A Gestapo classificou a americana como "a mais perigosa entre os espiões dos Aliados" - Divulgação/CIA
Personagem

"A dama que manca": Virginia Hall, o pesadelo do nazistas

A americana precisou enfrentar os preconceitos por ser mulher, e se tornou uma das espiãs mais perseguidas pelas forças alemãs durante a Segunda Guerra

Giovanna de Matteo Publicado em 19/11/2020, às 16h31 - Atualizado às 16h33

Virginia Hall formou sua carreira em uma época extremamente difícil. Rejeitada por ser manca, subjugada por ser mulher, e odiada por muitos, ela precisou enfrentar o machismo, o preconceito, e o pior fato de todos, uma guerra mundial controlada pelo nazismo.

Apesar das adversidades, ela superou as expectativas de todos e se tornou a mulher mais temida pela Gestapo (a polícia secreta nazista), e uma das maiores espiãs americanas. Contudo, para entender esse capítulo de sua vida, é preciso conhecer as origens de Virginia.

Hall nasceu em 1906 em Baltimore, no Estado de Maryland, EUA. Sendo muito bem instruída e vindo de uma família rica, ela aprendeu inglês, francês, italiano e alemão. Sonhava em se tornar diplomata.

Aos 20 anos de idade, se mudou para a Europa para finalizar seus estudos, e por lá encontrou um emprego que pudesse se aproximar do que queria, trabalhando como auxiliar na embaixada dos Estados Unidos em Varsóvia, Polônia. 

Independente de seus esforços e competência, conseguir promoções e conquistar seu sonho se tornou uma frustração por conta de seu gênero, já que a diplomacia era vista como uma "carreira para homens".

Em 1933, no entanto, ela viu sua aspiração se desmanchando quando sofreu um acidente enquanto caçava na Turquia, que lhe custou a perna esquerda, que precisou ser amputada abaixo do joelho. Desde aquele momento, Hall precisou começar a usar uma prótese de madeira para voltar a andar.

Depois de sua recuperação, tentou novamente uma vaga de diplomata, mas foi informada que o Departamento de Estado americano não poderia contratá-la por conta de sua posição de manca.

Ainda que ela tenha sido vista como inferior para ocupar o cargo, ela não desistiu e continuou trabalhando em outras embaixadas e consulados americanos pela Europa.

Na Segunda Guerra

Com a conquista de vários países da Europa pela Alemanha Nazista, Hall viu sua oportunidade de poder ajudar os Aliados e se voluntariou para dirigir ambulâncias para as forças armadas em meio ao front de combate na França.

Porém, em 1940 a França também foi tomada pelas tropas alemãs, e correndo risco de vida, Virginia se mudou para Londres. Com o poder de Hitler aumentando, o governo britânico criou a Executiva de Operações Especiais (Special Operations Executive, ou SOE, em inglês), uma ultrassecreta organização de espionagem que combatia os nazistas.

No começo, a SOE foi criada para ser exclusiva para homens, no entanto, muito tempo se passou e após 6 meses a organização não conseguiu recrutar uma única pessoa como voluntária, dado o perigo que a profissão oferecia.

Como ressalta a autora Sonia Purnell em artigo publicado na revista Time, o cargo era arriscado demais e as chances de sobrevivência estavam entre 50%, o que não tornava muito atraente aos oficiais. Porém, uma pessoa não tinha medo e estava esperando por esse momento há muito tempo: Virginia Hall. 

A moça se voluntariou, e dado a dificuldade de recrutar pessoas, a organização aceitou seu nome. Finalmente em 1941, depois de receber diversos treinamentos das forças armadas, ela foi transferida para a França de Vichy, uma zona livre que ainda estava sobre regime colaboracionista francês. Ela mudou seu nome e entrou no local como uma repórter do New York Post.

A "dama que manca"

Hall se estabeleceu em Lyon. Sua primeira missão foi coordenar redes locais de resistência contra a ocupação nazista, que se alastrava cada vez mais por todo o país. Além disso, ela tinha a responsabilidade de estar sempre atenta às informações sobre o regime de Vichy e os movimentos de luta que se formavam.

Sua determinação e seu talento logo foram percebidos por todos os agentes, que ficaram impressionados com sua coragem, no entanto, os seus trabalhos magníficos também foram notados pelos inimigos. 

"Durante os anos seguintes, ela se tornaria legendária por seus feitos, primeiro com a SOE e depois com o OSS (o Escritório de Serviços Estratégicos, serviço de inteligência dos Estados Unidos durante a guerra e precursor da CIA)", diz a biografia de Hall no site da CIA. "Ela organizou redes de agentes, ajudou prisioneiros de guerra fugitivos e recrutou homens e mulheres franceses para operar abrigos secretos - sempre um passo à frente da Gestapo, que queria desesperadamente capturar 'a dama que manca' (apelido dado à ela pelos nazistas)".

Klaus Barbie em seu uniforme da Gestapo / Getty Images

 

O chefe da Gestapo daquela região, chamado Klaus Barbie e conhecido como "o carniceiro de Lyon", iniciou uma busca pela mulher, e capturá-la virou seu maior desafio. Em pouco tempo a cidade se encheu de cartazes que estampavam o rosto da espiã americana, e ela se tornou uma das agentes mais procuradas pela polícia alemã.

Fugir para sobreviver

Em novembro de 1942 as forças nazistas estavam avançando rapidamente pela zona livre da França, e a vida de Hall estava por um triz. Perante a situação, ela decidiu fugir, e partiu a pé em meio a neve e arrastando sua prótese de madeira de mais de 3kg pelos montes Pirineus, em direção à Espanha.

Chegando no destino, ela foi presa por cruzar a fronteira ilegalmente, mas sua liberdade veio alguns dias depois. Por lá ela ficou até 1944, até que decidiu que deveria voltar para o combate, mesmo sendo um dos nomes mais procurados. A SOE recusou a enviá-la para a França novamente, mas a OSS americana concordou com o pedido.

Na segunda missão, ela entrou num país que agora já estava totalmente ocupado pelo Eixo. Dessa vez, ela se disfarçou de agricultora idosa e levou o codinome de Diane. Dali em diante, ela foi uma das grandes precursoras que ajudou na preparação do Dia D.

"Ela ajudou a treinar três batalhões de forças de resistência para lançar uma guerrilha contra forças alemãs", segundo a CIA.

Um ano depois, em 1945, Hitler se viu perdido e tirou a própria vida, dando fim aos longos anos de guerra. Virginia, por sua vez, saiu vitoriosa e nunca foi pega pelos inimigos.

Virginia Hall foi a única mulher com atuação civil a receber a Cruz de Serviço Distinto / Wikimedia Commons

 

Mostrando todo o seu valor, ela foi a única mulher em atividade civil que foi condecorada com a Cruz de Serviço Distinto, pelo seu "heroísmo extraordinário". Ela também recebeu outras condecorações dos governos francês e britânico.

Dali em diante, ela seguiu sua carreira na CIA, até se aposentar em 1966, aos 60 anos. Apesar de todo seu sucesso de carreira, Virginia continuou lutando contra o machismo e demonstrando constantemente que tinha o direito à sua profissão.


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