Logo após a morte do líder comunista, o pintor foi convidado para fazer um retrato homenageando-o; o resultado, porém, contrariou o Partido Comunista da França
Isabela Barreiros Publicado em 01/03/2020, às 08h00
Dez dias depois da morte de Stalin, em 15 de março de 1953, o artista espanhol Pablo Picasso teve seu retrato do governante soviético exposto na capa do jornal Les Lettres Françaises. Com traços marcantes de seu estilo próprio, o desenho, porém, recebeu críticas e foi considerado uma blasfêmia pelo Partido Comunista da França (PCF).
“Pelo retrato de Stalin assinado por Picasso pode se imaginar um arruaceiro com pinta de malandro”, detalhou o jornalista do El País Feliciano Fidalgo em 1983. Com essa descrição, é possível perceber porque os comunistas ficaram indignados com a representação de Picasso.
Um enorme bigode já era característico de Stalin, mas seus olhos esbugalhados e cabelo bizarro foram duramente criticados. De acordo com o biógrafo de Picasso Rafael Inglada, a arte foi uma afronta ao governo da União Soviética.
“O retrato de Stálin que Picasso fez após a morte do ditador soviético foi, penso eu, uma resposta às exigências do que deveria ser arte para uma potência como a Rússia. Foi o biógrafo e amigo de Picasso, Pierre Daix, que enviou um telegrama ao artista, em nome de Louis Aragon, para que participasse com um desenho da edição especial que seria dedicada ao falecido líder soviético na Les Lettres Françaises”, explica Inglada.
Apenas três dias depois, o PCF divulgou uma nota demonstrando sua insatisfação, alegando que “o secretariado do PCF desaprova categoricamente a publicação do retrato do grande Stalin”.
Além disso, também consideraram o retrato uma “caricatura insultante e vulgar do grande guia dos povos”, acusando Picasso de “blasfêmia” e exigindo que todos os exemplares fossem destruídos para preservar a honra do comunista.
O artista havia feito a obra utilizando apenas carvão, utilizando uma fotografia de 1903 de Stalin como referência. Ele queria representa-lo ainda jovem, antes da ascensão ao poder na União Soviética. O desenho foi feito no dia 8 de março, indo para a edição do jornal que foi lançado apenas quatro dias depois.
Inglada ainda narra que a obra foi feita quando o Picasso estava na casa da pintora francesa Françoise Gilot. Diz também que os dois riram muito do resultado, tanto que ele ficou com soluço ao final do episódio.
Poucos dias depois, o L’Humanité divulgou uma nota desaprovando o retrato. “Sem questionar a integridade do grande artista, cujo compromisso com a causa da classe operária é conhecido por todos, o secretário do Partido Comunista Francês lamenta que o camarada Aragon, membro do Comitê Central e diretor da Les Lettres Françaises, que, por sua vez, conduz uma luta corajosa para o desenvolvimento da arte realista, tenha permitido a sua publicação”, escreveram.
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