Cena do filme 'Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver' - Reprodução
Ditadura militar

Veja 5 filmes que foram censurados pela ditadura militar

De produção com Zé do Caixão até Bandido da Luz Vermelha: muitos filmes acabaram censurados pela ditadura militar no Brasil

Fabio Previdelli Publicado em 24/09/2024, às 18h00

Em 31 de março de 1964, um golpe militar instaurou no Brasil mais de duas décadas de perseguições, assassinatos e violações de diversos direitos humanos. O brasileiro sofreu não apenas fisicamente, mas também de forma cultural. 

Afinal, durante o regime foi instalado a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), órgão ligado ao Departamento de Polícia Federal, responsável por analisar e censurar filmes, peças de teatro, músicas e outras formas de expressão cultural.

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Durante os Anos de Chumbo, o governo controlava o que a população podia ouvir, assistir e dizer. Críticas ao regime eram proibidas, assim como ideias consideradas subversivas. Assim, diversos diretores tiveram suas obras impedidas de serem exibidas. Conheça mais sobre 5 filmes censurados na ditadura!

1. Cabra Marcado para Morrer

Um dos maiores documentaristas brasileiros de todos os tempos, Eduardo Coutinho tem filmes clássicos como 'Edifício Master', 'Jogo de Cena' e 'As Canções'. Em novembro de 2015, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), listou 'Cabra Marcado para Morrer' como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

"Em 1962, João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba, é assassinado por ordem de latifundiários. Um filme sobre sua vida começa a ser rodado em 1964, com a reconstituição ficcional da ação política que levou ao assassinato", diz a sinopse da obra. 

Cena de Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho - Divulgação/Instituto Moreira Salles

 

Porém, conforme recorda matéria da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, no dia seguinte ao golpe que instaurou a ditadura, os militares invadiram o engenho Galileia, no município pernambucano de Vitória de Santo Antão, interrompendo as filmagens.

A produção só foi retomada em 1981, mas com uma nova proposta: um retrato sobre as pessoas que viviam naquela região que foi afetada diretamente pelos Anos de Chumbo.


2. Eles Não Usam Black-Tie

Baseado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, Eles Não Usam Black-Tie foi premiado em diversos festivais internacionais de cinema, como o Festival de Veneza, recebendo o Grande Prêmio do Júri, recorda a BBC. 

"Otávio é um militante sindical que organiza um movimento grevista para resistir às práticas exploradoras de uma metalúrgica, na qual seu filho Tião também trabalha. Mas, com a namorada grávida, o jovem resiste à greve para não perder o emprego", descreve sua sinopse. 

Também integrante da lista de 100 filmes da Abraccine, o filme dirigido por Leon Hirszman, assim como a peça de Guarnieri, também sofreu com a censura. No ano em que foi lançado, 1981, a ditadura militar dava seus últimos respiros — um exemplo disso é o fim do AI-5 dois anos antes. 

Cena de 'Eles Não Usam Black-Tie' - Reprodução

 

Naquele mesmo ano, a causa operária ganhava cada vez mais força, principalmente pelas sucessões de greves que aconteciam. Conforme recorda documento do Arquivo Federal, a peça 'Eles Não Usam Black-Tie' recebeu diversos pedidos de cortes, para falas como "Diploma não vale nada... Esse governo que tá aí é tudo diplomado", "Brinde à libertação do Brasil" e "Todo mundo rouba! Os maiorá aí tão por cima, mas não é indo à missa não, é roubando duro!".


3. Macunaíma

Dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, baseado na obra de mesmo nome de Mário de Andrade, o filme narra "as aventuras de Macunaíma, o anti-herói preguiçoso e sem caráter.

"Ele nasce negro no sertão, mas vira branco, vai para a cidade com os irmãos e se envolve com prostitutas, guerrilheiras e enfrenta todo tipo de gente em sua jornada", aponta sua descrição.

Cena de 'Macunaíma' - Reprodução

 

Lançado em 1969, Macunaíma sofreu restrições durante a ditadura militar no Brasil — principalmente por sua forma madura e cômica de tratar o regime. Sofrendo cortes e adiamentos, a proibição sobre o filme só acabou em agosto de 1985. Também faz parte da lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.


4. Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é considerado o 'pai do terror nacional'. Em 1967, ele lançou o longa 'Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver', continuação do seu clássico 'À Meia-Noite Levarei Sua Alma', de 1964. 

"O coveiro Zé do Caixão continua sua busca obsessiva pela mulher ideal, capaz de gerar o filho perfeito. Com a ajuda do fiel criado, ele rapta seis belas moças, que são submetidas a terríveis sessões de tortura", divulga a sinopse.

Com cenas em que Zé do Caixão levava diversos tiros, o filme ainda foi censurado por, pouco antes de morrer, o personagem mostrar sua descrença em Deus dizendo: "Eu não creio. Não creio".

Conforme recorda a Cinemateca, o filme, que também figura na lista da Abraccine, teve que passar por mudanças, com a fala substituída por: "Deus… Sim… Deus é a verdade! Eu creio em tua força. Salvai-me! A cruz, cruz, padre…!"'.


5. O Bandido da Luz Vermelha

Em 1968, o diretor Rogério Sganzerla produziu o filme 'O Bandido da Luz Vermelha', inspirado nos crimes do famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa — que recebeu tal apelido que dá nome ao longa. 

+ Bandido da Luz Vermelha: o criminoso que aterrorizou São Paulo

"O assaltante João Acácio Pereira da Costa, conhecido como Bandido da Luz Vermelha, assalta residências, realiza fugas ousadas e gasta o dinheiro de forma extravagante. Porém, uma vez encurralado, recorre a medidas extremas", diz a sinopse. 

O filme icônico é um dos destaques do movimento conhecido como Cinema Marginal; que teve origem na região da Boca do Lixo em São Paulo, mas acabou com as cenas de sexo e nudez censuradas pelos militares.

Cena do filme 'O Bandido da Luz Vermelha' - Reprodução

 

Segundo recorda a Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, o longa possui recursos como a edição, cenários sujos e uma câmera inquieta que cria uma estética de terceiro mundo, fazendo dele um clássico que também faz parte da lista da Abaccine.

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