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A morte é uma festa: Os ritos funerários mais alegres do mundo

Strippers em cima do caixão, comediantes, cantores pop, fantasias exóticas, caixão em forma de bicho, bebedeiras homéricas e desfile de banda de jazz, vale tudo quando o assunto é festa no funeral

M. R. Terci Publicado em 15/09/2019, às 07h00

Levamos a vida e aonde a vida nos leva? Qualquer que seja a resposta, o ponto de parada é o último suspiro. A morte é um tema delicado, considerado tão funesto e tenebroso que todos nós evitamos falar abertamente. Mas falar da morte é falar da vida; é justamente quando nos permitimos falar sobre nossa particular finitude que aprendemos mais sobre a plenitude e significado da vida.

As formas de abordar a questão são peculiares em cada canto do mundo e toda cultura tem seu jeito de lidar com a perda de um ente querido. Quando muito recente, o luto se manifesta das mais variadas formas, obedecendo um padrão cultural, transmitido de geração para geração ou, manifestadamente espontâneo e diferente, como ocorreu há dois anos, na Venezuela, quando algumas garotas do bairro de La Guarita, em Caracas, improvisaram uma demonstração de que um funeral podia ser também um momento de celebração e alegria, dançando sobre o caixão do morto ao som do reggaeton Tumba La Casa – fato noticiado pelo jornal britânico Daily Mail.

Venham comigo, pelos caminhos mais escuros da história, beber o morto, rir, cantar, dançar e vestir fantasias extravagantes para comemorar esse momento que é único na vida de uma pessoa.

China

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Música alta, strippers dançando e o público gritando e assoviando, tais são os funerais e procissões fúnebres em algumas regiões rurais de Taiwan. O governo bem que tenta coibir a prática, renovando restrições e apenando multas, mas a prática tem se mostrado resiliente. Alguns afirmam que as strippers servem para aumentar o número de pessoas presentes no funeral, uma vez que grandes multidões são vistas como uma marca de honra para o falecido.

Outros aduzem que em algumas culturas locais, a dança com elementos eróticos é utilizada para demonstrar que, em vida, o desejo do finado era ser abençoado com muitas crianças. As famílias rurais chinesas, mais inclinadas a demonstrar sua riqueza, pagam muitas vezes valores superiores à renda anual de um cidadão comum para as dançarinas e também para atores, cantores pop e comediantes que confortam e divertem os enlutados.

Irlanda

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Os pubs são parte fundamental da cultura irlandesa. Para se ter uma ideia, se você quer saber onde fica um endereço, seja qual for a parte do país, tenha como referência o nome do pub mais próximo a ele, qualquer cidadão irlandês saberá lhe indicar a direção. É o local obrigatório para reuniões de negócios, recepções de casamento, aniversários e principalmente os funerais. No geral, o velório de um irlandês é melhor que o casamento.

A família convida os amigos mais próximos para o pub preferido do finado, muita comida, muita cerveja e uísque, muitas histórias alegres, risos e música ao vivo. Nos pubs, a morte de alguém é motivo para reunir os familiares e amigos para beber as boas memórias do falecido.

Gana

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 Nação situada no Golfo da Guiné, na África Ocidental, é conhecida pela variada vida selvagem, por seus fortes antigos e pelas praias paradisíacas isoladas. Em um lugar tão vivo, a morte não poderia deixar de ser considerada outra coisa senão o início de uma nova vida.

O morto recebe um ritual feliz e entusiasmado e, após a celebração, é enterrado em um caixão personalizado, que serve para representar o antigo trabalho do finado ou as coisas que ele amava. Tradicionalmente, no país, existem carpintarias especializadas em construir esse tipo de esquife, todos muito alegres e coloridos com forma de animais, ferramentas, livros, instrumentos musicais e até mesmo garrafas de cerveja.

Nova Orleans

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Ovos e bacon, Sol e Lua, Nova Orleans e jazz; algumas coisas são simplesmente indissociáveis. A lista de atividades menos conhecidas no pantanoso estado sulista da Louisiana é deliciosamente imensa para quem vem de fora dos Estados Unidos, mas nenhuma é mais festiva e provocativa que os funerais de jazz em Nova Orleans. Nos tradicionais enterros, uma banda acompanha o féretro durante todo o percurso, da casa do finado ao cemitério.

A multidão mantém semblantes lúgubres, sérios e desconsolados, enquanto músicas de jazz, tristes e dolorosas são tocadas o tempo todo. Porém, uma vez que o caixão esteja debaixo da terra, a banda começa a tocar músicas alegres e vibrantes de maneira a lembrar os bons momentos da vida do defunto. A festa começa sem hora para terminar, todos dançam, bebem e se fartam de comidas exóticas. É um funeral que começa com as pessoas chorando e termina com risadas calamitosas.

Uganda

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País considerado verdadeiro caldeirão cultural com mais de 30 diferentes línguas indígenas pertencentes a cinco grupos linguísticos distintos. Para alguns de seus povos, os ritos funerários são celebrados apenas pelos nobres e comumente paralisam toda expressão de vida, desde o riso ao sexo, dentro de uma comunidade.

No entanto, a maioria dos ritos fúnebres em muitas tribos e culturas do país, são marcados como maneira de celebrar a vida do falecido, como no caso dos Acholi, que vivem no norte de Uganda e na parte oriental do sul do Sudão.

O funeral marca o dia em que a morte é expulsa da casa e o espírito do falecido é trazido de volta. Toda família e todos os amigos do finado são convidados para uma divertida e ininterrupta festa de dois dias, onde dançam, comem e bebem muito álcool.

México

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Na cultura mexicana, a morte é vista como uma forma natural de se libertar das vaidades e futilidades da vida. O Dia de Finados no México é uma das mais populares e alegres festas do mundo, comemorado com muito entusiasmo, com direito à festivais repletos de música, comidas tradicionais e fantasias da tradição asteca e católica. Uma celebração que caiu no gosto geral com muitos símiles replicados pelo mundo, afinal, quem poderia ficar ofendido com um evento colorido, que está incluído na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO?

Bem, alguém ficou. Recentemente, uma celebração do Dia dos Mortos mexicano foi proibida na Praça Vermelha, em Moscou. As razões não foram reveladas e causam estranheza. No campo, o cidadão russo tem uma atitude mais séria e rigorosa quanto ao luto, mas na maior parte das grandes cidades, os funerais são alegres com roupas coloridas. Na Rússia, por exemplo, a roupa preta, tão utilizada no Brasil, não é bem-vinda.


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.

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