A múmia de Sha-Amun-en-su foi um presente recebido por dom Pedro II - Museu Nacional
Brasil

De múmias a sarcófagos: Os artefatos que dom Pedro II trouxe do Egito

Relíquias adquiridas pelo o Magnânimo ajudaram a formar o maior acervo de artefatos egípcios na América Latina

Fabio Previdelli Publicado em 12/08/2021, às 15h43 - Atualizado em 21/01/2022, às 10h00

Último imperador do Brasil, d. Pedro II era conhecido por seu apreço às artes e a à ciência. Além do mais, o Magnânimo sempre teve uma enorme admiração pelo Oriente Médio, pincipalmente pela história do Egito Antigo. 

Como explica matéria da BBC, o interesse começou desde a infância do imperador, quando o menino passou a ter contato com uma coleção que foi comprada por seu pai em 1826. O acervo continha antiguidades que foram escavadas na necrópole de Tebana, onde hoje é Luxor, no templo de Karnak.  

Dom Pedro II aos 49 anos, 1875/ Crédito: Delfim da Câmara/Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Assim, naturalmente, o interesse de Pedro II o fez visitar o país quando ele tinha 45 anos. "Às 7 ancoramos perto da margem esquerda e um pouco a montante de Manfalout (no Egito). Esteve admirável o crepúsculo com os seus matizes esverdeados e vermelho-claro", relatou o Magnânimo em um de seus diários de viagem. 

Por lá, fez questão de ampliar a coleção começada por seu pai. Desta maneira, adquiriu diversos artefatos históricos, como livros e mapas, além, é claro, de tirar diversas fotos de sua excursão, já que era um grande entusiasta dos registros fotográficos, como explica matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História.  

Para se ter uma ideia dessas paixões do imperador, como explica matéria da BBC, sua coleção fotográfica de suas viagens à Europa, Oriente Médio e África era a maior pertencente a um governador no século 19; já o acervo de artefatos egípcios ajudou a formar a maior coleção da cultura na América Latina.  

Expedições e as relíquias 

Conforme conta à BBC a historiadora e professora da PUC do Rio Grande do Sul Margaret Marchiori Bakos, Pedro II sempre vontade de conhecer o Egito e a Europa, “mas a oportunidade se apresentou somente quando sua filha Leopoldina faleceu na Áustria”.  

Na primeira vez que foi ao país do Oriente Médio, onde ficou de maio de 1971 a março de 1872, o Magnânimo pagou pela expedição com suas próprias economias e fez de tudo para evitar ser chamado de imperador.  

Nessa oportunidade, além de conhecer todos os locais mencionados na Bíblia, também visitou o Canal de Suez, Alexandria e a capital Cairo, ficando nesse último destino por pouco mais de uma semana. "Conta-se que D. Pedro 2º escalou a pirâmide de Quéops, a maior de todas, em apenas 25 minutos", diz Bakos

A Cidadela do Cairo no final do século 19/ Crédito: Livraria do Congresso

 

A segunda jornada, entre 1876 e 1877, também ocorreu por conta da saúde de uma pessoa próxima a ele: sua esposa, Theresa Cristina. A viagem começou nos Estados Unidos e passou pelo Canadá antes de chegar à Europa e no Egito. Desta vez, d. Pedro II conheceu todas as 18 pirâmides do Baixo Egito. 

Em 1876, Pedro 2º fez uma viagem maior ao Egito: saiu de barco do Cairo, subindo o rio até Aswan. Lá, a imperatriz ficou alguns dias, enquanto Pedro de Alcântara seguia rio acima, em um barco menor até Wadi Halfa, hoje o Sudão”, explica Liliane Correa, professora da Universidade Federal do Maranhão, à BBC. 

“De lá, seguiu mais ao sul, voltou para Aswan e desceu o rio Nilo até o Cairo. Em todo o percurso, visitou todos os monumentos que estavam acessíveis", completa. 

Foi nesta oportunidade, aliás, que ganhou um presente inestimável. Como explica Margaret, o Magnânimo teceu duras críticas ao quediva Ismail pela falta de suporte ao preservar os patrimônios históricos do país, dizendo que o governador se preocupava mais com o luxo de seu palácio do que na conservação dos monumentos do país. 

Além da ‘bronca’ abrir os olhos de Ismail e fazê-lo tomar medidas para a preservação dos patrimônios, ficou tão constrangido com a fala que presentou d. Pedro II com um sarcófago que abrigava uma múmia de uma mulher.  

Feito de madeira estucada e colorida posteriormente, o sarcófago nunca havia sido aberto. "Dentro do caixão, havia a múmia de uma cantora-sacerdotisa e cuja função era entoar cânticos sagrados no templo dedicado ao deus Amon, em Karnak, nos arredores de Tebas", explica Bakos

Dom Pedro II e sua comitiva visitando as pirâmides do Egito, em 1876/ Crédito: Domínio Público

 

A cantora mumificada, "Sha-amun-em-su", teria vivido no Egito por volta de 750 a.C., e acredita-se que ela morreu quando tinha cerca de 50 anos. "Os desenhos e hieróglifos do sarcófago foram transliterados e se descobriu que a cantora pertencia a um seleto grupo especial de damas que ficavam virgens por toda a vida e auxiliavam a Esposa Divina de Amon", completa a docente.  

O regalo foi tão adorado pelo imperador que, segundo a BBC, ele teria o guardado em seu gabinete entre 1877 e 1889, quando a peça passou a fazer parte do catálogo do Museu Nacional. 

Porém, em 2 de setembro de 2018, um incêndio atingiu o local e destruiu as múmias humanas trazidas pelo imperador e todo o acervo de 700 peças sobre a civilização egípcia — que também contava com amuletos, sarcófagos, partes de animais e diversos outros artefatos. ‘Sha-amun-em-su’ era uma das mais raras peças da coleção perdida. 


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