Interpretada por Jessica Córes na nova produção da Netflix, a bela sereia tem uma origem bastante trágica, segundo o folclore
Pamela Malva Publicado em 21/02/2021, às 09h00 - Atualizado às 10h00
Durante uma corrida matinal para tentar superar o luto da esposa que morreu recentemente, Eric se depara com uma cena improvável. No meio da praia, um grupo de pessoas tenta socorrer um Boto cor-de-rosa que apareceu misteriosamente na areia.
Ao lado do animal, o homem percebe uma jovem de cabelos compridos e trançados, que reforça a urgência de retirar o Boto daquele local. Agente da Polícia Ambiental, todavia, Eric não permite a movimentação da espécie, que vive em águas doces.
Assim que o oficial se abaixa para verificar a saúde do animal, a mulher de vestido azul some, da mesma forma que o resto das pessoas que tentavam socorrer o Boto. Essa é primeira vez que Eric, o protagonista de Cidade Invisível, a mais nova série da Netflix, encontra com Iara, uma das mais famosas personagens do folclore brasileiro.
Pérola dos rios
Com origem no idioma tupi, o termo “Iara” é a junção entre “ig” (“água”, em português) e “iara” (que significa “senhor”). Sendo assim, a figura folclórica seria a "senhora das águas", uma mistura entre mulher e peixe que vive nos rios da Amazônia.
Dona de uma beleza estonteante, de uma voz hipnotizante e de riquezas imensuráveis, Iara é uma criatura inteligente, que seduz com seus melhores atributos. Seja em barcos ou nas margens dos rios, nenhum homem consegue resistir aos encantos da sereia.
Reza a lenda que todo humano capturado por Iara desaparece nas águas dos rios e nunca mais é visto em vida. E caso consiga escapar do feitiço da Mãe d’água, a vítima entra em um estado de torpor absoluto, que apenas um pajé consegue curar.
Uma jovem guerreira
Comumente descrita como uma jovem de olhos castanhos e longos cabelos pretos, Iara era filha do pajé de sua aldeia, segundo narra o folclore. Herdeira de um grande poder, a jovem ainda era uma guerreira excepcional.
Dona de tamanha força, Iara vivia sob a constante inveja dos irmãos, que queriam ser como ela. Um dia, então, eles se uniram contra a garota, a fim de destruí-la. Em sua defesa, a jovem matou cada um dos irmãos durante a trágica batalha.
Mesmo vencedora, Iara temeu a fúria de seu pai e, por isso, tentou fugir, mas acabou capturada e jogada em um rio pelo próprio pajé. Já nas águas amazonenses, ela foi acolhida pelos peixes e, em uma noite de lua cheia, transformou-se em uma sereia.
As origens de uma lenda
Parte crucial do folclore brasileiro, Iara é constantemente associada com Iemanjá, a rainha das águas, um orixá de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé. Ainda mais, a sereia do Amazonas também é comparada com outros mitos indígenas, como a lenda de Ipupiara, um monstro que habita os rios da região.
Para o potiguar Luís da Câmara Cascudo, um dos maiores folcloristas do Brasil, no entanto, a origem de Iara está bem longe do Amazonas e da África. Segundo o especialista, a lenda da sereia sedutora teria nascido de um folclore europeu.
Acontece que, até o século 17, não existiam quaisquer registros de uma criatura parecida com Iara nos mitos indígenas. Muito pelo contrário, a ideia de um ser "meio mulher e meio peixe" teria sido introduzida pelos portugueses, que tinham como referência as sereias da cultura grega, com suas vozes sensuais.
Uma personagem memorável
Ainda de acordo com Câmara Cascudo, ao chegarem em território brasileiro, os portugueses se depararam com o mito do Ipupiara e com a ideia de que tudo na Terra tem uma mãe. Juntando as duas narrativas, então, os colonos teriam criado a Mãe d’água, que, com o tempo, tornou-se Iara, segundo a teoria do folclorista.
Hoje, a imagem da sereia que seduz suas vítimas para o fundo dos rios faz parte do folclore brasileiro e já foi representada em diversas obras. O poeta Olavo Bilac, por exemplo, descreveu as belas características da sereia no poema “A Iara”.
De cabelos pretos, castanhos ou verdes, a sereia também já apareceu na versão cinematográfica do romance Macunaíma, em 1969, e no texto "Oiará", do naturalista americano Herbert Huntingdon Smith. Em Cidade Invisível, nova produção de Carlos Saldanha, por fim, a personagem do folclore é representada por Jessica Córes.
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