoi Su-27 Flanker (já descrito nas páginas de Grandes Guerras nº 16 na sua última versão, o Su-35 Super Flanker).
O Flanker incorporou avanços notáveis em aerodinâmica, radar e armamentos, o que o fez superar o F-15 Eagle em combate. Inicialmente, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos encomendou uma modernização do F-15 para que ele pudesse fazer frente aos novos caças russos. Porém, para voltar a ter superioridade aérea no final da Guerra Fria, os americanos precisavam de uma aeronave com capacidades revolucionárias.
REVOLUÇÃO EM ANDAMENTO
O programa Caça Tático Avançado (ATF) nasceu para fornecer uma aeronave de combate que superasse os adversários de forma absoluta, devolvendo a supremacia dos céus aos Estados Unidos. Iniciado nos idos da década de 1980, o programa recebeu propostas de quase todos os fabricantes militares americanos. Em 1986, foi decidido que duas equipes de construtores produziriam protótipos que concorreriam.
Os requisitos do ATF determinavam que a aeronave deveria voar em supercruzeiro (velocidade supersônica por tempo elevado e sem o uso de pós-combustores), tivesse elevada autonomia para missões de longo alcance, fosse manobrável para combate de curto alcance e também stealth, ou de difícil detecção aos radares inimigos. A McDonnell Douglas, projetista de caças clássicos como o F-4 e F-15, uniu-se à Northrop para construir o YF-23 Black Widow II. Enquanto isso, o time adversário, formado por Lockheed Martin, Boeing e General Dynamics, apresentou o YF-22 Lightning. O protótipo do YF-22 era muito mais conservador em termos aerodinâmicos, mas isso trazia segurança e evitava surpresas.
Os protótipos de ambos os concorrentes são os primeiros aviões de combate “invisíveis”, com capacidade de manobra e alto desempenho de vôo. Em agosto de 1991, o projeto do YF-22 foi declarado vencedor, com uma revisão de desenho e dos riscos do programa, com o objetivo de aperfeiçoar a aeronave – que acabou sendo renomeada de F-22 Raptor. O modelo de produção do F-22 apresentou um desenho mais encorpado, com recuo das entradas de ar para trás do cockpit para não atrapalhar a visibilidade para baixo. Também as superfícies de controle verticais foram diminuídas, melhorando a estabilidade da aeronave.
PREPARADO PARA VENCER
O F-22 foi projetado para ser furtivo, mas sem perder suas qualidades de vôo para combate. Para um radar inimigo, o F-22 aparece nas telas com o tamanho de uma bola de tênis. Dessa forma, o único jeito de ser detectado pelo radar será quando ele estiver perigosamente próximo dele. O F-22, por sua vez, é capaz de rastrear seus adversários a uma distância de até 270 quilômetros, por meio de um avançado radar de varredura eletrônica ativa Northrop Grumman AN/APG-77, que trabalha emitindo um baixo nível de radiação, tornando difícil que os sensores de alerta inimigos percebam que estão sendo rastreados.
O F-22 tem um sistema de apoio ao ocupante em que uma voz sintetizada conversa com o piloto, diminuindo sua carga de trabalho. Essa voz informa sobre alvos detectados, problemas técnicos e outros fatores do vôo. Ainda na parte eletrônica, o caça está equipado com um sistema de intercâmbio de dados via data link que permite receber e mandar dados de seu radar, condição de armamento, nível de combustível, entre outros, para demais aeronaves com esse sistema.
Um exemplo do uso desse dispositivo é a possibilidade de quatro F-22 voarem e apenas um manter seu radar ligado. Os outros três recebem os dados desse radar em suas próprias telas, podendo ainda lançar seus mísseis com base nesses dados. Assim, ocorre um efeito multiplicador de força, onde quatro caças operam como se fossem apenas um, cobrindo uma área muito maior e com maior consciência situacional.
O requisito de vôo em supercruzeiro foi atingido com tranqüilidade. O Raptor é capaz de manter uma velocidade de 1 650 km/h por mais de 30 minutos, sem o uso da pós-combustão, mesmo carregado de seu armamento ar-ar. Pense no problema que os inimigos do Raptor precisarão enfrentar: uma aeronave dificílima de ser detectada, que voa em velocidade supersônica, indo em sua direção. Por isso as chances de o F-22 vencer são as maiores possíveis.
Ele chega ao ponto de lançamento de suas armas antes de qualquer caça inimigo, sem ser visto, e sai da área de combate primeiro. A capacidade de manobra do F-22 é garantida por sua aerodinâmica avançada, sua estabilidade controlada por fly by wire e seus potentíssimos motores Pratt & Whitney F-119 PW-100, com 15,6 mil kg de empuxo cada e que ainda possuem vetoração de empuxo bidimensional usado em baixas velocidades. Isso permite amplo controle de manobra nessa condição (aviões tendem a perder o controle quando em baixa velocidade). Para entender esse sistema, basta imaginar que os bocais de escape dos motores possuem defletores que se movem 20 graus para cima ou para baixo, direcionando a saída dos gases para esses ângulos e forçando o F-22 a apontar para as posições que o piloto deseja.
AS ARMAS DO CAÇADOR
O armamento do F-22 é transportado internamente, em três caixas, sendo duas laterais (onde fica um míssil de curto alcance AIM-9 Sidewinder de cada lado) e uma caixa de armas principal, abaixo da fuselagem (onde são transportados os armamentos mais pesados). Por exemplo, para missões de defesa podem ser transportados seis mísseis AIM-120C Amraam guiados por radar ativo e com um alcance aproximado de 70 quilômetros (novas versões têm alcance de 105 quilômetros). Nessa caixa, é possível transportar também armas ar-terra para missões de bombardeio e ataque, como duas bombas GBU-32 JDAM de 454 kg guiadas por GPS, ou oito bombas GBU-39 SDB (Small Diameter Bomb) de 130 kg cada. Além disso, há um canhão rotativo M-61 de seis canos, calibre 20 mm, escondido do lado direito do F-22 e que só aparece quando é acionado. Esse canhão dispara 6 mil tiros por minuto, capazes de rasgar um caça inimigo. O caça pode ainda transportar armamento e tanques de combustível externamente, mas com prejuízo de sua invisibilidade.
O F-22 é hoje o único avião de combate em serviço capaz de vencer o caça russo Su-27 Flanker e seus derivados de forma absoluta. Em simulações feitas nos Estados Unidos, o F-22 enfrentou o F-15, seu antecessor, 109 vezes, tendo vencido todos os embates. Esses combates ocorreram em todas as distâncias. Para avaliar a importância dessas vitórias simuladas, é necessário lembrar que os pilotos dos F-15 são experientes e têm muito mais horas de vôo que os pilotos do F-22. A avançadíssima tecnologia de invisibilidade permitiu ao F-22 destruir seus oponentes com tranqüilidade.
Toda essa capacidade tem um preço – e bem alto. Um F-22 custa cerca de 220 milhões, o que faz dele o mais caro caça já construído. Até a poderosa Força Aérea dos Estados Unidos, acostumada com a manutenção de milhares de caças, acabou limitada a apenas 183 F-22, número bem menor que as 750 unidade previstas inicalmente. Mas é possível que, após a entrega desta encomenda, o comando da Força Aérea americana compre mais algumas unidades para complementar sua força.
Outro ponto a ser considerado é que o F-22 não deverá ser exportado tão cedo, dada sua sofisticação tecnológica, recheada de itens críticos e secretos. Essa limitação ajuda a manter o valor do F-22 nas nuvens, já que não há uma economia de escala. Alguns países, como Japão e Israel, chegaram a pedir a venda de alguns caças ao governo americano, mas o pedido foi recusado, sendo oferecido o novo, e menos sofisticado, caça leve F-35.
FUTURO BOMBARDEIRO?
Mais recentemente, uma versão especializada de ataque terrestre do F-22 foi oferecida como solução para suceder o F-15E Strike Eagle. Essa versão foi chamada de FB-22 e apelidada não oficialmente de Strike Raptor. Trata-se de uma versão bastante modificada, com asas únicas, em delta, que forneceriam maior quantidade de combustível e ainda um perfil de vôo otimizado para ataque e interdição. Esta versão vinha sendo estudada para transportar mais armas em distâncias maiores e velocidade de supercruzeiro. Ela poderia atacar alvos distantes em tempo muito curto. No entanto, essa versão radical do F-22 deve ser descartada em favor de uma aeronave mais econômica e mais simples.
LOCKHEED MARTIN F-22A RAPTOR
DESEMPENHO
Velocidade de cruzeiro: Mach 1,5 (1 650 km/h)
Velocidade máxima: Mach 2
Razão de subida: + 15 240 m/min*
Potência: 1.45
Fator de carga: 9 Gs
Taxa de giro: 26º/s
Razão de rolamento: 240º/s
Raio de ação/alcance: 2 500 km / 5 000 km*
Alcance do radar: 270 km
Empuxo: 2 Przatt & Whitney F-119 PW-100 X 15600 kgf
DIMENSÕES
Comprimento: 18,92 m
Envergadura: 13,56 m
Altura: 5 m
Peso (vazio): 13 608 kg
ARMAMENTO
Ar-ar: Míssil AIM-120C Amraam, AIM-9X Sidewinder
Ar-terra: Bombas GBU-31 JDAM, Bombas GBU-39 SDB
Interno: 1 Canhão GE M-61 A1 de 20 mm
* estimativaLIVRO
F-22 Raptor, de Bill Sweetman, Zenith Press, 1998 (em inglês)
Relata o desenvolvimento do caça mais moderno do mundo.
SITE
www.F22-raptor.com
Site oficial da Lokheed Martin, fabricante do F-22.