Em 2005, Greta Zimmer Friedman relembrou de beijo que virou registro histórico do fim da Guerra: “Não foi minha escolha ser beijada"
Fabio Previdelli Publicado em 07/03/2024, às 17h41
Nos últimos dias, icônica foto de um beijo na Times Square (que se tornou um símbolo da comemoração do fim da Segunda Guerra Mundial) foi o centro de uma polêmica dentro do Departamento dos Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos.
Em memorando, a entidade proibiu a exibição da foto em prédios da agência, visto que o registro não se enquadrava nos "valores" da instituição. O chefe do departamento, porém, só soube da proibição por meio das redes sociais; o que gerou uma enorme confusão.
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A foto feita por Alfred Eisenstaedt para a revista Life foi tirada em 14 de agosto de 1945 — data em que o Japão se rendeu; o que marcou o fim da Segunda Guerra. Por esse motivo, a fotografia ficou conhecida como V-J Day in Times Square (ou 'Dia da Vitória contra o Japão na Times Square').
O registro mostra o marinheiro George Mendonsa, em êxtase, beijando a assistente de dentista chamada Greta Zimmer Friedman. O grande ponto da foto é que não só os personagens não se conheciam como o beijo foi 'roubado'; ou seja, sem o consentimento de Friedman.
Por esse motivo, o Departamento dos Assuntos de Veteranos considerou a foto como "comportamento impróprio" pelo fato de "retratar um ato não consensual"; conforme descrito no memorando.
[A retirada da foto] reflete nossa dedicação em criar um local de trabalho respeitoso e seguro e está de acordo com nossos esforços mais amplos para promover uma cultura de inclusão e conscientização", prosseguiu a nota.
Mas Denis McDonough, chefe do departamento, só soube da proibição por meio das redes sociais, cinco dias depois, contestando a decisão: "Deixe-me ser claro: esta imagem não foi banida das instalações — e vamos mantê-la".
Apesar de extremamente famosa, a foto foi alvo de mistério por anos; afinal, a identidade dos seus personagens foi uma incógnita. O Artnet News relatou que várias mulheres alegaram terem sido flagradas durante o momento.
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Mas a identidade dela só se confirmou na década de 1960, quando a própria Friedman viu a fotografia pela primeira vez. "É exatamente a minha figura, o que eu vestia e especialmente o meu penteado", disse à Patricia Redmond, em 2005, em entrevista ao Library of Congress Veterans History Project.
"Mandei [para Alfred Eisenstaedt] algumas fotografias. O tempo passou e, em 1980, a revista LIFE me contatou e republicou a foto com um pedido de desculpas assinado por Eisenstaedt", relatou.
Conforme explicou, naquela época, Friedman trabalhava em um consultório na Times Square quando decidiu sair para ver o motivo de toda a comoção. Foi então que ela foi agarrada pelo marinheiro e teve um beijo roubado.
Senti que ele era muito forte. Ele estava apenas me segurando com força. Não tenho certeza sobre o beijo... foi apenas alguém comemorando", disse Friedman a Redmond. "Não foi um evento romântico. Foi apenas um evento de 'graças a Deus que a guerra acabou'".
Com o passar dos anos, o relato de Friedman e reinterpretação da foto fizeram com que muitos debatessem o registro como a documentação de uma agressão sexual. "Não foi minha escolha ser beijada… O cara simplesmente veio e me agarrou!".
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