Luiz Inácio Lula da Silva em pronunciamento - Wikimedia Commons
Brasil

Oficializado por Lula: a saga do SAMU no Brasil é mais recente do que você imagina

A origem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência foi alvo de curiosidade nas redes sociais

Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/02/2021, às 09h18

Como fazíamos sem SAMU? Essa foi uma dúvida que se avivou nas redes sociais na última semana após um post viralizar no Twitter. No tweet, uma internauta questionava o porquê de ninguém ter chamado uma ambulância durante uma cena de parto em um episódio da novela Laços de Família, lançada em 2000.

Episódio de Laços de Família e o cara dirigindo a mina abortando no meio do engarrafamento e eu só pensei "não tinha um SAMU pra ligar, minha gente?" mas não tinha mesmo não, porque a novela é de 2000 e quem criou o SAMU no Brasil foi Lula.

— Laís Lacerda (@quehorrorlais) February 2, 2021

A conclusão foi a seguinte: a produção era de 2000. Ou seja, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ainda não existia no Brasil, então não era possível acionar o socorro da maneira que fazemos hoje. Ele só viria a ser implementado no país três anos depois, durante o primeiro mandato do então presidente Lula

No Brasil

Os roteiristas de Laços de Família podem não ter ouvido falar no SAMU na época, mas Lula já tinha em mente o que poderia melhorar a situação da saúde no Brasil. Foi em 26 abril de 2004 que ele oficializou em todo o País o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, assinando o decreto 192 em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Naquele dia, ele também participou da entrega do lote de 480 ambulâncias que seriam integradas ao sistema estabelecido por ele até o final de junho. Conforme noticiado pelo Estadão na época, a ideia do governo federal era investir milhões em equipamento para atendimento de urgência em 1.700 municípios.

"O atendimento de emergência dependia do apoio do Corpo de Bombeiros. Muitas das pessoas que não tinham um plano privado de saúde eram socorridas em vans transformadas em precárias ambulâncias ou em carros de parentes, quando não dependiam da solidariedade de terceiros", diz o site do Instituto Lula.

Lula, portanto, foi o responsável por oficializar o sistema que conhecemos hoje como SAMU. Mas esse tipo de serviço já existia em algumas capitais do Brasil, ainda que em uma escala pequena, funcionando como uma espécie de “protótipo” do que viria a ser oficializado anos depois.

"Entre as décadas de 80 e 90, outras cidades também implantaram o Samu, como Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Curitiba, cada uma com seu próprio sistema de funcionamento", diz a Agência Brasil em matéria de 2005.

A origem 

O sistema, na verdade, foi idealizado e primeiramente desenvolvido na França. Na década de 1960, a filosofia Service d'aide médicale urgente surgiu no país e embora ainda não fosse o que é hoje, já tinha como objetivo coordenar serviços móveis de atendimento pré-hospitalar.

O serviço que é feito na França carrega até hoje a sigla SAMU, como usamos no Brasil. Como explicado pelo site do Instituto Lula, trata-se de um “sistema de atendimento de emergência capaz de socorrer pessoas acidentadas, vítimas de armas de fogo, queimadas ou infartadas”. 

No Brasil, a ideia chegou na década de 1980, mas ainda tinha uma escala pequena e estava presente em apenas algumas capitais, como São Paulo, e mais tarde, em Porto Alegre, Fortaleza, Recife e Curitiba. Cada uma dessas cidades tinha seu próprio modelo de atendimento e funcionamento pré-hospitalar.

Como informado pelo site da Câmara Municipal de São Paulo, antes do SAMU, a capital paulista, no começo do desenvolvimento de sistemas de atendimento pré-hospitalar,  contava com apenas 20 ambulâncias entre as décadas de 70 e 80. 

Por isso a importância do decreto assinado por Lula em 2003: a partir dali, o sistema foi unificado, nacionalizando o SAMU, que não mais era apenas um serviço de algumas capitais. Com isso, o sistema também foi ampliado para outras localidades, além de apresentar um padrão.

“Nas décadas de 80 e 90, vários profissionais — da saúde ou não — se falavam para discutir a urgência e emergência em todo o país”, explicou Paulo de Tarso Monteiro Abrahão, então coordenador-geral de Urgência e Emergência (CGUE) do Ministério da Saúde, em 2013, ao Blog da Saúde, do Ministério da Saúde.

“Fomos construindo conceitos e, em 2003, o Ministério incorpora toda essa sabedoria e cria a política nacional com todos os componentes da urgência", concluiu.


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