A teimosa viúva se recusou a vender a sua casa, sendo uma das ofertas feitas pelo atual presidente dos EUA
Ingredi Brunato Publicado em 24/10/2020, às 11h00
Vera Coking morava em uma casa branca de três andares em Atlantic City, nos Estados Unidos, uma cidade conhecida por seus cassinos e praias. Ela adquiriu uma residência em 1961, com seu marido, e esse foi o lugar onde eles criaram seus filhos - muito antes dos cassinos aparecerem, por exemplo.
O que é preciso saber, antes de tudo, é que essa casa branca à beira-mar tinha grande valor emocional para Coking. Tanto, que nem um milhão de dólares a igualavam. Nem as dores de cabeça de uma batalha judicial. Nem mesmo o império bilionário de Donald Trump (que ainda não era presidente nesse período) foi suficiente para diminuir sua determinação em manter seu lar.
O primeiro a tentar
Antes de Trump, todavia, outra pessoa já havia tentado comprar a propriedade de Vera, no início dos anos 80. Era Bob Guccione, fundador da revista masculina Penthouse. Ele queria construir um cassino ali, e ofereceu a incrível quantia de um milhão de dólares. A viúva rejeitou.
Como vingança, o ricaço mandou construir um prédio com uma estrutura de metal suspensa por cima da casa da viúva, tapando o sol. Todavia, seu cassino acabou falindo, foi Guccione quem precisou se retirar. Já Coking, curiosamente, continuou exatamente onde estava.
Então veio Trump
Donald Trump também queria construir um cassino ali, a despeito do fracasso do último. E no caso do bilionário, ele planejava transformar a propriedade ao lado em um estacionamento para as limusines de sua clientela. Para isso, precisava ter êxito no que Bob Guccione falhou: convencer Vera a vender sua residência.
Segundo ela, Trump primeiro tentou comprá-la. “Uma vez, ele me deu Ingressos para o show de Neil Diamond. Eu nem sabia quem era Neil Diamond.”, contou a viúva em uma entrevista para o Daily News em 1998.
Quando ele percebeu que sua estratégia não funcionaria, as coisas mudaram. O “Trump Plaza” começou a ser construído do lado da casa branca de Coking. Durante as obras, a equipe de demolição que removeu os restos do cassino anterior e também quebrou as janelas da viúva, incendiou seu telhado e até mesmo destruiu boa parte do terceiro andar da residência.
“É um caso clássico de valentão de escola crescendo”, comentou Clint Bolick, um dos fundadores do instituto que representou a viúva na batalha legal que ocorreu na década de 90 entre ela e o império do bilionário que viraria presidente. Já Vera prefere ser mais direta: “Um verme, uma barata e uma migalha", descreveu a mulher referindo-se a Trump.
A batalha
Em 1994, uma carta da Autoridade de Desenvolvimento de Reinvestimento de Cassinos informou a viúva norte-americana que eles estavam oferecendo 250 mil dólares, ou um quarto do valor que Guccione havia oferecido anteriormente, pelo terreno onde ela morava. Caso Coking não aceitasse fechar o negócio, eles tentariam tomar a propriedade dela através de um processo legal.
Para Bolick, aquele foi um momento-chave na batalha pelos direitos de propriedade. “O que era necessário era um vilão tão hediondo que um tribunal decidiria contra ele. E do elenco central veio Donald Trump”, disse o advogado, que afirmou ter usado essa frase para tirar risadas anteriormente, antes de Donald concorrer a presidência, e as pessoas começarem a ter opiniões mais fortes em defesa dele.
Nem é preciso dizer que Vera Coking ganhou o processo, e manteve sua propriedade. Mais tarde, o Trump Plaza faliu e saiu das mãos do futuro presidente norte-americano. Já a viúva viveu em sua casa branca de três andares próximo do fim da vida, quando se mudou para a Califórnia, onde viviam os parentes.
A residência, descrita como “caindo aos pedaços” acabou sendo leiloada, e foi comprada por um magnata de Wall Street pelo valor aproximado de meio milhão de dólares. Para os netos de Coking, o fato de ela ter lutado contra Trump e vencido é motivo de orgulho, e símbolo da determinação da família.
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