Jean Seberg: Realidade e ficção - Getty Images e Divulgação
Seberg Contra Todos

Seberg Contra Todos: Veja a trágica história real por trás do filme

Estrela do cinema francês, Jean Seberg fez muito sucesso, mas acabou perseguida pelo FBI e teve sua história retratada em Seberg Contra Todos

Fabio Previdelli Publicado em 27/07/2024, às 10h00 - Atualizado em 28/07/2024, às 11h50

Baseado em uma história real, o filme "Seberg Contra Todos" revive a história da atriz norte-americana Jean Seberg, considerada uma das grandes artistas da nouvelle vague do cinema francês, mas que teve um final trágico.

Em 1968, a atriz Jean Seberg chama a atenção do FBI quando inicia um romance com um integrante dos Panteras Negras. Sofrendo uma série de intimidações, ela vê sua vida se transformar num terrível pesadelo", diz a sinopse do longa. 

Saiba mais sobre a história de vida da atriz que apareceu em mais de 30 filmes, teve uma vida marca em polêmicas e morreu de forma controversa e trágica quando tinha apenas 40 anos!

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A carreira de atriz

Um dos quatro filhos de um farmacêutico com uma professora substituta, Jean Dorothy Seberg nasceu em Iowa, nos Estados Unidos, em 13 de novembro de 1938. Desde seus cinco anos, sonhava em seguir uma carreira artística — algo que começou a se concretizar quando tinha 18. 

Desde cedo Seberg teve que conviver com a tragédia. Afinal, em 1968, perdeu seu irmão mais novo David, de 18 anos, em um acidente de carro, recorda matéria do E! Online. 

Jean foi descoberta pelo renomado diretor Otto Preminger, estreando nos cinemas no papel de Joana D’Arc em Saint Joan (1957). Apesar das críticas não tão positivas, Otto insistiu no trabalhando de Seberg a escalando para seu filme seguinte: Bonjour Tristesse (1958).

Foi nos bastidores desta segunda produção, aliás, que ela conheceu seu primeiro marido, François Moreuil. Eles se mudaram para a França, onde a atriz se tornaria estrela dos filmes da Nouvelle Vague.

Na Cidade-Luz, foi convidada por Jean-Luc Godard para participar do filme Breathless (Acossado, em tradução, de 1960) ao lado de Jean-Paul Belmondo. A produção se destacou dentro do revolucionário movimento do cinema novo francês. 

Jean Seberg em filme - Domínio Público

 

Embora essa parte de sua vida tenha sido de abundância profissional, participando de diversas produções intercalando entre os Estados Unidos e a França, Seberg não podia dizer o mesmo de sua vida pessoal: sofreu com o relacionamento abusivo. 

Segundo jornais locais, como o Toledo Blade, de Ohio, a relação de Jean com Moreuil passou a se estremecer quando ela assumiu o papel principal na estreia do companheiro como diretor, em Love Play (1961), visto que os bastidores era um "puro inferno" e François "gritaria com [ela]" e a humilharia publicamente. Logo, os dois se separaram. 

No final da década, Jean Seberg estava cada vez mais inserida em Hollywood, mas também gozando de grande prestígio nos filmes franceses. Dividida entre os dois continentes, ela se casou novamente, em 1962, com Romin Gary, com quem teve um filho. 

Perseguição do FBI

Desde o início de sua carreira, Jean Seberg sempre foi engajada com causas sociais, principalmente a luta pelos Direitos Civis. Conforme aponta David Richards em 'Played Out: The Jean Seberg Story', em tempos que a segregação racial nos EUA era ainda maior.

A atriz usou seu dinheiro para, entre outras coisas, comprar uma casa para alunos negros que estudavam na Iowa Valley Community College — que ficava perto de onde ela nasceu. 

Maso, sua benfeitoria não era bem vista pela comunidade conservadora, e branca, do estado. No final dos anos 1960, o FBI tomou conhecimento de vários presentes que Seberg havia feito ao Partido dos Panteras Negras: doações que passavam dos 10 mil dólares. 

Segundo recorda o The New York Times, uma operação do FBI contra Seberg, supervisionada diretamente por J. Edgar Hoover, usou técnicas para assediá-la, intimidá-la, difamá-la e desacreditá-la. 

O serviço doméstico de inteligência e segurança dos Estados Unidos teria ficado de olho em Seberg por seu relacionamento com o líder do movimento, Hakim Jamal, primo de Malcolm X. Os dois se conheceram quando a atriz estava em Los Angeles. 

A operação do FBI para 'neutralizar' Jean Seberg, que só foi tornada pública após sua morte, ia além de uma campanha difamatória. O programa COINTELPRO também grampeou seus telefones, revirou a casa da atriz algumas vezes e até mesmo agentes a assediaram pelas ruas. 

A situação ficou ainda pior depois que um artigo, publicado no Los Angeles Times e na Newsweek, apontou que Seberg estava grávida de Jamal. Naquele período, embora separada de Romain Gary, eles não estavam oficialmente divorciados. 

Colunas de fofoca também especularam que o filho poderia ser de Raymond Hewitt, outro membro dos Panteras Negras. O fato é que o filho que Jean esperava não era de Romain — algo que só foi admitido depois de sua morte —, tampouco de Jamal ou Hewitt. Conforme reconhecido mais tarde, a criança era fruto de um romance com o estudante revolucionário mexicano Carlos Navarra

O fato é que diante de toda pressão, visto que quando os artigos foram publicados, Jean estava em seu sétimo mês de gestação, a gravidez a deixou em estado de completo estresse; o que ocasionou o parto prematuro da pequena Nina, que nasceu em 23 de agosto de 1970 pesando apenas 1,8 quilo. A menina sobreviveu apenas por dois dias. 

O trágico fim 

Jean Seberg jamais se recuperou da perda da filha, mas tentou seguir a vida. Em 12 de março de 1972, ela se casou pela terceira vez, agora com o diretor Dennis Berry, de quem se separou em maio de 1975 — mas nunca se divorciou. 

Em 30 de agosto de 1979, Jean Seberg desapareceu de seu apartamento em Paris. Seu corpo só foi encontrado nove dias depois, em 8 de setembro, em estado de decomposição enrolado em um cobertor no banco traseiro de seu carro.

A polícia encontrou uma garrafa de barbitúricos, uma garrafa vazia de água mineral e um bilhete escrito em francês por Seberg endereçado a seu filho: "Perdoe-me. Não posso mais viver com meus nervos".

Túmulo de Jean Seberg - Mu via Wikimedia Commons

 

No mesmo ano, sua morte foi considerada um possível caso de suicídio pela polícia de Paris, apontam Michael Coates-Smith e Garry McGee no livro "The Films of Jean Seberg". As investigações disseram que o óbito ocorreu devido uma combinação de álcool e remédios.

Romain Gary, o segundo marido de Seberg, convocou uma coletiva de imprensa logo após sua morte, na qual culpou a campanha do FBI contra Seberg pela deterioração de sua saúde mental, apontando que a atriz "tornou-se psicótica" depois que a mídia relatou a história falsa, plantada pelo FBI, de que ela estava grávida de um filho dos Panteras Negras. 

Além do mais, Romain, assim como muitas outras pessoas, suspeitavam que Seberg pudesse ter sido assassinada. O fato é que, um ano depois, em 2 de dezembro de 1980, Gary se matou com um tiro. Em um bilhete de despedida, ele disse que sua morte não tinha relação com o suicídio de Seberg

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