Arcebispo de San Salvador, ele denunciava violações contra os direitos humanos. O preço pela justiça, contudo, foi alto demais
Pamela Malva Publicado em 26/01/2021, às 20h00 - Atualizado às 20h11
Em outubro de 2018, um monsenhor de El Salvador conhecido como “o Santo da América” foi canonizado pela Igreja Católica. O homem, entretanto, não teve uma vida fácil, apesar de ser defensor dos direitos humanos, da paz e dos mais pobres.
Tendo denunciado um esquema de perseguição em seu país contra os membros da sacristia, Óscar Arnulfo Romero não encontrou a ajuda que desejava. Quando foi falar com o Papa João Paulo II, por exemplo, ele recebeu uma resposta diferente do esperado.
A saga do monsenhor contra o governo militar e as guerrilhas de El Salvador, todavia, estava apenas começando. Sem saber, Óscar tornou-se alvo de uma organização sedenta por sangue, que não seria parada nem pela beatificação de um padre.
Um garoto com propósito
Nascido em agosto de 1917, no município de Ciudad Barrios, Dom Óscar Romero era um menino de origem simples, herdeiro de uma família comum. Aos 12 anos, por exemplo, teve de trabalhar com carpintaria para ajudar os pais na renda da casa.
Em meados de 1930, contudo, o menino decidiu entrar para o seminário. Não demorou até que ele descobrisse que aquela era a sua vocação e, assim, Óscar foi nomeado arcebispo de San Salvador, capital do país onde nasceu e cresceu.
Conforme sua influência entre as camadas religiosas da população ia crescendo, o monsenhor arrecadava cada vez mais inimigos. Isso porque, com sua voz insurgente, ele passou a criticar violações dos direitos humanos que via pelas ruas de El Salvador.
Caminho da igreja
O clima de tensão em torno das denúncias feitas por Dom Óscar só aumentava, mas o Vaticano nunca chegou a reconhecer os episódios. Quando o monsenhor tornou-se um arcebispo, inclusive, ele sequer recebeu apoio da Igreja.
Foi apenas quando camponeses e sacerdotes foram assassinados pelas forças de segurança de El Salvador que o religioso decidiu mudar de abordagem. Na época, até o padre Rutilio Grande, um amigo íntimo de Óscar, foi morto pelo movimento.
Daquele dia em diante, o arcebispo soube que teria de aumentar ainda mais o volume de sua voz, a fim de combater o estrondo das armas e da violência. Em 1979, então, Óscar solicitou uma audiência com o Papa João Paulo II.
Uma reunião inusitada
Inicialmente, o encontro entre os dois representantes do catolicismo foi negado. Dom Óscar, todavia, sabia que não poderia desistir e foi até Roma mesmo assim. "Como um mendigo, tive que implorar para conseguir", contou à jornalista María López Vigil.
Nascida em Cuba, a mulher escreveu a biografia "Monseñor Romero: Peças para um retrato", em homenagem ao homem que não se calou. No livro, ela conta como foi o encontro entre Dom Óscar e o Papa João Paulo II.
Naquele dia, tendo acordado cedo para conseguir um lugar na primeira fila na Praça de São Pedro durante a saudação papal, o arcebispo conseguiu pegar nas mãos do Santo Padre. “Sou o arcebispo de San Salvador, preciso falar com o senhor”, pediu Óscar.
As barreiras da Igreja
Uma vez conquistada a audiência, Dom Óscar mostrou ao Papa diversos recortes de jornais e outros documentos que ele próprio reuniu. Segundo o arcebispo, os trechos indicavam uma forte perseguição contra ele mesmo, o povo e a Igreja em El Salvador.
Em resposta aos muitos artigos e à foto do cadáver do padre Octavio Ortiz, que teria sido assassinado, João Paulo II pareceu indiferente. "Monsenhor, aqui não temos tempo para ler tantas coisas. Não venha aqui com tantos papeis", disse o pontífice, segundo Óscar.
A indignação maior, contudo, veio quando o arcebispo tentou dizer ao Santo Padre que Ortiz foi acusado de ser um guerrilheiro. Desconfiado, o papa respondeu: "E ele não era, monsenhor?". Nesse momento, Óscar não pôde acreditar que, apesar do assassinato cruel de outro padre, João Paulo II estava duvidando da índole da vítima.
O fim de uma voz insurgente
Depois do fatídico encontro, Dom Óscar retornou para El Salvador, apenas para encontrar um enorme alvo em suas costas. No dia 24 de março de 1980, o arcebispo foi assassinado enquanto celebrava uma missa em San Salvador.
As circunstâncias da morte do religioso permanecem um mistério até hoje, já que a identidade do extremista de direita que atirou contra o monsenhor nunca foi revelada. Sua execução, inclusive, é tida como o estopim para uma guerra civil que durou 12 anos.
Beatificado em 2015, Dom Óscar foi reconhecido como santo em 2018, depois que a Igreja Católica lhe atribuiu um milagre. Na época, ele salvou a vida de Cecilia Flores, que teve complicações na terceira gravidez e cujos filhos rezaram pela ajuda do Santo da América — que, ainda assim, chegou a ser considerado controverso pelo Vaticano.
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