Em entrevista, a documentarista Monica Cerqueira recorda episódio na vida de Santos Dumont: 'existe documentação sobre a prisão dele'
Fabio Previdelli Publicado em 01/08/2024, às 18h00 - Atualizado em 03/08/2024, às 08h59
O coração moveu Santos Dumont. A paixão pelo céu o fez sonhar com um veículo aéreo que pudesse conectar as pessoas e culturas ao redor do mundo. Mas o coração que bateu acelerado em cada um de seus voos experimentais foi o mesmo que se partiu ao ver o avião sendo usado como máquia de destruição na primeira grande guerra.
O sentimentalismo na vida de Dumont é um dos fatores abordados no documentário 'Santos Dumont, O Céu na Cabeça', dirigido por Eder Santos e Monica Cerqueira, já disponível no Curta On!.
O filme, que revisita desde o nascimento do Pai da Avião na fazenda Cabungu (MG), em 1873, passando por sua vida na Europa, principalmente em Paris, até seu suicídio no Guarujá (SP), em 1932, também revela momentos um tanto quanto curiosos — e até esquecidos — da biografia do brasileiro.
Um exemplo curioso é sua estadia em uma comuna litorânea da Normandia. Por lá, com o início da Primeira Guerra, Santos Dumont chegou a ser acusado de ser um espião alemão. Mas o que levou isso a acontecer?
+ A Encantada: Chalé de Santos Dumont foi construído após aposta com amigos?
Conforme mostrado em 'Santos Dumont, O Céu na Cabeça', no início da Primeira Guerra, em meados de 1914, Santos Dumont passou a viver sozinho em uma casa no litoral francês, na comuna de Bénerville-sur-Mer, na região da Normandia.
Ele tinha um telescópio de fabricação alemã no telhado de sua casa porque ele gostava de olhar o céu noturno", disse o biógrafo britânico Paul Hoffman no documentário.
Segundo o autor, as pessoas desconfiavam pelo fato de Dumont ser um estrangeiro na França que usava um telescópio de fabricação alemã. "A Alemanha havia atacado a França e alguns franceses temiam que Santos Dumont fosse um simpatizante secreto, já que ele tinha este telescópio feito na Alemanha em seu telhado. Era meio absurdo".
"Mas ali estava um homem que havia sido um herói incrível na Europa, uma das pessoas mais famosas do mundo naquela época e agora, ele estava sendo tratado como um possível espião, na guerra", continua.
Com todo o clima que permeava o país, o uso do equipamento por Dumont chamaria a atenção de seus vizinhos, que denunciaram o inventor brasileiro para as autoridades francesas. Afinal, ele passava horas e horas todos os dias observando pelas lentes da ferramenta.
A suspeita era de que Santos Dumont pudesse ser um espião a serviço do governo alemão que estava coletando informações a respeito dos navios franceses que passavam pela costa da Normandia.
"As pesquisas levaram a isso, e tem uma documentação sobre a prisão dele na época", explica a diretora Monica Cerqueira em entrevista exclusiva à equipe do site Aventuras na História. "Isso é um fato documentado e registrado nos documentos policiais de Paris".
Mas como chegou a isso, eu não faço ideia. Talvez por ele ter se ausentado da aeronáutica. Depois do último acidente do Demoiselle, ele abandonou a aviação", explica a documentarista.
Já no litoral da França, diz Monica, Santos Dumont passou a ter um interesse maior pela astronomia, o que explica seu uso do telescópio.
"Eu acho que é aquele tipo de vizinho fofoqueiro, que não tem nada para fazer, no litoral da França. Vai lá e vê que ele tem um telescópio alemão, tá lá escondido, afastado da vida efervescente de Paris, como ele sempre esteve, acho que foi uma coisa assim de vizinho maldoso", especula Cerqueira.
O fato é que as denúncias tiveram grandes consequências na vida do inventor brasileiro, que não apenas teve documentos confiscados durante um mandado de busca da polícia, como também acabou confinado à sua casa em prisão domiciliar.
"Realmente mexeu com a cabeça dele. E depois que as autoridades francesas destruíram tudo em sua casa procurando documentos que pudessem provar que ele estava aliado à Alemanha, claro que eles não encontraram nada, mas ele ficou tão chateado que queimou muitos de seus desenhos, seus papéis, suas cartas", explica Hoffman no documentário.
A 'grande confusão' só foi desfeita após intervenção de seu amigo Antonio Prado Junior, que avisou a embaixada brasileira na França sobre a situação envolvendo o Pai da Aviação. Após o envolvimento dos diplomatas brasileiro, Dumont foi liberado pelo governo francês.
Pouco depois ao acontecido, Santos Dumont acabou deixando a região da Normandia e se mudou para a Espanha antes de, enfim, retornar ao Brasil. Após o fim do conflito, a França enviou ao brasileiro um pedido de desculpas formal pelo transtorno causado.
Isso é um triste episódio na vida de Santos Dumont", finaliza Hoffman.
Vitória de Donald Trump representa 'risco de turbulências', avalia professor
Há 90 anos, morria o ilustre cientista Carlos Chagas
Ainda Estou Aqui: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme
O Exorcista do Papa: O que aconteceu com o padre Gabriele Amorth?
Relação tempestuosa e vida reservada: Quem é Vivian Jenna Wilson, filha de Elon Musk
Confira 5 gladiadores que ficaram famosos no Império Romano