Mesmo após o golpe republicano, o ex-imperador aceitou o veredito de maneira pacífica e chegou a desejar prosperidade ao país pelo acolhimento
Wallacy Ferrari Publicado em 20/07/2020, às 11h55
A perda de força da monarquia no Brasil na década de 1880 foi um movimento contrastante com o crescimento econômico e avanços sociais no país; deixando de acreditar na monarquia como forma viável de governo — principalmente após a filha Isabel, ser a única restante para o trono após a morte dos filhos homens — D. Pedro II não enxergava o futuro da família luso-brasileira no país com otimismo.
Se por um lado Pedro II acreditava que uma mulher governando o Brasil era uma condição inaceitável, Isabel não manifestava nenhum desejo de suceder a coroa. Dessa maneira, nenhum dos dois fizeram questão de preparar o assunto, até 1881, com uma surpresa que acometeu o monarca.
Com a saúde piorando em decorrência da ausência de exercícios físicos e péssimos hábitos alimentares, o último imperador já usava óculos pincenê e próteses dentárias quando decidiu se afastar do governo, de maneira gradativa. Tentando ocultar as dificuldades de locomoção, passeava pelo Rio de Janeiro, em mercados locais e escolas, chegando a comer nos refeitórios junto aos estudantes, abolindo rituais e protocolos.
Nova república
Seu desânimo e interesse em viver uma vida mais desligada ao luxo auxiliou o apoio do republicanismo, que emergia no país. Mesmo sendo um grupo pequeno, o Clube Republicano, com força no Rio de Janeiro e em São Paulo, não atraía a atenção de D. Pedro II. Não pelo discurso, mas pelo simples fato de que, gradativamente, o monarca deixava de discutir política.
Na segunda metade da década de 1880, os ataques de febre e dores que prejudicavam o funcionamento do metabolismo do imperador já o distanciavam do Brasil. Buscando um tratamento mais cuidadoso, com equipamentos modernos, foi até a Europa, sendo saudado por uma multidão ao deixar o Brasil, em 30 de junho de 1887, deixando Isabel como regente. Na estadia, encontrou-se com diversos amigos em vários países, comemorando a abolição da escravidão à distância.
Retornou apenas no ano seguinte, em 22 de agosto. Muito fraco, emocionou a multidão que o recebeu com movimentos lentos, mais magro e corcunda. O prestigio internacional do Brasil no final da década aumentava, sendo uma boa hora para o golpe republicano. Em 14 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, junto de 600 homens, tomava o Estado de maneira pacífica, negociando a presença do gabinete diretamente com os monarcas ao longo do dia.
Após o golpe
De acordo com o escritor Heitor Lyra, no livro ‘História de Dom Pedro II’, o imperador permaneceu calmo, chegando a ler um livro com uma preocupação quase nula após o confinamento da família real no dia 16 de novembro. Mesmo declarado deposto, ainda tinha o respeito dos militares, sendo o único entre os familiares que não manifestou desespero; do contrário, desejou prosperidade ao Brasil.
Antes de partir, escreveu uma carta ao Governo Provisório após o veredito: “A vista da representação que me foi entregue hoje, às três horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com a minha família para a Europa, amanhã, deixando assim a pátria, de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constante testemunhos de entranhado amor e dedicação durante meio século que desempenhei o cargo de Chefe do Estado”.
Ainda foi recepcionado após deixar o Paço Imperial, sendo saudado por guardas e retribuindo com acenos feitos com o chapéu. Em 17 de novembro de 1889, reuniu a família, levando todos os membros para o navio a vapor Parnaíba, que partiu para Alagoas e, em seguida, começou a navegar até Portugal, onde o ex-imperador passaria os dias do resto de sua vida.
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