Em 2012, cientistas decidiram recriar um curioso objeto encontrado junto de uma múmia, e chegaram a conclusões impressionantes
Isabela Barreiros Publicado em 10/09/2021, às 06h00 - Atualizado em 27/12/2021, às 21h00
Em meados de 2012, pesquisadores da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, decidiram realizar um experimento inusitado. Arqueólogos haviam encontrado anteriormente um objeto peculiar em uma múmia feminina encontrada perto da cidade de Luxor, no Egito: um artefato que representava o maior dedo do pé desse indivíduo.
O que eles agora pensam ser a prótese mais antiga já descoberta foi feito a partir de couro e madeira e parecia ter sido usado propriamente com para essa função. Os especialistas encontraram marcas de uso que deixaram o item desgastado, diferentemente do que aconteceria caso ele servisse apenas como acessório.
"Vários especialistas examinaram esses objetos e sugeriram que eles foram os primeiros dispositivos protéticos existentes. Há muitos casos dos antigos egípcios criando partes falsas do corpo para sepultamento, mas o desgaste e o design sugerem que foram usados por pessoas para ajudá-los a andar”, explicou Jacky Finch, pesquisador Universidade de Manchester e líder da pesquisa.
Foi então que os cientistas decidiram que iriam testar essa possível funcionalidade do objeto considerado como prótese.
Para isso, eles criaram réplicas exatas do item egípcio que data de 950 a 710 a.C., para que eles não sofressem com o experimento e acabassem danificados.
Segundo Finch, “tentar provar isso tem sido um processo complexo e desafiador, envolvendo especialistas não apenas em práticas funerárias egípcias, mas também em design de próteses e avaliação computadorizada da marcha”.
Dois voluntários, que não tinham o dedão do pé direito, foram convocados para utilizarem essas imitações do artefato do Egito Antigo.
As conclusões obtidas pelos pesquisadores foram publicadas em um artigo na revista científica Journal of Prosthetics and Orthotics e revelaram dados impressionantes.
A ideia era fazer com que as pessoas andassem utilizando tanto a prótese quanto sandálias também desenvolvidas pelos especialistas e que se pareciam com as usadas pelos egípcios antigamente. Assim, eles poderiam provar se o objeto, de fato, ajudava as pessoas a caminhar.
Eles também realizaram variações nesses testes. Por exemplo, os indivíduos também foram convidados a andar dez metros sem sapatos e com seus próprios calçados, para entender como isso acontecia no Egito.
"Os dados de pressão nos dizem que teria sido muito difícil para um antigo egípcio sem um dedão do pé andar normalmente usando sandálias tradicionais. Eles poderiam, é claro, permanecer descalços ou talvez usar algum tipo de meia ou bota por cima o dedo do pé falso, mas nossa pesquisa sugere que usar esses dedos do pé falso torna mais confortável andar com uma sandália", explicou o especialista.
Para o pesquisador responsável pelo estudo, os resultados foram surpreendentes. Ele afirmou que os passos dados pelos voluntários que estavam usando a prótese foram 60% a 87% similares às pisadas dadas pelo pé esquerdo.
Ou seja, os egípcios sabiam muito bem o que estavam fazendo quando desenvolveram aquele artefato.
Foi muito animador ver que os dois voluntários foram capazes de andar usando as réplicas. Agora que temos estas informações, nós podemos afirmar que há evidências de que o artefato original [o dedão encontrado na múmia] possuía uma função de prótese", concluiu Finch.
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