Nosso país, possuí grandes dimensões territoriais e possui uma vasta diversidade cultural, portanto, não há outro lugar no mundo onde se pode celebrar maior quantidade de festividades natalinas
M. R. Terci Publicado em 24/11/2019, às 07h00
Antes de ser uma data comemorativa de caráter religioso, o Natal é uma manifestação cultural, portanto, todos os seus valores positivos – espírito festivo, harmonia, caridade, paz e entendimento – devem ser celebrados sem distinção.
Se por um lado o termo cultura se refere ao conjunto de costumes e tradições de um povo, que foram transmitidos de geração para geração, a diversidade cultural representa o conjunto de distintas culturas. E não há outro lugar no mundo onde se pode celebrar mais a diversidade cultural como no Brasil.
Nosso país, possuí grandes dimensões territoriais, de uma ponta a outra, é de uma grandeza continental e, portanto, possui uma vasta diversidade cultural disseminada através dos tempos por todo território por colonizadores europeus, pela população indígena, pelos escravos africanos, por imigrantes portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses.
Dezembro. Sob o verão dos trópicos, algumas regiões brasileiras, imunes aos festejos realizados nos grandes centros de consumo metropolitanos, fazem um Natal diferenciado e mais adequado à nossa cultura popular.
Nesse ciclo natalino, que se inicia em 24 de dezembro e se estende até 6 de janeiro, com a Festa de Reis, enquanto a maior parte das pessoas enfeitam seus lares com símbolos natalinos como o Papai Noel, trenós, renas e pinheiros, bois de pano e de couro, cangaceiros, reis, rainhas, palhaços, embaixadoras e pastoras saúdam o nascimento do Salvador com fé, ingenuidade e a celebrada alegria brasileira.
Essas manifestações foram o resultado das trocas culturais entre os indígenas, africanos e portugueses e, aliadas às peculiaridades regionais, são encenadas na época de Natal em diversas localidades do Brasil.
O Bumba-Meu-Boi, apesar de ter sua tradição ligada às festas juninas do Maranhão, Piauí, Pará e em alguns municípios do Rio de Janeiro, aparece com força nas festas natalinas nos Estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Nesse espetáculo, além do boi e de dois vaqueiros, aparecem marinheiros, soldados, cangaceiros, palhaços, cavalo-marinhos, emas, caipora, alma do outro mundo, jaguarás e guaribas, frutos da criatividade e imaginação popular.
Em Minas Gerais e São Paulo, com maior representatividade no Nordeste, existem os Reisados e Guerreiros, cujas origens remontam ao vasto ciclo de representações derivadas das janeiras e reis portugueses, autos comemorativos do Natal.
Os personagens saem às ruas usando saiotes axadrezados, capas de cetim enfeitadas com galões dourados e prateados, guarda-peitos guarnecidos de lantejoulas, contas de aljôfar e espelhinhos brilhantes, usando nas cabeças chapéus ornamentados com espelhos redondos, flores e fitas coloridas, sempre cantando e dançando, ao som da sanfona, tambor e pandeiros.
Em Alagoas, a festa dos guerreiros é variação do reisado, muito embora seja mais rica em trajes e episódios e reunindo influências dos caboclinhos e pastoris.
Na Paraíba, Rio grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, sob influência portuguesa é praticado o Auto do Pastoril ou Pastorinhas como é regionalmente conhecido, diferenciando dos demais apenas o aspecto que seus integrantes levam às mãos, arcos ou bastões cobertos de flores e fitas coloridas.
Na Amazônia, alguns povos indígenas não possuem celebrações natalinas próprias, mas passaram a festejar a data pós a cristianização dos povos ainda no período colonial brasileiro. Eles rezam, leem a Bíblia, cantam músicas natalinas na própria língua e celebram missas onde a hóstia é substituída pela tapioca.
Nas comunidades quilombolas, celebra-se o Natal à maneira e modos tradicionalmente cristãos, mas várias dessas comunidades incluem, em suas festas, atividades comuns à cultura africana.
Povos que migraram para a Amazônia, como os japoneses, tiveram suas festas de fim de ano influenciadas pelo Natal após a Segunda Guerra Mundial, inobstante seu significado religioso ser pouco conhecido, posto serem o xintoísmo e o budismo predominantes na sociedade japonesa.
Já entre os imigrantes judeus, o calendário de fim de ano é diferente e não se comemora o Natal. Nessa data, comemora-se com igual espírito de paz, fraternidade e união, contudo, a restauração do Templo Sagrado de Jerusalém após sua destruição.
Dessa forma, no Brasil, quando o assunto é diversidade cultural, o Natal transcende o aspecto religioso, ultrapassa fronteiras, ignora raça, abstrai a ideologia e evoca sentimentos de amor, amizade, solidariedade, respeito ao próximo, fraternidade e fé.
Mesmo com a excessiva comercialização refletida nessa época em todo o mundo, ainda são esses os aspectos culturais mais explícitos e que prevalecem entre os povos e nações abrigadas nesse grande continente verde, amarelo, azul e branco.
M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.
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