Ilustração medieval de mulheres - Divulgação
Idade Média

Mitos e métodos peculiares: a saga da menstruação na Idade Média

Muitos acreditavam que o sangue decorrente do período menstrual era tóxico e venenoso, e alguns médicos também consideravam o fluxo como uma “doença” mensal

Isabela Barreiros Publicado em 13/12/2020, às 10h00

Os tabus que cercam a menstruação ainda são grandes nos dias de hoje, mas na Idade Média eles com certeza eram ainda maiores. A misoginia, que muitas vezes impedem as mulheres de conhecerem os próprios corpos, unida ao conservadorismo de muitas sociedades, fizeram com que o tema fosse praticamente censurado.

E o desconhecimento leva à ignorância. O período menstrual estava cercado de mitos e algumas ideias bizarras sobre o que ele representaria. Algumas dessas narrativas imaginativas sem comprovação científica ainda existem nos dias de hoje: quem nunca ouviu que não deveria lavar o cabelo enquanto estivesse menstruada?

Na Idade Média, um pensamento que cercava a menstruação era a de que seu sangue era completamente venenoso. Muitos homens repudiavam esse momento, acreditando que seu sangue teria um poder do mal tão forte capaz de apodrecer colheitas e vinhos, além de sua capacidade de supostamente deixar animais em estado de loucura.

Por esse motivo, sexo durante esse período não era indicado. Por mais que se tratasse apenas de um mito popular, pessoas de fato consideravam que o fluxo de sangue das mulheres era tóxico. Isso fazia com que o ato sexual fosse desencorajado, porque acreditava-se que o sangue poderia queimar o pênis do homem.

Somente a partir desse discurso que considera o fluxo menstrual como algo tóxico e venenoso é possível perceber que a relação das moças com esse período provavelmente não era uma das mais fáceis. Ora, se o ato de menstruar era considerado impuro, algo sujo e poluído, como poderiam entendê-lo sem preconceitos?

A “ciência” da época também não ajudava. Na verdade, ela piorava toda a situação. Alguns considerados “especialistas” do período julgavam que a menstruação era uma doença que aflorava no corpo da mulher a cada mês. Nada sobre ela fazer parte do ciclo reprodutivo do organismo feminino.

Nessa questão, alguns médicos do período também supunham que se uma mulher não passasse por esse processo, o sangue que deveria sair pela vagina teria que sair de outra forma. Então, eles removiam sangue diretamente das veias da moça que não teve seu fluxo daquele mês. Esse método era aplicado logo após a tentativa de fazer o sangue vir colocando lã com pepino e leite dentro de seu órgão genital.

Crédito: Divulgação

 

Como, então, as mulheres de fato lidavam com esse período? Provavelmente com muita vergonha e constrangimento. Se hoje temos absorventes, coletores menstruais e até mesmo calcinhas absorventes, naquela época não havia nada nem ao menos parecido. O que muitas faziam era usar tecidos como uma espécie de absorventes.

O material escolhido geralmente era o linho por sua maior capacidade de absorção. Mas, ainda assim, existe uma questão: onde colocar o tecido, sendo que não existiam nem ao menos calcinhas na época? Bom, as moças provavelmente o penduravam com algo parecido com o cinto em sua cintura e pernas. 

Esse método com certeza não era muito seguro, o que fazia com que os tecidos muitas vezes caíssem ao chão, revelando o sangue menstrual. Episódios como esse faziam com que os “absorventes” improvisados fossem chamados de “tampão monstruoso” por muitas pessoas.

Algumas mulheres, no entanto, não usavam esse recurso para conter o fluxo da menstruação, o que fazia com que o sangue apenas escorressem por suas pernas. Pesquisadores apontam que a popularidade de roupas de cor vermelha durante a Idade Média se decorresse desse fato. Também era habitual que elas carregassem noz-moscada ou flores secas para esconder o cheiro. 

Nos dias de hoje, as coisas mudaram. Mulheres podem escolher entre diversos tipos de absorventes e métodos de contracepção que às vezes até mesmo impedem a menstruação de acontecer. Ainda assim, o tabu acerca do tema ainda não sumiu totalmente, o que revela que a misoginia ainda está presente na sociedade.


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