Retrato de Juana Azurduy no Salón de Espejos da Ciudad de Padilla - WikiCommons
América Espanhola

Revolucionária e indígena: Conheça a história de Juana Azurduy

Militar boliviana de origem indígena, Juana Azurduy liderou batalhas e participou da Revolução de Chuquisaca, o primeiro Grito Libertário da América

Luiza Lopes Publicado em 21/07/2024, às 12h00

Apesar de decisivas para a concretização das independências da América Espanhola no século XIX, as mulheres tiveram suas contribuições silenciadas pela História

Para além de Simón Bolívar, José de San Martín e José Martí, estão heroínas esquecidas como Juana Azurduy. Militar boliviana de origem indígena, Juana liderou batalhas e participou da Revolução de Chuquisaca, o primeiro Grito Libertário da América.

Quem foi Juana Azurduy?

Juana Azurduy Bermúdez nasceu em 12 de julho de 1780 em Potosí, hoje Bolívia. Na época, a região fazia parte do vice-reinado do Alto Peru, que incluía também Argentina, Uruguai e Paraguai.

Filha de um fazendeiro espanhol e uma indígena de Chiquisaca, foi educada nos melhores colégios de freiras. Órfã na juventude, foi expulsa do convento aos 17 anos por sua rebeldia.

Como aponta a historiadora Maria Ligia Prado em "A participação das mulheres nas lutas pela independência política na América Latina", aos 25 anos, em 1805, Juana casou-se com Manuel Ascencio Padilha. Quando a revolução libertadora explodiu em Chuquisaca, ela e o marido se juntaram aos rebeldes.

Apesar da derrota inicial e da oferta de recompensa por suas cabeças, continuaram a luta. Em 1810, alistaram-se no Exército Auxiliar do Norte para combater os realistas. Em 1811, Juana e seus quatro filhos foram presos pelos espanhóis, mas Manuel conseguiu resgatá-los.

Em 1812, juntaram-se às tropas de Manuel Belgrano, onde Juana se destacou nas batalhas, liderando o ataque vitorioso ao Cerro de Potosí em 1816, o que lhe garantiu o posto de tenente-coronela. Na batalha de La Laguna, ela foi ferida gravemente, e seu marido morreu tentando resgatá-la. Destemida, continuou lutando até a morte de Miguel de Güemes em 1821.

Segundo Maria Ligia Prado, tanto ela quanto seu marido desempenharam um papel ativo na guerra, organizando um esquadrão chamado Los Leales, composto por pessoas leais à causa revolucionária. A autora conta que Juana comandou um corpo de cavalaria formado por 25 mulheres, conhecidas como Amazonas, que eram indígenas e mestiças.

Essas mulheres, cujos interesses econômicos e sociais eram impactados pela política realista, desafiam a noção de que a revolução era um movimento exclusivo dos homens da elite Criolla e a ideia de que as mulheres não tinham motivações próprias para se engajar em lutas de grande porte.

Em 1825, Bolívar encontrou Juana em condições de miséria e a promoveu a coronela. “Esse país não deveria chamar-se Bolívia em minha homenagem, mas sim Padilha ou Azurduy, porque foram eles que o fizeram livre”, disse.

No entanto, em 1830, com a morte de Bolívar e o "fim do sonho da Pátria Grande", Juana foi esquecida e viveu na pobreza em Salta, tendo seus bens confiscados e perdendo a pensão de coronela em 1857.

A heroína da independência morreu indigente em 25 de maio de 1862, aos 80 anos, e foi enterrada em uma fossa comum. Cinco anos depois, seus restos foram transferidos para um mausoléu em Sucre em sua homenagem.

Monumento

Em 2009, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, concedeu a Juana o posto de generala do exército argentino. Em 2010, ela levou até Sucre o sabre com o qual a revolucionária lutou pela independência.

Em julho de 2015, uma gigantesca estátua da revolucionária foi erguida na praça que leva seu nome, atrás da Casa Rosada em Buenos Aires. A estátua, um presente de bronze do presidente Evo Morales, substituiu a de Cristóvão Colombo, que foi transferida para a região da Aduana.

Monumento em homenagem a Juana Azurduy / Crédito: WikiCommons

 

Na Bolívia, Juana foi nomeada Mariscala do Estado Plurinacional e declarada "Libertadora da Bolívia". A estátua, criada pelo escultor Andrés Zerneri, pesa 25 toneladas e tem nove metros de altura. Representando Juana com sabre em punho, a obra levou três anos para ser concluída e envolveu mais de 45 pessoas.

Memória

Os monumentos não apenas refletem questões políticas e sociais do presente, mas também o período histórico que representam. Na Antiguidade, a construção de monumentos estava principalmente ligada à comemoração e ao enaltecimento do poder de figuras proeminentes.

A classicista Mary Beard, em seu livro “Doze Césares”, explora as imagens de poder tanto no mundo antigo quanto no moderno. Em uma passagem sobre o imperador Augusto de Roma, ela menciona: "Em sua Autobiografia, Augusto cita ‘cerca de oitenta’ estátuas de prata de si mesmo apenas na cidade de Roma".

A necessidade de afirmar o poder através de monumentos e estátuas era evidente, utilizando a arte como propaganda desse poder imperial.

No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a concepção de monumentos mudou, dando origem à estética conhecida como antimonumento. O caráter heroico dos monumentos foi transformado para focar na lembrança da violência e na homenagem aos mortos.

Essas obras carregam uma mistura de memória e esquecimento, funcionando como um meio de recordação e resistência, abrindo espaço para a simbolização da violência.

Dessa forma, tanto monumentos quanto antimonumentos desempenham o papel de preservar a memória coletiva. A figura de Juana, por exemplo, transita entre o simbolismo tradicional dos monumentos e a carga de lembrança e esquecimento dos antimonumentos. Sua estátua busca expor o que a injustiça tentou apagar da memória.

Esses tipos de representações sempre foram e continuam sendo políticos, e nunca pacíficos. Eles revelam muito mais sobre o nosso presente do que sobre o período histórico que representam.

Bolívia Independência Argentina monumento estátua indígena simón bolívar revolucionária América Espanhola Juana Azurduy Manuel Ascencio Padilha Chuquisaca

Leia também

Há 5 mil anos: Confira a última refeição feita por Ötzi


Irmãos Menendez: Veja o que aconteceu com as figuras mostradas na série


Irmãos Menendez: O que aconteceu com o psicólogo de Lyle e Erik?


Conheça Grande Adria, continente perdido há mais de 100 milhões de anos


Irmãos Menendez: Entenda como ex-Menudo pode reacender o caso criminal


Irmãos Menendez: Veja o que aconteceu com Lyle e Erik