Na Itália, o antigo local ainda guarda mais de mil múmias e possuem em suas criptas uma curiosa tradição de embalsamento — que foi enterrada por um tabu em relação à morte apenas quebrado recentemente
Ingredi Brunato Publicado em 26/11/2020, às 07h00
As Catacumbas dos Capuchinhos ficam na região de Sicília, na Itália, e guardam em si muito da História do país, tendo sido construídas originalmente como uma extensão do cemitério dos membros da Ordem dos Frades Capuchinhos.
Todavia, ao longo das décadas enterrar seus entes falecidos nas criptas se tornou um símbolo de status, com as famílias nobres pagando uma certa taxa pela permanência de seus parentes no local. Isso resultou na extensão das catacumbas até que chegassem nas dimensões atuais.
Atualmente, o local é alvo não apenas de pesquisadores, mas também de interessados no ramo do turismo macabro. Para adaptar o local à circulação de pessoas, foram colocadas grades que impeçam os turistas de tirarem fotos com os cadáveres, e placas avisando que é proibido tirar fotos. Apesar disso, é possível conhecer parte do conteúdo das catacumbas através de mais de um programa de televisão que foi explorá-la levando as câmeras.
História
As Catacumbas dos Capuchinhos tem uma tradição de embalsamento e outras técnicas de preservação dos corpos mortos. Na época que era usada apenas para o enterro dos monges, eles já tinham o costume de desidratar os cadáveres e lavá-los em vinagre, para então colocá-los ou nas prateleiras do local, ou em armários de vidro lacrados.
Os corpos dos frades eram vestidos com vestes clericais, já quando começaram a ser enterradas outras pessoas, a roupa dos cadáveres passou a depender dos desejos da família e, em geral, seguir a moda do período.
Para organizar os corpos, as catacumbas são divididas entre as seguintes seções: Monges, Padres, Profissionais, Homens, Mulheres, Virgens e Crianças. Entre os enterrados, existem também algumas pessoas famosas, como o pintor siciliano Giuseppe Velásquez e os escultores Lorenzo Marabitti e Filippo Pennino.
Últimos anos
Os últimos enterros a serem feitos nas criptas datam de 1920. No total, as Catacumbas dos Capuchinhos abrigam oito mil cadáveres e 1.252 múmias. Também é interessante observar que as técnicas de embalsamento evoluíram.
Muitos mortos de depois de 1900 foram embalsados pelo professor Alfredo Salafia, que tinha uma fórmula especial para conseguir preservar os cadáveres de forma impressionantemente efetiva. Usando glicerina, uma solução de álcool e uma de formalina, ele era capaz de desidratar o corpo sem ressecá-lo demais, matar as bactérias e fungos que poderiam decompô-lo e ainda manter sua rigidez.
Outra curiosidade das criptas italianas é que nem todos os cadáveres estão dispostos da forma mais comum, em prateleiras ou caixões de vidro: alguns, na verdade, foram deixados em poses. Um exemplo são dois meninos em uma cadeira de balanço, que estão assim pelo desejo da família de vir fazer uma oração semanal segurando as mãos dos falecidos, para que pudessem “participar” dela.
“Por muitos anos, o assunto da morte foi tabu [na Sicília]. Agora, dada a importância científica do que está surgindo com essas múmias, as pessoas estão entendendo que, na Sicília, a morte sempre fez parte da vida. E por séculos, muitos sicilianos usaram a mumificação para garantir que houvesse uma relação constante entre a vida e a morte”, disse a antropóloga Dario Piombino-Mascali em uma publicação do Archaeology News Network em 2013.
A pesquisadora é líder do chamado “Projeto Múmias de Sicília”, que busca criar perfis para cada um dos indivíduos mumificados nas Catacumbas dos Capuchinhos. Para tanto, os corpos são radiografados e submetidos a análises para descobrir seu sexo, idade e data de falecimento.
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