Os Bibelforscher, como eram conhecidos, também foram alvos da Alemanha de Hitler, junto dos judeus, homossexuais e ciganos
Pamela Malva Publicado em 28/11/2019, às 15h58 - Atualizado em 26/01/2023, às 17h55
Com uma ideologia diferente de outros grupos cristãos, as Testemunhas de Jeová iniciaram seu trabalho missionário na Europa em meados de 1890. Adorando a Deus — que chamam pelo nome de Jeová — e seguindo Jesus, os adeptos já são mais de 8,5 milhões em todo o mundo.
Conhecidos como Bibelforscher, ou Estudantes Bíblicos, os membros da religião são conhecidos por pregar suas ideologias em lugares públicos e, de vez em quando, indo de porta em porta. Para os seguidores, o único compromisso é com Jeová e Jesus Cristo. E foi exatamente isso que incomodou os nazistas durante a Segunda Guerra.
Conforme as crenças das Testemunhas de Jeová, elas não podem jurar obediência a qualquer líder político, já que, na Bíblia, está determinado que não devem se manter neutros. Isso, para os alemães fiéis à Hitler, era a mesma coisa que contribuir “para a fragmentação ideológica do povo alemão”.
Sob a perspectiva nazista, era óbvio que, na verdade, as Testemunhas de Jeová se tratavam de bolcheviques, comunistas e judeus disfarçados, considerando que iam contra o regime. Portanto, deveriam ser perseguidos como os próprios judeus, os homossexuais e os adversários políticos. Mas, antes, os adeptos tiveram a chance de mudar o rumo da história.
Para evitar maiores perseguições, as Testemunhas de Jeová receberam a proposta de que, caso assinassem um termo, deixariam de ser alvos políticos. O documento, no entanto, incitava a renúncia da fé e a submissão à autoridade estatal — o que significava apoio aos militares da Alemanha nazista.
Sem surpresa, os Bibelforscher não concordaram com os termos e seguiram com suas atividades religiosas, adorando a Deus, distribuindo bíblias e pregando mensagens religiosas. Logo, as Testemunhas de Jeová se tornaram a primeira denominação cristã banida pelo governo nazista e a mais intensamente perseguida durante o regime.
Não obedecer ao Estado nazista incluía não servir ao exército, não votar em eleições, não saudar a suástica e muito menos dizer “Heil Hitler!”. Ao mesmo tempo em que a própria população alemã era encorajada a delatar as Testemunhas de Jeová, os religiosos não fizeram concessões ao Reich, chegando até mesmo a protestar contra o regime.
Durante todo o período nazista, entre os anos de 1933 e 1945, 10 mil Testemunhas de Jeová foram presas, 2 mil foram parar em campos de concentração — forçadas a trabalhar e usar um triângulo roxo para identificação — e 600 morreram sob custódia, sendo que 250 foram executadas.
Em 1931, o presidente do Reich, Paul von Hindenburg, emitiu o Decreto para a Resistência de Atos Políticos de Violência. Basicamente, a lei previa que ações fossem tomadas caso organizações religiosas fossem usadas contra o estado de forma “maliciosa”. Assim, a Baviera proibiu e confiscou todas as publicações estudantis da Bíblia em todo o estado.
Em maio de 1933, os Bibelforscher já haviam sido banidos de vários estados alemães. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e, por consequência, do Estado nazista, as Testemunhas de Jeová que ainda estavam sob custódia foram libertadas. Entretanto, muitas morreram devido aos anos de trabalho forçado, violência física e psicológica.
Em entrevista exclusiva ao site da Aventuras na História, Ricardo Carneiro, o porta-voz regional das Testemunhas de Jeová, falou sobre a dura perseguição sofrida pelo grupo religioso durante o Holocausto.
Confira, abaixo, a conversa na íntegra:
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