Garotas tiradas à força de suas casas em Penang, na Malásia, para trabalhar como "mulheres de conforto" para o Exército japonês - Wikimedia Commons
Segunda Guerra

Soldados japoneses tinham escravas sexuais durante a Segunda Guerra

O Exército Imperial Japonês solicitava uma “mulher de conforto” para cada 70 combatentes; a palavra é um eufemismo para a prostituição forçada de moças chinesas, sul-coreanas e filipinas durante o conflito

Isabela Barreiros Publicado em 10/12/2019, às 16h19

Em meio a guerras, governos e militares tomam atitudes que, posteriormente com o fim dos conflitos, são reveladas e tidas como antiéticas e até mesmo criminosas. Durante a Segunda Guerra, muitos foram os casos de autoridades que tiveram terríveis condutas — e uma dessas situações se passou com o Exército Imperial Japonês.

No decorrer do confronto, soldados japoneses tinham “acesso” a escravas sexuais. Essas mulheres eram trazidas da China, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália, Filipinas e ainda do próprio Japão. O sistema chamado de "mulheres de conforto" existiu entre os anos da guerra, principalmente em 1938, ano registrado nos 13 despachos secretos dos japoneses na China.

Estima-se que 50 a 200 mil mulheres tenham sido obrigadas à prostituição pelo governo japonês. Os números, no entanto, seguem em disputa entre historiadores, que ainda não definiram a totalidade dessa operação.

Mulheres de conforto em Myitkyina em 1944 / Crédito: Wikimedia Commons

 

O Exército japonês solicitava, naquela época, uma escrava sexual para cada 70 soldados, segundo os 23 documentos reunidos pela Secretaria do Gabinete do Japão entre abril de 2017 e março de 2019. A agência de notícias nipónica Kyodo News reuniu todos os documentos históricos sobre o caso a fim de conseguir dar um panorama detalhado sobre a pouco conhecida situação.

Mas porque os militares decidiram tomar tal atitude? Acredita-se que o objetivo do tráfico sexual forçado de mulheres tenha sido impedir a propagação de doenças venéreas entre os soldados durante os períodos de conflito, além de diminuir os crimes de estupro cometidos por eles.

Foi apenas em 1993 que o então secretário-chefe do político japonês Yohei Kono, porta-voz do Governo, desculpou-se publicamente pelo sistema de "mulheres de conforto". Naquele ano, ele também admitiu o envolvimento do Exército com esse transporte ilegal de mulheres.

Historiadores japoneses vão ainda mais longe nessa análise, alegando que tanto o Exército quanto a Marinha Imperial Japonesa estavam diretamente ligados à situação. De acordo com testemunhos de ex-mulheres de conforto, muitas delas foram coagidas, enganadas com ofertas de trabalho e ainda raptadas em territórios sob domínio japonês.

Chinesa entrevistada por um oficial Aliado em um dos "batalhões de conforto" do Exército japonês / Crédito: Wikimedia Commons

 

A questão ainda gera muitos debates principalmente entre o Japão e a Coreia do Sul. Em 2015, o primeiro fez um pedido de desculpas e enviou US$ 8,84 milhões para uma organização de amparo às vítimas do sistema de mulheres de conforto. Mas a Coreia do Sul ainda não considera as atitudes suficientes, continuando com inúmeros processos em tribunal no país.

"A Coreia do Sul nunca teve seus próprios dados sobre as mulheres de conforto e vinha dependendo de dados japoneses ou norte-americanos. É crucial para a Coreia do Sul ter seus próprios dados sobre a questão das mulheres de conforto” disse Kang Sung-hyun, pesquisador da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul à Reuters.


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Silenced No More: Voices of 'Comfort Women' (English Edition), Sylvia S.J. Friedman (2015) - https://amzn.to/2RDzD5q

Comfort Woman: A Filipina's Story of Prostitution and Slavery under the Japanese Military (Asian Voices) (English Edition), Maria Rosa Henson (2016) - https://amzn.to/346XJYT

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