Shintaro Tsuji, fundador da Sanrio, no série documental 'Brinquedos que Marcam Época' - Divulgação/Netflix
Hello Kitty

Shintaro Tsuji, o homem por trás da criação da Hello Kitty

Um dos maiores ícones da História, Hello Kitty tem uma curiosa origem

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 25/07/2023, às 17h33 - Atualizado em 11/01/2024, às 11h50

Uma criatura branca, que usa lacinho, roupinha e não tem boca. Essa descrição em poucas palavras dos simples traços que compõem a Hello Kitty já é suficiente para fazer qualquer pessoa reconhecê-la, por mais que a personagem já tenha quase 50 anos — ou seja, se o objetivo de seus criadores era marcar o mundo, eles conseguiram.

Entretanto, em seus quase 50 anos de história, a gatinha branca não é reflexo de uma história de muito sucesso desde seu início. Pelo contrário: a empreitada de Shintaro Tsuji no mercado de "coisinhas" lhe custou muito, e a empresa por trás da Hello Kitty, a Sanrio, quase teve suas portas fechadas. Mas afinal, como se deu a criação de uma das personagens mais famosas já criadas? Entenda!

Um Japão mais fofo

Mais conhecido como Papa Tsuji, Shintaro Tsuji era, ainda no começo da década de 1960, um empresário público japonês. Porém, em dado momento ele decidiu que queria abandonar sua carreira. Com o lema "pequeno presente, grande sorriso", decidiu fundar a empresa que mudaria os rumos de sua vida: a Sanrio.

É importante compreender que, na cultura japonesa, é um hábito bastante comum dar algum pequeno presente quando se visita alguém, bem como uma ideia de "lembrancinha". Graças a esse costume que o simples lema de Tsuji se tornou, na verdade, uma grande estratégia de marketing.

Ao contrário do que muitos pensam, a Sanrio não se parecia com o que imaginamos hoje em dia, em seus primórdios. Isso porque, em vez de brinquedos, materiais escolares, e quaisquer outras coisas que se imaginar, em seu princípio sua produção era resumida a itens básicos do dia a dia: pantufas, chinelos e xícaras de chá.

Porém, quando "descobriu que, ao adicionar um pequeno morango, o item se tornava muito mais adorável" — como explica a antropóloga Christine Yano, na série documental 'Brinquedos que Marcam Época', da Netflix —, e que esse mero detalhe alavancaria suas vendas, uma luz chegou à mente de Papa Tsuji. Foi nesse ponto que percebeu que, embora a sociedade japonesa fosse mais conhecida pelas histórias de samurais, era possível que a fofura estivesse presente no dia a dia. 

Item considerado "o primeiro sucesso da Sanrio" / Crédito: Reprodução/Netflix

 

Mundo dos desenhos

Porém, uma simples fruta nos produtos não seria suficiente para aumentar as vendas a ponto de agradar Papa Tsuji. Um visionário, logo percebeu que seria também uma ideia inteligente se associar a quadrinistas e outros ilustradores que, em vez de aprimorar as estampas simples, começaram a colocar seus próprios personagens nos produtos.

O sucesso foi tanto que personagens cada vez mais conhecidos foram associados à Sanrio, como a turma do Snoopy e Charlie Brown, muito populares no Japão — assim como vários outros produtos de origem norte-americana. E mais uma vez, a ideia deu tão certo, que o próximo passo de Shintaro Tsuji seria contratar uma equipe de ilustradores e, então, criar o próprio "Sanrioverso".

Foi assim que, não abandonando o princípio da empresa, de fazer seus produtos serem fofos, que surgiu a simples e emblemática ilustração da Hello Kitty, uma personagem branca com lacinho, seis fios de bigodes e sem boca — uma criação indiscutivelmente fofa, ou melhor dizendo, "kawaii", como falam os japoneses — que foi desenhada pela primeira vez para estampar uma bolsinha de moedas.

O primeiro item fabricado com a estampa da Hello Kitty / Crédito: Reprodução/Netflix

 

Mercado diferente

Diante do grande sucesso da Sanrio — que contava com inúmeros personagens, vários deles tão populares quanto a Hello Kitty, inclusive —, Papa Tsuji arriscou dar um próximo passo em sua expansão empresarial: queria conquistar o mercado estadunidense, tanto quanto conquistou o japonês.

Porém, embora a ideia fosse promissora, a verdade é que não deu tão certo. No território norte-americano, a cultura japonesa não era tão difundida quanto é hoje em dia, e por isso muitos dos produtos vendidos simplesmente não se encaixaram.

Além disso, a personagem da adorável possuía uma desvantagem se comparada a outros personagens mais populares: ela não tinha um desenho animado ou quadrinho para conquistar sua própria base de fãs. E nem boca, o que não passaria batido.

Assim, a empreitada em solo norte-americano se mostrou uma ideia não muito frutífera, e a Sanrio se viu numa turbulência financeira. Porém, paralelamente, no Japão seguia rentável e conquistava um novo espaço em uma sociedade já amadurecida acostumada com o "kawaii" no dia a dia; ela havia se tornado descolada.

A gata gigante

Com a chegada do novo milênio, a virada do século XX para o XXI, a Hello Kitty começou a se tornar um símbolo recorrente no look de várias celebridades, como Rihanna, Katy Perry, Lady Gaga, Paris Hilton... E como a Sanrio sempre teve o costume de produzir os mais variados artigos com uma simples estampa, ela também inovava: já existiam eletrônicos e joias da Hello Kitty em vários lugares.

Shintaro Tsuji, fundador da Sanrio / Crédito: Reprodução/Netflix

 

Hoje, mesmo que a Sanrio tenha criado dezenas de personagens ao longo de sua história, indiscutivelmente a Hello Kitty é a mais emblemática de todos, sendo a verdadeira "cara" da empresa, tanto quanto o Mickey é para a Disney. No banheiro, nos quartos e guarda-roupas, em cadernos, bolsas, joias e todo tipo de produto que se imaginar, a personagem ocupa a todos os lugares.

E foi assim que, com um "pequeno presente e um grande sorriso", que Papa Tsuji trouxe ao mundo não só um símbolo de quase meio século, como também uma figura eterna na cultura kawaii.

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