Antigo lar da civilização zapoteca, Mitla esconde, em seu subterrâneo, um labirinto que supostamente serve como "passagem para o fim do mundo"
Éric Moreira Publicado em 01/07/2024, às 20h00 - Atualizado em 02/07/2024, às 18h38
A cerca de quarenta quilômetros de Oaxaca de Juárez, no México, está o sítio arqueológico de Mitla, situado no entorno da igreja de San Pablo Apóstol, construída pelos espanhóis no século 17 sobre as ruínas da antiga cidade de Lyobaa, referente à civilização zapoteca.
No ano de 2016, arqueólogos, cientistas geofísicos, engenheiros e especialistas em conservação, em pareceria com o Instituto Nacional Mexicano de Antropologia e História (INAH), com a Universidade Nacional Autônoma do México e com o Projeto ARX, realizaram um estudo geofísico em Mitla, resultando numa descoberta impressionante.
Isso porque foi notado que, abaixo da praça quadrangular em que a igreja foi construída, havia uma série de estruturas arquitetônicas subterrâneas que abrigaria, segundo lendas antigas, um labirinto que leva ao "submundo". Entenda!
Os zapotecas, conforme apurado pela Aventuras na História, surgiram por volta do fim do século 6 a.C., nos Vales Centrais do Etla. Com o posterior crescimento da civilização, passou a centrar-se nas regiões das atuais Oaxaca, San José Mogote e Mitla.
Embora não tão lembrados quanto os maias e os astecas, a civilização pode ser considerada bastante avançada. Eles foram capazes de desenvolver sofisticadas técnicas de construção, um sistema de escrita, dois sistemas de calendário e um complexo cultivo agrícola, o que possibilitou que, em seu auge, tivesse mais de 500 mil habitantes.
O complexo de Mitla, vale mencionar, foi o principal centro religioso zapoteca até o fim do século 15, quando os astecas conquistaram aquela região, levando ao abandono do local. Apenas um século depois, os espanhóis reutilizaram blocos de pedra das ruínas e construíram a igreja de San Pablo Apóstol.
Segundo uma antiga lenda local, porém, a construção da igreja teve um significado ainda maior para os espanhóis. É dito que foi erguida na entrada de um labirinto subterrâneo, conhecido em Nahuatl — o idioma falado pelos zapotecas — como "Mictlán", que significa "lugar dos mortos" ou "submundo", que seria uma passagem entre o reino dos vivos e dos mortos.
Em 1674, o cronista dominicano Francisco Burgoa descreveu em texto como foi a chegada dos missionários espanhóis na região, além da entrada deles no labirinto: "Tal era a corrupção e o mau cheiro, a umidade do chão e um vento frio que apagava as luzes, que pela pouca distância já haviam penetrado, eles resolveram sair e ordenaram que este portão infernal fosse completamente fechado com alvenaria".
Tendo em mente a história da igreja e as lendas locais, os pesquisadores envolvidos no estudo em Mitla realizaram escaneamentos do solo, que permitiu uma reprodução virtual em 3D das ruínas subterrâneas.
Havia, abaixo do altar da antiga igreja, um grande vazio e duas passagens com profundidades de 5 a 8 metros. "As câmaras e túneis recém-descobertos se relacionam diretamente com as antigas crenças e conceitos zapotecas do submundo", disse ao Live Science no ano passado o fundador do Projeto ARX, Marco Vigato.
Ele ainda disse que as descobertas confirmaram "a veracidade dos relatos coloniais que falam dos elaborados rituais e cerimônias realizadas em Mitla em câmaras subterrâneas associadas ao culto dos mortos e dos ancestrais".
Também havia ali mais evidências de uma estrutura conhecida como Palácio das Colunas, um tipo de monumento bastante significativo na região.
Virou série: Como foi o desaparecimento de Priscila Belfort?
Irmãos Menendez: Veja o que aconteceu com a casa que foi palco do crime
Irmãos Menendez: Veja a história real por trás da série da Netflix
Bandida - A Número 1: Veja a história real por trás do filme
Bandida - A Número 1: Veja os relatos da mulher que inspirou o filme
Os impressionantes relatos do homem que viu o Titanic afundar