Em 1982, o Maluco Beleza quase foi linchado após uma multidão acreditar que ele fosse um sósia de si mesmo
Caio Tortamano Publicado em 23/05/2020, às 16h00 - Atualizado em 10/10/2021, às 10h10
Na Grande São Paulo, mais especificamente na cidade de Caieiras, em 1982, um show de Raul Seixas prometia alegrar a noite dos fãs do cantor. No entanto, para uma plateia de mais de 300 pessoas, o Maluco Beleza não parecia ser quem dizia ser: os admiradores acreditavam que estavam diante de um impostor.
Imediatamente, pessoas começaram a jogar garrafas e latinhas de cerveja na direção do artista, que confessou muita surpresa em reportagem feita na época pela TV Globo: “Começaram a tacar coisas em mim, e comecei a ficar nervoso. Acho que foi um boato, que não era eu que tava cantando.”.
A situação ficou tão desfavorável ao cantor — que em toda música era vaiado e sofria ameaças de pessoas inconformadas com o “impostor” — que precisou se dirigir até o seu camarim e abandonar a apresentação.
A casa de um inspetor de polícia era próxima ao local que estava ocorrendo a apresentação. De imediato, fãs decidiram ir até a residência para pedir uma ação do policial. Vendo a comoção das pessoas, e movido pela vontade de se afirmar com a população, mandou autoridades prenderem o artista. Em seguida, se dirigiu até a delegacia onde Raul tinha sido levado.
Afirmando conhecer o verdadeiro Seixas, o delegado pediu os documentos do suposto impostor antes de encontrá-lo. Raul não estava levando nenhum comprovante de identidade consigo, e começou a receber agressões a cada resposta que dava.
Assim que o homem viu Seixas já afirmou que não era ele, e puxou a barba do “sósia” para ver se era verdadeira. Em uma tentativa de descaracterizar a imagem eternizada do artista, tirou os óculos do rapaz e começou com agressões, deixando marcas em seus braços e no olho.
O que fazer com um suposto sósia de um cantor famoso? Óbvio, obrigá-lo a cantar para que prove a sua identidade, e foi isso que os policiais fizeram. Além disso, talvez o teste mais esdrúxulo ao que Raul foi submetido certamente foi quando perguntaram onde que Chacrinha tinha nascido — como se fosse uma obrigação específica de Seixas saber de um fato tão específico.
O homem só conseguiu sua liberação depois de insistir muito para que conseguisse uma ligação para sua mulher, Ângela, depois de duas horas sendo maltratado. A esposa se apresentou com os documentos do marido, todos comprovando que, de fato, era Raul Seixas.
Em uma pequena coletiva, Raul e Ângela decidiram esclarecer o caso de uma vez por todas. O cantor revelou que os próprios promotores do show em Caieiras influenciaram o público para que não achassem que ele era o verdadeiro cantor. Supostamente, isso teria sido feito para que não pagassem o cachê de Seixas.
Apesar de não viver o melhor momento na vida pessoal e nem na carreira, abusando das drogas e do álcool, a emissão de um cheque sem fundos para o pagamento do show fortaleciam a versão da vítima. Os organizadores e o prefeito da cidade foram processados por danos causados ao cantor.
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