Montagem mostrando fotografia da tumba e do crânio - Divulgação/ AM Costa e Divulgação/ R. Paba
Arqueologia

O incomum sepultamento de uma mulher do século 3 a.C.

Cientistas especulam que antigas crenças sobre a epilepsia podem explicar o procedimento ao qual ela foi submetida

Ingredi Brunato Publicado em 23/02/2023, às 10h47

Um estudo divulgado recentemente pelo Journal of Archaeological Science: Reports analisa um esqueleto que descansava em uma das 120 tumbas descobertas na Necrópole de Monte Luna, um sítio arqueológico escavado nos anos 70 que fica localizado na atual cidade italiana de Sardenha. 

Os restos mortais — que foram sepultados de bruços, uma posição incomum —,  pertencem a uma mulher que viveu há mais de 2 mil anos, época em que o local tradicionalmente habitado pelo povo fenício estava sob domínio do Império Romano. 

Fotografia de esqueleto na sepultura / Crédito: Divulgação/ AM Costa 

 

Com base no exame de seus ossos, foi possível concluir que ela teria entre 18 e 22 anos quando faleceu. Sua característica mais curiosa, todavia, é o buraco de formato quadrado presente na parte de trás de seu crânio. 

Proteção 

O artigo científico especula que a incisão, que teria sido feita após a morte da moça e fazendo uso de um prego romano, foi possivelmente motivada por crenças médicas primitivas a respeito de doenças.

Fotografia de prego romano / Crédito: Divulgação/ G. Lai 

 

Segundo especulado pelos pesquisadores e repercutido pelo LiveScience, a mulher de 2 mil anos sofreria com epilepsia, um transtorno neurológico caracterizado por crises em que o paciente convulsiona incontrolavelmente. 

Isso, pois, em um documento do século 1 d.C. escrito por Plínio, O Velho, um lendário general e historiador da Roma Antiga, o homem descreve um suposto "tratamento" para o distúrbio, que era conhecido pela civilização antiga como "doença da queda". 

A prática documentada pelo romano consiste na inserção de pregos no esqueleto de alguém que morreu por conta do quadro, de forma semelhante ao que ocorreu com a moradora de Sardenha. 

Imagens mostrando a inserção no crânio / Crédito: Divulgação/ R.Paba

 

Claro que, para o cadáver submetido ao tratamento, já é tarde demais: esse procedimento era destinado, na verdade, a proteger os vivos, supostamente servindo para impedir a propagação do transtorno. Vale mencionar aqui que a epilepsia NÃO é contagiosa, mas as pessoas da Antiguidade não sabiam disso. 

A ideia de fazer buracos no esqueleto de alguém estaria ainda conectada com o conceito de "miasma" (ou "ar ruim"), que causaria uma série de males de acordo com crendices que teriam se originado dos gregos, e posteriormente se disseminado entre os povos do Mediterrâneo. Nesse contexto, os orifícios serviriam para dispersar esses ares tóxicos. 

Causa de morte 

Fotografias do crânio / Crédito: Divulgação/ R.Paba

 

Os restos mortais descobertos no cemitério de Monte Luna possuíam ainda uma segunda lesão traumática em seu crânio, essa surgida como resultado de uma queda tão forte que teria provavelmente sido a causa de morte da jovem.

Um ataque epiléptico, por exemplo, poderia provocar um acidente assim, de forma que essa é outra evidência que sustenta a teoria dos pesquisadores de que a mulher de 2 mil anos sofria com o transtorno em vida. 


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