Durante três anos, Sheryl Kellison namorou com Kenneth Bianchi. Apesar do tempo da relação, ela jamais imaginou que o amado fosse responsável pelo assassinato de mais de 10 mulheres
Fabio Previdelli Publicado em 07/08/2022, às 10h00
No final dos anos 1970, Sheryl Kellison, que tinha apenas 17 anos na época, e sua amiga Lisa, estavam dirigindo despreocupadas pelo subúrbio de Eagle Rock, em Los Angeles, quando um Chevy Impala com quatro homens dentro encostou ao lado delas.
O grupo abordou as adolescentes e se dispuseram a pagar refrigerantes para as moças em um Tommy’s próximo — uma rede de fast food bem popular no sul da Califórnia. Elas concordaram e logo fizeram amizade com os rapazes.
Pouco depois, um deles, Kenneth Bianchi, convidou Kellison para sair. Ela aceitou, apesar de Bianchi ser oito anos mais velho que ela. Não demorou muito para que os dois começassem a namorar.
Apesar da peculiaridade, a relação parecia como qualquer outra, ainda mais quando Kenneth passou a visitar a casa de Sheryl e se aproximar de seus pais. "Ele jantava conosco", recorda Kellison em entrevista à People.
Meu pai estava muito doente e entrava e saía do hospital, e ele ia para o hospital, barbeava meu pai e o alimentava", conta.
Até aquela altura, jamais passava por sua cabeça que seu príncipe encantado, na realidade, era um serial killer. A relação entre eles durou cerca de três anos e, durante o período, Sheryl jamais desconfiou que Bianchi fosse responsável por mais de 10 assassinatos de mulheres ao lado de seu primo, Angelo Buono.
Os crimes ficaram conhecidos como os assassinatos "Hillside Strangler", ocorridos durante um período de quatro meses — entre outubro de 1977 e fevereiro de 1978. "Nunca em meus sonhos mais loucos eu pensaria que era ele", diz. “Ele foi doce comigo”.
Apesar do tempo relativamente curto, os crimes chamaram a atenção da grande mídia e logo os assassinatos estamparam as manchetes nacionais. Segundo a People, acredita-se que os dois atraiam suas vítimas para a loja de estofados de automóveis de Buono, em Glendale.
Se passando por policiais, eles algemavam suas vítimas, as agrediam sexualmente e depois as matavam. Grande parte delas foram encontradas nuas e estranguladas. Os cadáveres eram deixados espalhados nas encostas. As vítimas tinham entre 12 e 28 anos, e eram desde estudantes até profissionais do sexo.
Por conta dos casos, a polícia local recebeu diversas pistas de denúncias anônimas; o que incluiu a mãe de Kellison. "Ela tinha um pressentimento" sobre Bianchi, recorda. À época, a suspeita ainda não havia sido revelada para Sheryl.
[A polícia] foi examiná-lo, e eles voltaram e disseram a ela: 'Sra. Kellison, você não tem nada com que se preocupar. Ele saiu bem’. Ele ligou seu charme. Ele enganou os policiais”, diz.
Para Alexa Danner, diretora de ‘The Hillside Strangler: Devil in Disguise’, uma série documental sobre o caso, isso pode ser explicado por um outra ótica. "Pode ter havido um pouco de sexismo envolvido, talvez mais do que um pouco, na maneira como algumas dessas pistas foram tratadas”.
"A polícia pode ter pensado que a mãe de Sheryl era uma mulher muito reativa. Eles não tinham nenhuma evidência clara para vincular Ken aos assassinatos além de um punhado de suspeitas”, aponta.
Mas as suspeitas se confirmaram em 12 de janeiro de 1979, quando Bianchi, com 27 anos na ocasião, foi preso por ter estrangulado duas estudantes universitárias, Diane Wilder e Karen Mandic, no estado de Washington.
“Eu estava em negação”, diz Kellison sobre sua reação ao ouvir dos policiais de Los Angeles que visitaram sua casa para contar sobre a prisão de Kenneth. Porém, ela recorda que quanto mais ela pensava em tudo o que aconteceu, mais as coisas "começavam a fazer sentido".
Certa vez, conta à People, ela chegou a levar Bianchi para fazer uma entrevista de emprego em um cemitério. Quando ele saiu do local, porém, disse que não tinha mais interesse na vaga. "Uma semana depois, um dos corpos foi encontrado lá", recorda.
Ele estava apenas procurando um lugar para deixar sua próxima vítima."
Por certo tempo, Bianchi negou qualquer tipo de envolvimento nos assassinatos. Mas, eventualmente, um acordo judicial para evitar sua pena de morte o convenceu a testemunhar contra Buono.
“Uma das coisas que são realmente atraentes, mas também confusas, sobre Ken Bianchi é sua capacidade de ser um camaleão”, diz Danner. "É difícil saber com Ken Bianchi o que é verdade e o que não é. E acho que essa é uma das questões centrais do caso."
Por fim, Angelo Buono acabou sendo considerado culpado por nove dos 10 assassinatos pelos quais foi indiciado. Por conta disso, foi condenado à prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional. Ele morreu em 2002, aos 67 anos, de causas naturais. Já Kenneth Bianchi continua preso. Aos 71 anos, ele cumpre uma pena perpétua no estado de Washington.
Para Sheryl Kellison, um ponto foi fundamental para ela não ter se tornado vítima do serial killer: o relacionamento próximo que Bianchi tinha com seus pais. "Ele não queria machucá-los".
Essa é a única razão pela qual eu ainda estou aqui”, finaliza.
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