Com uma saúde já bastante debilitada, o político não sobreviveu ao cruel episódio que matou mais de 30 milhões de pessoas
Pamela Malva Publicado em 03/08/2020, às 17h12
Poucos meses antes do final da Primeira Guerra Mundial, um soldado norte-americano se queixou de fortes dores de cabeça. Em treinamento no estado do Kansas, o militar logo se tornaria o primeiro paciente já registado com a terrível Gripe Espanhola.
No dia 4 de março de 1918, o jovem não resistiu aos sintomas da enfermidade e seu atestado de óbito foi rotulado com uma doença que, até então, era desconhecida. Não demorou muito, entretanto, que outros países registrassem as mesmas condições.
Pacientes na França, Bélgica e Alemanha demonstraram ter os mesmos sintomas e, em maio, um festival religioso na Espanha causou um surto da doença — a gripe, inclusive, foi nomeada a partir do episódio. Logo, o Brasil entrou para as estatísticas.
Vindo de Lisboa, o navio Demerara passou pelos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro, infectado centenas de pessoas. Uma delas, bastante respeitada pelo povo, foi Francisco de Paula Rodrigues Alves, o quinto presidente da República.
Nos braços de Morfeu
Nascido na Fazenda do Pinheiro Velho, em Guaratinguetá, Francisco era o terceiro filho de comerciantes e fazendeiros. Seu pai, vindo de Viana do Castelo, uma cidade portuguesa, construiu a família com as poucas moedas que tinha no bolso, em 1832.
Em meados de 1870, já sonhando com a vida de político, o jovem formou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Rodrigues Alves retornou para sua cidade natal e foi nomeado promotor interino, sendo efetivado logo em seguida.
Três anos mais tarde, após desempenhar o cargo de juiz, ele desempenhou seu primeiro mandato como deputado da província. Aquele era o começo da trajetória política de um homem bastante reservado, conhecido como ‘Morfeu’ ou ‘Soneca’ por sua cômica reputação de dorminhoco.
Opiniões políticas
Quando jovem, Rodrigues Alves entrou para algumas associações, sendo a mais expressiva delas conhecida como Burschenschaft, uma sociedade secreta no Largo de São Francisco. Lá, ele ainda ofereceu apoio jurídico aos escravizados do estado.
Na associação Fraternidade Primeira, o jovem conheceu e se tornou amigo de grandes personalidades, como Joaquim Nabuco, Castro Alves Ruy Barbosa e Afonso Pena. Bastante político, ele adorava discursos e se dava bem com os colegas.
Já casado com Ana Guilhermina de Oliveira Borges, Rodrigues Alves foi introduzido à sociedade política de Guaratinguetá por Francisco de Assis e Oliveira Borges. Avô de Ana, o visconde ainda era líder do Partido Conservador da província.
Trajetória nos palanques
Com um nome reconhecido entre as rodas mais exclusivas da cidade, Rodrigues Alves passou a colecionar postos políticos. Entre 1879 e 1918, seu nome estampou a porta dos gabinetes de senador, deputado, ministro da fazenda e presidente de São Paulo.
Foi apenas em 1902 que Rodrigues Alves finalmente chegou ao maior posto do país: o de Presidente da República. Seu mandato, no entanto, foi marcado por diversas polêmicas e controvérsias. Naquele momento, por exemplo, nasceu a Revolta da Vacina.
A administração do presidente ainda ficou conhecida pela anexação do Acre no território nacional e por uma forte crise econômica, causada pela baixa nos preços do café. Em 1906, ao fim de seu mandato, Francisco mal imaginava que seria eleito novamente.
Felicidade dura pouco
No dia 1º de março de 1918, o político foi escolhido para representar o povo brasileiro mais uma vez. Ele tinha a confiança de seu público votante e sua condecoração estava marcada para dali alguns meses, mais especificamente em novembro daquele ano.
Com fortes dores de cabeça, todavia, o presidente já havia sido diagnosticado com anemia e tinha constantes recaídas quando contraiu a terrível Gripe Espanhola, em outubro de 1918. A cerimônia de posse, que estava tão próxima, teve de ser adiada.
Em novembro daquele ano, o estado de saúde do presidente sem posse se deteriorou. Já bastante debilitado, viúvo de sua esposa e com duas filhas, Rodrigues Alves morreu, vítima da doença estrangeira, no dia 16 de janeiro de 1919.
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