Ao se deparar com a própria certidão de nascimento, Albert Gilmour percebeu que sua vida era, de certa forma, um mistério
Giovanna Gomes Publicado em 20/10/2020, às 13h30
A história do irlandês do norte Albert Gilmour não é nem um pouco convencional. No ano de 1965, quando era um jovem de 21 anos de idade, ele realizou uma estranha descoberta ao ler sua certidão de nascimento. O rapaz precisava do documento para que pudesse se casar e o pediu para sua mãe. Inicialmente, a mulher relutou em entregá-lo, mas sabia que não poderia mais esconder o segredo que guardou por tanto tempo.
Com sua certidão em mãos, Gilmour se deparou com uma chocante revelação: sua irmã mais velha, Ruby, era sua mãe biológica e aqueles que ele acreditava serem seus pais eram, na verdade, seus avós. O nome de seu pai, no entanto, não constava no documento.
A explicação do caso
Ruby explicou-lhe que seu pai era um soldado americano chamado Albert Carlow e que ela o havia conhecido aos 17 anos de idade perto de sua casa em Eglinton, no condado de Londonderry. O soldado estava servindo o exército durante a Segunda Guerra Mundial.
A jovem Ruby acabou engravidando pouco antes de Carlow ser enviado à Normandia para lutar durante o famoso Dia D, em 1944. Como o soldado não retornou, e para poupá-la da vergonha de ser uma mãe solteira e jovem (o que era muito mal visto na época) seus pais resolveram criar o bebê como se fosse seu irmão.
Em entrevista ao Daily Mail, o já idoso Albert Gilmour disse: "Quando eles [os soldados] estivessem aqui [na Irlanda do Norte], eles iriam lutar na campanha do Dia D. Foi tudo mantido em segredo. Eles não foram autorizados a levar qualquer documentação".
E prosseguiu: "E quando a campanha acabou, eles foram enviados para lutar no deserto. E ao invés de voltar para a Irlanda, eles foram mandados para da África para a América. Todo o contato foi perdido então".
Buscando contato
Muitos anos depois, a filha de Gilmour, Karen Cook, decidiu buscar mais informações sobre a família de seu avô Albert Carlow. "Eu descobri muito sobre ele, mas inicialmente em 1997 foi bem difícil. Passava horas na biblioteca", disse Cook ao Daily Mail.
Utilizando um endereço que o avô Albert escreveu em um maço de cigarros e entregou a Ruby (que ela, posteriormente, memorizou), Cook conseguiu encontrar uma das tias de Gilmour. Ela escreveu uma carta para o endereço e foi respondida por uma moça que morava no local, que a ajudou a procurar os números de telefone da família Carlow, até que encontraram a tia.
"O melhor presente que eu poderia dar a meu pai era que ele conhecesse seus parentes restantes", disse Karen à BBC. "Era um pedaço dele que eu sempre soube que ele tinha, seu lado americano."
A tia de Albert contou que seu pai infelizmente havia morrido em 1980. Mesmo assim, ele descobriu que sua avó paterna ainda era viva e que ele possuía dois meio-irmãos. Gilmour ficou surpreso ao ver a semelhança física entre ele e o pai, após a tia ter lhe enviado uma foto do soldado.
Gilmour então viajou para os EUA para que pudesse conhecer sua família. "Quando desci daquele avião na América pela primeira vez — eu sabia que era meu lugar. Foi como voltar para casa", afirmou. "Simplesmente não parecia real", continuou. "Eles disseram: 'Sabemos só de olhar para você quem você é, seus maneirismos, todo o seu ser, você é todo o seu pai'."
Enquanto se encontrava com seus parentes, Albert descobriu que seu pai havia guardado moedas da Irlanda do Norte com ele até sua morte e, assim, decidiu visitar seu túmulo. Essa visita representou muito para ele, de modo que sentiu como se tudo estivesse nos conformes, pois, por mais que o pai estivesse morto, havia finalmente encontrado sua família.
Um pedido de desculpas
Ao retornar à Irlanda do Norte, Albert mostrou uma foto de seu pai à sua mãe, que chorou muito. Dias antes de sua morte, ela pediu desculpas ao filho pelo segredo. Segundo Gilmour, ela teria segurado suas mãos e dito: "sinto muito, eu sei que tirei parte da sua vida". Porém ele respondeu que não havia motivo pelo qual se desculpar.
Ao final da entrevista ao Daily Mail, Albert Gilmour ainda considerou: "Se você nascia fora do casamento, era como se você não existisse. Alguns viveram suas vidas e morreram com ela e nunca tiveram a chance que eu tive".
Aos 75 anos e feliz com o rumo que sua vida tomou, ele apenas quer compartilhar sua história, pois sabe que há muitas pessoas ao redor do mundo que, como ele, nasceram em meio à guerra. "Estou esperando que essas histórias não desapareçam", finalizou.
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