Criado no sudoeste da África, o lugar era utilizado para aprisionar inimigos dos colonos que tomavam conta da região
Pamela Malva Publicado em 28/11/2020, às 11h00
Durante longos anos, entre o final do século 19 e o começo do 20, o continente africano foi tomado por países europeus. Britânicos, alemães, portugueses e vários outros povos conhecidos pela colonização reivindicaram terras para si.
Tamanha foi a movimentação dos europeus que, segundo estudo publicado pelo doutor Saul David, em 2011, cerca de 90% da África era governada por colônias nos anos 1900. Tomada pela Alemanha desde 1880, então, a tribo Herero se rebelou.
Morando no sudoeste do continente, onde hoje fica a Namíbia, o grupo já não aguentava mais a violência física e sexual, a tomada de terras e o roubo de gado. Por isso, os membros rebeldes se uniram aos Nama e criaram uma revolução, em 1904.
Indignada com o movimento opositor, a Alemanha decidiu que deveria tomar providências rápidas e severas. Foi assim que nasceu a Ilha do Tubarão, um tipo de campo concentração criado pelos colonos, décadas antes da Segunda Guerra Mundial.
Destino fatal
Também conhecida como a Ilha da Morte, a criação alemã era o destino final de rebeldes herero e Namaqua, ou Nama. Lá, eles eram punidos pela oposição ao colonialismo através de trabalho forçado, totura e muita fome.
Em dias normais, por exemplo, os africanos presos na Ilha do Tubarão eram obrigados a construir um porto e uma linha ferroviária no lugar. Depois do trabalho árduo, recebiam uma porção ínfima de arroz cru e farinha como alimento.
Ainda que, inicialmente, o governador da colônia da Alemanha, Major Theodor Leutwein, tenha buscado conversar com os reacionários, a ilha foi construída, segundo ordens do Estado-Maior em Berlim, que desejava sufocar o movimento rebelde.
Xxx
Baseando-se no modelo de punição utilizado pelas colônias britânicas durante a guerra sul-africana, os alemães criaram o Konzentrationslager. Traduzida do alemão para o inglês, a palavra literalmente significa “campo de concentração”.
Faltava, no entanto, retirar o governador pacifista do poder. Assim, Leutwein foi destituído, suas tropas recuaram e o general Lothar von Trotha assumiu o mais alto posto da colônia, em abril de 1904.
Muito além de controlar a região africana, no entanto, o novo governador ainda ordenou que todos os herero e Nama fossem expulsos da Alemanha. Se algum deles fosse visto dentro de limites do país, tal indivíduo deveria ser fuzilado.
Campo dos horrores
Logo depois que von Troth assumiu o poder, a Ilha Tubarão tornou-se o pior pesadelo das tribos dominadas pelos alemães. Nesse momento, além do trabalho braçal, os africanos ainda tinham de enterrar dezenas de parentes e amigos.
Quando faziam algo de errado, os prisioneiros eram castigados com chicotadas ou com tiros impiedosos. Mas nada superava o número de mortes. Dados coletados por um missionário na ilha indicam que 18 pessoas eram mortas todas as noites.
No final, com tamanha crueldade, estima-se que 80% dos presos na Ilha Tubarão morreram — fosse pela violência, ou pelo estilo de vida precário. De todos os mortos, cerca de 80% dos herero e 50% dos nama foram assassinados pelos alemães.
Herança dolorida
Até mesmo depois da morte, a violência continuava. As mulheres herero, por exemplo, foram obrigadas a raspar a carne de mais de 3 mil crânios, para que os ossos fossem expostos na Alemanha, como forma de expor a supremacia ariana.
Morando na Ilha ao lado dos comandantes, o médico alemão Eugen Fischer ainda fazia testes em diversos prisioneiros. Os mais comuns resumiam-se em injetar varíola e tuberculose nos pacientes, ou realizar esterilizações forçadas.
Décadas mais tarde, todas as heranças da Ilha do Tubarão foram retomadas por um segundo regime que buscava impor o poder alemão sobre grupos tidos como inferiores. Assim, a herança do primeiro campo de concentração se mostra tanto no genocídio colonial, quanto na Segunda Guerra Mundial.
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