A gangue dos peaky blinders realmente existiu, mas o que é ficção e o que é realidade na famosa produção televisiva?
Redação Publicado em 27/08/2020, às 16h40 - Atualizado em 13/06/2022, às 16h31
Na sexta-feira passada, 10, os episódios da sexta e última temporada da famosa Peaky Blinders, que acompanha as operações de um grupo de mafiosos durante o século 20, foram disponibilizados na versão brasileira catálogo da Netflix.
A série britânica foi ao ar primeiro no canal BBC Two, que é transmitido apenas no Reino Unido, de forma que os fãs brasileiros precisaram aguentar uma espera a mais para descobrirem a aguardada conclusão da história.
A narrativa protagonizada pelo destemido Tommy Shelby, interpretado por Cillian Murphy, alcança um pico de tensão em seus episódios finais, prometendo revelar quem traiu o personagem. Confira o trailer abaixo:
Outro detalhe interessante é que, embora a popular produção já tenha sido encerrada, o criador, Steven Knight, já tem spin-offs em mente:
Eu já tenho uma ideia totalmente formada para a conclusão da história, temos começo, meio e um fim adequado para aquilo que contamos até agora. Mas, a partir disso, haverá ganchos para outras histórias nesse universo, que podem se tornar outras séries de TV e eu espero que essas ideias saiam do papel", revelou ele durante uma entrevista à revista Variety.
Enquanto essas outras séries não chegam, descubra abaixo quais foram os acontecimentos reais que inspiraram a famosa narrativa.
Seja pelos memes "frios e calculistas" ou pela estrondosa fama da série da BBC, todo mundo conhece ou já ouviu falar em Peaky Blinders. A série criada por Steven Knight se passa em 1919, na cidade corrupta e miserável de Birmingham, na Inglaterra, após o fim da Primeira Guerra Mundial, e conta a história da gang dos Peaky Blinders, formada por líderes de grupos de apostas e crimes gerais — que domina as favelas de Birmingham.
A história é baseada numa gangue que realmente existiu e que também tinha o nome de Peaky Blinders. No entanto, a história real do bando não se assemelha com aquela contada por Knight na sua produção televisiva.
Na verdade, em entrevista para o History Extra, Knight explicou que baseou sua série numa história de seu avô, na qual foi contada para ele pelo seu pai, quando ainda era criança.
O pai dele [avô de Knight] deu um recado para ele e disse: ‘Vai e entrega isso para seus tios’. Meu pai bateu na porta e viu uma mesa com oito homens vestidos de maneira imaculada, usando boina e com armas no bolso. A mesa estava coberta de dinheiro. Só com aquela imagem — de fumaça, bebida e os homens bem vestidos na favela de Birmingham — pensei, ‘essa é a mitologia, essa é a história, e essa é a primeira imagem que preciso trabalhar’”, declarou.
Esses homens que o pai do produtor se encontrou eram, muito provavelmente, os peaky Blinders originais, que destinguiam muito do que é mostrado na série. A gangue, ao contrário do que é mostrado na produção, não nasceu depois da Primeira Guerra, e sim anteriormente à esse conflito mundial, ainda na década de 1890.
O historiador Carl Chinn contou ao Birmingham Mail que a influência dos Peaky Blinders na verdade caiu em 1910, por conta da guerra. Os gangsters da vida real não eram uma organização criminosa tão grande e milionária como aparece na produção, e muito menos conseguiram controlaram toda a Inglaterra.
Os verdadeiros Peaky Blinders eram formados, em sua maioria, por homens de classe baixa, trabalhadores que moravam em bairros violentos e que tinham entre 12 e 30 anos.
O que os definia como participantes da gangue eram suas vestimentas, de onde originou o nome oficial do grupo: "Peaky" era uma relação das boinas bem distintas que os membros usavam, que tinham vuelos que pareciam-se "afiados"; Já o "Blinder" é uma gíria usada até hoje para definir alguém que se veste elegantemente, de uma maneira arrumada e respeitosa.
Philip Gooderson compartilhou a visão de como seria um típico peaky blinder em sua obra The Gangs of Birmingham (As gangues de Birmingham, em tradução livre), onde afirma: “Tinha orgulho da aparência e vestia-se com habilidade. Usava calças boca de sino, botas com ponteiras de metal, um cachecol colorido e um chapeu pontudo com uma aba alongada. [O cabelo era] curto por toda a cabeça, exceto por uma parte na frente que era mais comprida e penteada na testa.”
Embora bem vestidos, os gangsters, por conta de seus trajes padronizados, eram facilmente reconhecidos nas ruas, tanto pelos cidadãos, quanto pela polícia e gangues rivais. Pela facil identificação, os membros do grupo tinham que ficar em alerta a todo instante, e ainda mais, tinham que assumir uma postura agressiva e empoderada, para evitar que fossem perturbados e botarem medo em quem ousasse enfrentá-los. ]
Um trecho de uma carta anônima enviada ao Birmingham Daily Mail, em julho de 1898, evidencia esses fatos: “Não importa em que parte da cidade você ande, gangues de ‘peaky blinders' são vistas, e constantemente não pensam duas vezes para insultarem quem passa, seja homem, mulher ou criança.” Esse comportamento acarretava em brigas e desentendimentos constantes nas vidas desses homens.
Essa violenta subcultura de formação de gangues era popular entre jovens ingleses, tanto que os Peaky Blinders, no final do século 19, começaram a expandir sua empresa criminosa.
A historiadora Heather Shor, da University of Leeds, afirma que os Blinders estavam mais focados em brigas de rua, roubo e extorsão — e suas atividades incluíam esquemas de proteção, fraude, grilagem de terras, contrabando, sequestro, e apostas ilegais.
Em suas lutas utilizavam cintos com fivelas pesadas, bengalas e barras de ferro, e canivetes contra seus inimigos, além de usarem as ponteiras de ferro de suas botas para chutar e agredir à quem os interessasse.
O Museu Policial West Mindland em Birmingham exibe uma coleção de 6 mil fotos de membros do peaky blinders, inclusive várias fichas de identificação. Alguns dos crimes praticados por eles estão registrados nesse museu, entre eles, temos acusações de invasão de domicílio, roubo de loja, roubo de bicileta e até falsos pretestos.
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